sábado, 7 de fevereiro de 2015

CORRUPÇÃO DO SÉCULO

 OS DESAFIOS DE BENDINE NA PRESIDÊNCIA DA PETROBRAS.

Lista inclui resgate da credibilidade, autonomia e baixas por corrupção.
Então presidente do BB, sucessor de Graça Foster foi anunciado nesta sexta.

Aldemir Bendine, sucessor de Graça Foster na Presidência da Petrobras, irá encontrar uma empresa desacreditada, altamente endividada, com dificuldades de caixa para financiar os seus novos projetos e no centro do “maior caso de corrupção da história do Brasil", conforme definiu o procurador do Tribunal de Contas da União (TCU), Julio Marcelo de Oliveira.
Entre os principais desafios do novo presidente – que até então presidia o Banco do Brasil – estão formar um novo time de executivos de primeiro escalão; implementar um novo modelo de gestão com mais autonomia e transparência; revisar o plano de investimentos e desinvestimentos (venda de ativos) da empresa; e dimensionar o rombo provocado pela corrupção bem como eventuais perdas que a companhia pode sofrer no futuro em decorrência das investigações da Operação Lava Jato e das ações movidas por acionistas nos Estados Unidos que acusam empresa de ter divulgado informações enganosas e de ter superfaturado o valor de suas propriedades. Para o economista Celso Toledo, diretor da LCA, o maior desafio do novo presidente será conseguir garantir uma gestão com autonomia, sem interferência do acionista majoritário, o governo federal. “O grande desafio é gerir a empresa com o objetivo de maximizar o lucro e evitar que a companhia seja usada politicamente”, diz.

“A nova direção da Petrobras precisar ter autonomia para gerir a empresa olhando para o minoritário e não como foi feito nos últimos anos onde a gestão foi feita como se a empresa fosse estatal”, completa Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Bendine precisará restaurar a confiança de parceiros e investidores. Essa reconstrução da credibilidade passa, em parte, por evitar que a empresa perca o grau de investimento, o que dificultaria a captação de recursos para grandes projetos.
Segundo André Pimentel, sócio e CEO da consultoria de gestão Performa Partners, o resgate da credibilidade não será imediato. “Os investidores perderam a confiança de que a Petrobras é capaz de ser gerida como negócio e gerar resultados. O desafio mais importante é fazer com que a empresa recupere a sua independência. Ou seja, fazer com que ela seja capaz de ser gerida com base em critérios empresariais e não por conveniência ou necessidades políticas”, diz.

Em 3 anos, as ações da Petrobras se desvalorizaram mais de 50% e a companhia encolheu mais de R$ 200 bilhões na bolsa, caindo para o 4º lugar no ranking das maiores da Bovespa.

“A retomada da credibilidade vai acontecer à medida que o mercado perceba e a nova diretoria dê mostras de que vai ter mais autonomia para trabalhar”, avalia o diretor do CBIE. O futuro presidente assumirá uma empresa que ainda não conseguiu publicar o balanço auditado do 3º trimestre de 2014 em razão da dificuldade de calcular o tamanho exato do rombo causado pela corrupção.

A divulgação do balanço auditado com as baixas contábeis é apontada pelos analistas como a prioridade operacional número 1 para a nova diretoria, uma vez que credores podem pedir a antecipação do pagamento de títulos da dívida da empresa caso o resultado financeiro de 2014 não for auditado e publicado até junho.

Caberá ao novo presidente anunciar o primeiro cálculo oficial das perdas provocadas pelos atos ilícitos, desvios e falhas ocorridas no período investigado pela Lava Jato.

Cálculo apresentado por Graça Foster durante a última reunião do Conselho de Administração indicava a necessidade de uma baixa contábil de R$ 88,6 bilhões nos ativos da companhia. No entanto, o conselho optou por não ratificar o cálculo por entender que todas as variáveis responsáveis pelas perdas ainda não são conhecidas, já que as investigações estão em curso.

