CONTAS PÚBLICAS TÊM ROMBO RECORDE PARA SETEMBRO E ACUMULADO DO ANO.
Na parcial
de 2016, foi registrado rombo fiscal inédito de R$ 85,5 bilhões.
Dívida bruta
avançou para R$ 4,32 trilhões, 70,7% do Produto Interno Bruto.
As contas do setor público
consolidado, que incluem o governo federal, os estados, os municípios e as
empresas estatais, registraram rombo recorde para meses de setembro e também
para o acumulado dos nove primeiros meses deste ano, informou nesta
segunda-feira (31) o Banco Central.
Em setembro, foi registrado um
déficit (despesas maiores do que receitas) de R$ 26,64 bilhões. Essa conta não
inclui os gastos com pagamento de juros da dívida pública. Até então, o pior
resultado para o mês havia ocorrido em 2014: rombo de R$ 25,49 bilhões.
Já no acumulado dos nove
primeiros meses de 2016, o déficit, ainda no conceito que não contabiliza os
juros da dívida pública, atingiu expressivos R$ 85,5 bilhões. No ano retrasado,
o pior resultado até então, houve um déficit primário de R$ 15,28 bilhões neste
período. A série histórica das contas públicas tem início em dezembro de 2001.
Em 12 meses até setembro deste
ano, informou o Banco Central, as contas do setor público consolidado
apresentaram um déficit primário de R$ 188,32 bilhões - o equivalente a 3,08%
do Produto Interno Bruto (PIB). Em doze meses até agosto, o rombo havia somado
R$ 169 bilhões o equivalente a 2,78% do Produto Interno Bruto (PIB).
Recessão.
O fraco desempenho das contas
públicas acontece em meio à forte recessão da economia brasileira, que tem
reduzido as receitas da União com impostos. Entretanto, apesar da menor
arrecadação, os números do Tesouro Nacional mostram que as despesas públicas,
impulsionadas pelos gastos obrigatórios, continuam crescendo em 2016.
A situação seria pior se não
fossem os estados que, de janeiro a setembro, arrecadaram mais do que gastaram.
De acordo com o Banco Central, os estados, somados, produziram um superávit de
R$ 10 bilhões no período. O governo federal e as estatais registraram déficit
(gastaram mais do que arrecadaram) de R$ 94,47 bilhões e R$ 1,04 bilhão,
respectivamente.
Juros e déficit nominal.
Quando se incorporam os juros da
dívida pública na conta, no conceito conhecido no mercado como resultado
nominal, utilizado para comparação internacional, houve déficit nas contas do
setor público consolidado de R$ 67,1 bilhões no mês passado e de R$ 380 bilhões
nos nove primeiros meses do ano, o equivalente a 8,29% do PIB.
Em 12 meses até setembro deste
ano, o resultado negativo somou R$ 576,82 bilhões, o equivalente 9,42% do PIB.
Esse número é acompanhado com atenção pelas agências de classificação de risco
para a definição da nota de crédito dos países, indicador levado em
consideração por investidores. Nesta comparação, o patamar do déficit
brasileiro é bem mais alto que o de outros países emergentes.
O resultado nominal das contas do
setor público sofre impacto do processo de aumento dos juros (taxa Selic) pelo
Banco Central, para conter a inflação. Atualmente, a Selic está em 14% ao ano.
Por outro lado, o BC tem
registrado lucro com os contratos de swaps cambiais cujos ganhos, que são
abatidos dos juros da dívida pública, somaram R$ 73,25 bilhões nos nove
primeiros meses deste ano. O BC ganha com as intervenções no câmbio quando o
dólar cai, e vice versa.
O pagamento de juros nominais
somou R$ 295 bilhões de janeiro a setembro deste ano e R$ 388 bilhões em doze
meses até setembro (6,35% do PIB).
Dívidas líquidas e brutas.
Segundo números do Banco Central,
a dívida líquida do setor público (governo, estados, municípios e empresas estatais)
subiu de R$ 2,63 trilhões em agosto, ou 43,3% do PIB, para R$ 2,69 trilhões em
setembro deste ano – o equivalente a 44,1% do PIB.
A dívida líquida considera os
ativos do país como, por exemplo, as reservas internacionais – atualmente ao
redor de US$ 370 bilhões.
No caso da dívida bruta do setor
público, uma das principais formas de comparação internacional (que não
considera os ativos dos países, como as reservas cambiais), o endividamento
brasileiro também cresceu.
Esse indicador é acompanhado mais
atentamente pelas agências de classificação de risco.
Em dezembro de 2015, a dívida
estava em 66,5% do PIB (R$ 3,92 trilhões). Em agosto, já havia avançado para R$
4,27 trilhões, ou 70,2% do PIB e, em setembro, avançou para o patamar inédito
de R$ 4,32 trilhões - ou 70,7% do Produto Interno Bruto.
Se for considerado o conceito
usado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) que leva em conta os títulos
livres na carteira do BC a dívida bruta estaria em 75% do PIB em setembro deste
ano.
Meta fiscal.
Por conta do fraco resultado das
contas públicas neste ano, a equipe econômica enviou ao Congresso e conseguiu
aprovar a alteração da meta fiscal para um rombo de até R$ 170,5 bilhões em
2016 - o pior resultado da história, se confirmado.
Para todo o setor público, a meta
foi fixada em um déficit de até R$ 163,94 bilhões. Esse número considera um
superávit, ou seja, resultado positivo, de R$ 6,55 bilhões dos estados e
municípios.
Se confirmado este valor, também
será o pior resultado da série histórica, que começa em dezembro de 2001.
Em 2016, o Brasil registrará o
terceiro ano seguido com as contas no vermelho.
Em 2014, houve um déficit de R$
32,5 bilhões e, em 2015, um rombo recorde de R$ 111 bilhões.
A conseqüência de as contas
públicas registrarem déficits fiscais seguidos é a piora da dívida pública e
aumento das pressões inflacionárias.
Por conta do fraco desempenho da
economia e da piora do endividamento, o Brasil já perdeu o chamado "grau
de investimento" uma recomendação para investir no país -, retirado pelas
três maiores agências de classificação de risco (Standard & Poors, Fitch e
Moody´s).
O governo enviou ao Congresso
Nacional uma proposta de emenda constitucional instituindo um teto para os
gastos públicos.
A medida, se aprovada, vai
limitar o crescimento dos gastos, em um ano, ao índice de inflação do ano
anterior - com vigência pelos próximos 20 anos. O objetivo da medida, segundo o
governo, é reequilibrar as contas públicas.
Críticos, porém, apontam que o
teto coloca em risco a continuidade de ações sociais do governo, principalmente
nas áreas de saúde e educação, cujos repasses nos últimos anos vinham crescendo
bem acima da inflação.
Além do teto, o governo informou
que pretende encaminhar ao Legislativo uma proposta de reforma da Previdência
Social cujo rombo vem aumentando sistematicamente nos últimos anos,
pressionando as despesas obrigatórias.
A ideia é instituir uma idade
mínima de aposentadoria para obrigar os brasileiros a trabalhar por um período
maior do que hoje, antes de ter direito ao benefício.
Fonte: Agência Brasil.
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