COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
TRADIÇÃO DA NOSSA CULTURA.
Nobres:
Os preparativos para a Copa foi
uma lição tanto para o governo quanto para a própria população. Os brasileiros,
incrivelmente, se puseram a pensar sobre prioridades algo incomum no cotidiano
da nação. Mesmo que o debate tenha sido enviesado e simplificado, ele deixa uma
contribuição relevante. Tudo o que é gasto com o futebol, por exemplo, jamais
havia merecido qualquer espécie de questionamento. Eis que, justamente com a
vinda do torneio mais importante do mundo, a pátria das chuteiras passa a
perceber que, alto lá, nem tudo é justificável em nome desse lazer. Sim, o
futebol é maravilhoso, mas tão-somente um maravilhoso lazer. A retórica
eleitoral costuma, para qualquer situação, fazer o discurso do “mais
investimento”. Mais investimento para a cultura, para o turismo, para a
educação, para a saúde, para as estradas, para o pagamento de servidores, para
isso e para aquilo. Não existe hierarquia, tudo parece ter igual importância. Há
muito tempo é assim. Não importa se faltam o feijão e o arroz no almoço, vamos
providenciar o lustre novo da sala. Vamos trocar o carro, depois resolvemos o
custeio da gasolina. Temos um problema no país? Ora, só aplicar mais dinheiro,
claro! Simples. É só vontade política, ora bolas. Veja-se que esse raciocínio é
emotivo, fantasioso e até mesmo irresponsável. Ele se dá sobre a base irreal de
um erário ilimitado. É como se o caixa estatal não tivesse dono ou se dele
jorrassem moedas. A verdade é que somos conduzidos muito mais pela pressão dos
grupos de interesse do que por uma visão solidária de sociedade. Fazer a
alegria de quem pressiona dá mais dividendos do que escolher prioridades reais.
Precisamos aprofundar a discussão sobre os gastos e sobre o papel do Estado: onde
deve e onde não deve fazer-se presente; onde deve e onde não deve ser aplicado
o imposto arrecadado; o que incumbe ao público e o que incumbe ao privado. As
loucuras orçamentárias da Copa, se não resolveram esse problema da nossa
cultura política, ao menos deram um bom choque na percepção média dos
brasileiros. Choque de realidade. Um acontecimento popular conseguiu, em alguma
medida, elevar a discussão sobre relevantes questões de fundo. E o recado da
população é claro para quem quiser entender: gastar menos no secundário e mais
no efetivo.
Antônio Scarcela Jorge.
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