Celso Toledo, da LCA, avalia que o desafio é enorme, uma vez que a divulgação precisa ser feita rapidamente, mas também ser precisa. “A demora na divulgação só gera especulação de que talvez o gorila que está no armário é mais feio do que o real”, diz.

Independente do escândalo de corrupção, os analistas destacam que a Petrobras passa por uma gravíssima crise financeira. O endividamento líquido da companhia saltou de um patamar de R$ 100 bilhões no início de 2012 para mais de R$ 260 bilhões no final de setembro de 2014.

“Não se sabe como estão as contas da Petrobras exatamente. A empresa tem uma restrição financeira fortíssima, o que exigirá um trabalho muito pesado de turnaround (em português, algo como ‘dar a volta’)”, afirma André Pimentel. Caberá à nova diretoria rever a capacidade de financiamento dos projetos em curso. “As condições para ampliar o endividamento são muito restritivas e limitadas. A nova diretoria terá que olhar a geração de caixa, poderá tentar uma renegociação de dívidas e, eventualmente, poderá ter que chamar o capital dos acionistas”, avalia Celso Toledo.

Outro grande desafio do novo presidente da Petrobras será revisar o plano estratégico de negócios para os próximos anos. Em razão das dificuldades de caixa, a empresa desacelerou o ritmo de algumas obras, desistiu de duas refinarias, no Ceará e Maranhão, e reduziu as atividades de exploração “ao mínimo”.
Antes da renúncia coletiva, a diretoria anunciou a redução de 25% nos investimentos, para US$ 42 bilhões por ano, além de um desinvestimento (venda de ativos) de US$ 3 bilhões em 2015. Inicialmente, a empresa previa investimentos de US$ 220,6 bilhões para o período entre 2014. e 2018.

Agora, estes números deverão ser revistos. Para os analistas, será uma ótima oportunidade para a companhia reavaliar as áreas que merecer ter mais ou menos investimento, e aquelas que a petroleira pode se desfazer.

“O desafio maior de todos é o governo entender que este modelo de Petrobras, com 400 mil funcionários e um gigantismo enorme, com termelétrica, posto de combustível, etanol, fertilizante, etc., não se sustenta mais. É preciso refundar esta empresa”, diz Adriano Pires.

Caberá à nova diretoria ainda responder a todos os questionamentos que a empresa enfrenta na Justiça brasileira e no exterior. Fora do Brasil, a Securities and Exchange Commission (SEC), que regula o mercado de capitais no país, abriu uma investigação sobre a Petrobras. A empresa ainda enfrenta ações movidas por acionistas nos Estados Unidos que alegam ter adquirido papéis da Petrobras com preços inflados por contratos superfaturados.

André Pimentel, da Performa Partners, afirma que talvez a empresa tenha que fazer uma reserva de recursos para se preparar para possíveis indenizações determinadas por decisões judicias. “É um risco que tem de ser de alguma forma provisionada nos resultados da companhia. É preciso avaliar os riscos envolvidos e começar a provisionar”, diz.

A produção de petróleo e de derivados da Petrobras cresceu em 2014, mas o Brasil continua dependente da importação de combustíveis para atender a demanda interna.

Desde 2011, o país voltou a consumir mais do que produz, perdendo a autossuficiência, comemorada pela Petrobras e pelo governo em 2006, quando a produção de petróleo equiparou-se ao volume de derivados consumidos à época no país.

A previsão da Petrobras era que a companhia poderia reconquistar a autossuficiência em volume de petróleo produzido (quando esse volume alcança o de derivados consumidos) em 2015. No final de janeiro, no entanto, a Petrobras anunciou a redução dos investimentos e a desaceleração do ritmo de projetos de exploração e refino em razão da atual situação financeira da companhia.

Levantamento do CBIE mostra que o volume de importação de derivados de petróleo cresceu 2,2% em 2014, para 196,74 milhos de barris.
Fonte: O Globo.


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