Doleiro também afirmou ter pago propina a Dirceu e a João Vaccari Neto.
Segundo ele, Dirceu era chamado de 'Bob' e usou avião de Camargo.
Segundo ele, Dirceu era chamado de 'Bob' e usou avião de Camargo.
Em acordo de delação premiada com
o Ministério Público Federal (MPF), o doleiro Alberto Youssef afirmou ter
intermediado pagamento de propina das empresas Camargo Corrêa e Mitsui Toyo ao
Partido dos Trabalhadores (PT) por meio do ex-ministro José Dirceu e do
tesoureiro petista João Vaccari Neto. Em outro depoimento concedido no mesmo
mês à Polícia Federal (PF), Youssef disse que Dirceu e o ex-chefe da Casa Civil
Antônio Palocci eram "ligações" do executivo da Toyo Setal Júlio
Camargo com o Partido dos Trabalhadores (PT). Apontado como um dos
intermediários das propinas pagas no esquema de corrupção que atuava na Petrobras, Júlio Camargo é um dos delatores da Operação Lava Jato. As declarações
de Youssef foram dadas em uma série de depoimentos prestados à Polícia Federal
(PF) em outubro do ano passado e anexados nesta quinta-feira (12) no processo
da Lava Jato.
"Que o dinheiro entregue
pelo declarante [Youssef] em São Paulo servia para pagamentos da Camargo Corrêa
e da Mitsui Toyo ao Partido dos Trabalhadores, sendo que as pessoas indicadas
para efetivar os recebimentos à época eram João Vaccari e José
Dirceu"registrou a PF no depoimento prestado pelo doleiro em 10 de outubro
de 2014.
A Camargo Corrêa é uma das 16
empreiteiras suspeitas de terem formado um cartel para executar obras da
Petrobras, o chamado "clube" das empreiteiras. Já a empresa Mitsui
Toyo, representada por Júlio Camargo, fechou uma parceria com a Petrobras, em
2006, para a construção de navios-sonda e plataformas petrolíferas.
Preso desde março em Curitiba, o
doleiro relatou aos policiais federais, em 13 de outubro, que o executivo da
Toyo Setal tinha "ligações" com o PT, "notadamente" com
Dirceu e Palocci. Segundo Youssef, Camargo é "amigo" de José Dirceu.
Em nota divulgada no site de
Dirceu, a assessoria do ex-ministro afirmou que ele “repudia com veemência” as
declarações de Youssef de que teria recebido recursos ilícitos de Júlio Camargo
ou de “qualquer outra empresa investigada” na operação.
O ex-chefe da Casa Civil declarou
ainda no comunicado que nunca representou o PT em negociações com o empresário
ou com outra construtora e que, depois que deixou o primeiro escalão do governo
Luiz Inácio Lula da Silva, sempre viajou em aviões de carreira ou táxi aéreo.
“As declarações são mentirosas. O
próprio conteúdo da delação premiada confirma que Youssef não apresenta
qualquer prova nem sabe explicar qual seria a suposta participação de Dirceu”,
afirma a nota divulgada pela assessoria de Dirceu.
A Secretaria de Finanças do PT
publicou na qual informa que João Vaccari nega “veementemente” ter recebido
qualquer quantia em dinheiro por parte de Alberto Youssef. No comunicado, a legenda ressalta que são “absolutamente mentirosas”
as acusações feitas pelo doleiro.
“A afirmação de Youssef causa
profunda estranheza, pois sua contadora, Meire Bonfim Poza, declarou à CPI
Mista da Petrobras, no último dia 8 de outubro, que não conhece e que nunca fez
transações financeiras com Vaccari Neto”, diz a nota do PT.
Na última quinta-feira (5), o
presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse que todas as
doações feitas ao seu partido são
legais. O dirigente petista também garantiu que todas as contas da legenda
foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.
A construtora Camargo Corrêa
declarou por meio de nota oficial que "repudia as acusações sem
comprovação" e reitera que segue à disposição das autoridades. O
comunicado destaca que a empresa tem prestado as informações solicitadas pelas
autoridades para esclarecer os fatos e "demonstrar que estas acusações são
improcedentes”.
