domingo, 15 de março de 2015

COMENTÁRIO - SCARCELA JORGE - DOMINGO, 15 DE MARÇO DE 2015

COMENTÁRIO.
Scarcela Jorge.

MECANISMO ESTRUTURAL.

Nobres:
O “progresso” registrado no âmbito da investigação e da punição de casos de corrupção está longe de se confirmar numa outra esfera, fundamental para a redução dos prejuízos financeiros e morais para o país: a da prevenção. Em recente depoimento à CPI da Petrobras, o ex-presidente da empresa Sérgio Gabrielli defendeu a qualidade dos mecanismos internos de controle em seu período de gestão. O fato de um réu confesso como o ex-gerente Pedro Barusco ter admitido, na mesma CPI, o desvio de recursos na estatal por 18 anos constituiria assim “um caso de polícia”. Na realidade, a prevenção da corrupção no setor público é precária, especialmente nas empresas de economia mista, pelas quais circulam volumes elevados de dinheiro num cipoal de contratos eivados de vícios. Em todo o país, há dezenas de organismos com atribuições de controle. É o caso, em âmbito federal, da Advocacia-Geral da União (AGU), Controladoria-Geral da União (CGU), Tribunal de Contas da União (TCU) e Ministério Público. Em boa parte, porém, muitos desses órgãos carecem de estrutura adequada, o que os leva a agir apenas por amostragem ou diante de denúncias de maior repercussão. E muitos deles tiveram suas atribuições desvirtuadas em consequência de indicações políticas para suas diretorias, além de uma preocupação excessiva com padrões salariais cada vez mais elevados para seus quadros. Isso ajuda a explicar como o assalto ao dinheiro público se mantém por tanto tempo, estruturado sob a forma de verdadeiras máfias e a Petrobras não se constitui num caso isolado. A desfaçatez corre tão solta, que, mesmo depois de deflagrada a Operação Lava-Jato, a roubalheira continuou livre. É como se os corruptos, por suas ligações importantes no meio empresarial e o apadrinhamento político, se considerassem imunes à lei. Só depois das prisões de figuras importantes é que a Petrobras se dispôs a criar uma diretoria de compliance, ou controle interno. Em outras empresas e órgãos públicos, a prevenção aos abusos com dinheiro dos contribuintes, de maneira geral, continua ocorrendo apenas de maneira aleatória, dando margem a deformações em milhares de contratos. A sociedade brasileira evidencia a cada dia que não quer mais conviver com uma sensação de descontrole no setor público, como percebe nos chamamentos para essa segunda onda de manifestações de rua. O país, que avançou na forma de investigar e punir a corrupção, precisa se mostrar capaz também de preveni-la de forma sistemática e eficiente.
Antônio Scarcela Jorge.

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