Ex-dirigente falou que ninguém ocupava o cargo por 'capacidade técnica'.
Delator disse acreditar que outros diretores possam ter recebido propina.
Delator disse acreditar que outros diretores possam ter recebido propina.
O ex-diretor de Refino e
Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou nesta sexta-feira (13), em depoimento à Justiça Federal do
Paraná, que, durante o período em que ele atuou no alto escalão da estatal,
nenhum executivo alcançava um cargo na diretoria sem “dar algo em troca” a
partidos políticos. Investigado pela Polícia Federal (PF) na Operação Lava Jato, Costa fez acordo de delação premiada com o Ministério
Público Federal e tem colaborado com informações
sobre o esquema de corrupção na petroleira.
“Não se chega ou não se chegava a
diretor da Petrobras sem apoio político. Nenhum partido dá apoio político só pelos belos
olhos daquela pessoa ou pela capacidade técnica. Sempre tem que ter alguma
coisa em troca”, disse o ex-dirigente.
A declaração foi dada quando o
juiz perguntou se o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor
Cerveró também recebia propina para viabilizar contratos entre a estatal e
empresas estrangeiras. Ao responder, Costa ponderou que, dentro da companhia,
comentava-se que Cerveró também recebia suborno para facilitar as contratações
de seu setor.
“O que se comentava é que na
diretoria internacional, que tinha apoio do PMDB e do PT, esses partidos teriam
alguns benefícios. Pelos comentários internamente o diretor Cerveró também
recebia pagamentos”, observou Paulo Roberto Costa. Ao juiz federal, o ex-diretor
voltou a dizer que recebeu US$ 1,5 milhão em propina para não criar entraves à
compra da refinaria de Pasadena, no Texas, negócio sob suspeita de
superfaturamento. Sem citar nomes, ele afirmou acreditar que outros diretores
também receberam dinheiro. “Se eu recebi, possivelmente outros diretores
receberam. Porque que somente eu receberia?”, questionou.
Em 2006, a Petrobras pagou US$
360 milhões por 50% da refinaria (US$ 190 milhões pelos papéis e US$ 170
milhões pelo petróleo que estava em Pasadena). O valor é muito superior ao que
foi pago um ano antes pela belga Astra Oil pela refinaria inteira: US$ 42,5
milhões.
Em 2008, a Petrobras e a Astra
Oil se desentenderam, e uma decisão judicial obrigou a estatal brasileira a
comprar a parte que pertencia à empresa belga. Assim, a aquisição da refinaria
de Pasadena acabou custando US$ 1,18 bilhão à petroleira nacional, mais de 27
vezes o que a Astra teve de desembolsar.
'Fernando Baiano'
No depoimento desta sexta à
Justiça Federal, Paulo Roberto Costa também contou que
se encontrava com o lobista Fernando Soares, conhecido como
"Fernando Baiano", somente para discutir pagamentos de propina.
Preso em Curitiba, Baiano é
apontado pelo próprio Paulo Roberto Costa como operador do PMDB no esquema de
corrupção que atuava na Petrobras. O PMDB nega a acusação.
O G1 procurou o advogado de Fernando Baiano, mas até a última
atualização desta reportagem não obteve retorno.
Questionado pelo juiz federal
Sérgio Moro sobre se os encontros com Baiano haviam ocorrido somente para
tratar de "pagamentos de vantagem indevida" e "propina",
Costa foi taxativo, dizendo que sim.
Logo em seguida, o magistrado
questionou se em algum encontro houve discussão técnica sobre contratos da
Petrobras. Costa, então, disse que não.
"Sempre propina,
então?", questionou Moro. "É, e visão de futuro, de projetos que
poderiam ser feitos. Algumas vezes ele, Baiano mencionou a empresa que ele
representava, se tinha alguma atividade que a Petrobras podia utilizar a
empresa espanhola", respondeu o ex-dirigente da petroleira.
Fonte: Agência O Globo.
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