O G1 procurou o advogado de Palocci, mas até a última atualização
desta reportagem não havia obtido retorno. A direção da Mitsui Toyo não foi
encontrada.
Uso de avião.
No depoimento à PF, Youssef disse
ainda que Dirceu usou “diversas vezes” um avião de Júlio Camargo. O doleiro, no
entanto, não soube informar o motivo de o ex-ministro ter viajado na aeronave.
Ele relatou aos policiais que a utilização da aeronave ocorreu após Dirceu ter
deixado o comando da Casa Civil, em 2005. Alberto Youssef disse que acredita
que José
Dirceu tenha uma relação ‘muito boa’
com Júlio Camargo, pois aquele Dirceu utilizava a aeronave Citation Excel de
propriedade deste Camargo. Que, conforme já dito em termo anterior, Youssef destaca
ainda que Júlio Camargo possuía ligações com o Partido dos Trabalhadores – PT,
notadamente com José Dirceu e Antônio Palocci”, informou a Polícia Federal em
documento.
'Bob'
Alberto Youssef também contou à
Polícia Federal que teve acesso a um arquivo com senha mantido em um pen drive
por Franco Clemente Pinto, responsável, segundo ele, pela contabilidade dos
supostos pagamentos de propina e caixa dois do executivo da Toyo Setal. De
acordo com o doleiro, neste pen drive eram armazenadas todas as movimentações
financeiras de Júlio Camargo.
Youssef disse que eram utilizadas
siglas na "contabilidade ilícita" de Franco para se referir aos
destinatários de pagamentos irregulares. O doleiro destacou que ele próprio era
tratado como "Primo" na planilha. Já Dirceu, observou Youssef, era
chamado de “Bob”.
"Que afirma que Franco
utilizava um pen drive para armazenar todas as movimentações financeiras de
Júlio Camargo; que eram utilizadas siglas em tal contabilidade ilícita, sendo
que a do declarante era "Primo" e a de José Dirceu era
"Bob"; que o declarante viu várias vezes o arquivo do pen drive, que
era acessado por senha", relata outro trecho do depoimento de Alberto
Youssef.
Propina para partido.
Em depoimento à Justiça Federal
do Paraná, em outubro do ano passado, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto
Costa afirmou que parte da propina cobrada de fornecedores da estatal era
direcionada para atender a PT, PMDB e PP e foi
usada na campanha eleitoral de 2010. Na ocasião, o ex-dirigente da petroleira
relatou ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo processo da Lava Jato na
primeira instância, que as diretorias comandadas pelos três partidos recolhiam
propinas de 3% de todos os contratos. Costa explicou como funcionava a divisão
da propina entre as legendas partidárias.
Segundo o ex-diretor, o PT
recolhia para o seu caixa 100% da propina obtida em contratos das diretorias
que a sigla administrava, como, por exemplo, as de Serviços, Gás e Energia e
Exploração e Produção.
Preso em regime domiciliar no Rio
de Janeiro, Paulo Roberto Costa disse ainda que, se o contrato era de uma
diretoria que pertencia ao PP, o PT ficava com dois terços do valor e o
restante era repassado para a legenda aliada.
"Olha, em relação à
Diretoria de Serviços [comandada por Renato Duque], todos sabiam que 2%, dos 3%
[cobrados de propina], eram para atender ao PT, através da Diretoria de
Serviços. Outras diretorias, como Gás e Energia e Exploração e Produção, também
eram PT. O comentário é que, neste caso, os 3% ficavam diretamente para o PT
porque eram diretorias indicadas PT com PT", declarou Costa à Justiça
Federal.
Costa também afirmou ao juiz
federal que o PMDB, que costumava indicar o diretor da área internacional da
Petrobras, também obtinha uma parte do rateio da propina. Ele, no entanto, não
detalhou qual o percentual que ficava com os peemedebistas.
"A diretoria internacional
tinha indicação do PMDB. Então, tinha recursos que eram repassados para o PMDB,
na Diretoria Internacional", afirmou.
Fonte: Agência O Globo.
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