CAMARGO TENTOU PROTEGER LOBÃO, AFIRMA EXECUTIVO.
Conforme depoimentos já revelados, ao menos R$ 2 milhões foram pagos a Lobão.
Em depoimento prestado no mês passado à Polícia
Federal, o ex-gerente de Relações Institucionais da Camargo Corrêa Gustavo da
Costa Marques afirmou ter omitido informações da Operação Lava Jato para seguir
"versão estabelecida" pela empreiteira.
Ao retificar as declarações, o executivo disse ter
escondido dos investigadores a participação de um empresário, apontado como
operador do PMDB no esquema de corrupção nas obras da Usina de Belo Monte.
Além disso, acrescentou ter pago propina em dinheiro
em espécie ao senador peemedebista Edison Lobão (MA), que na época era ministro
de Minas e Energia do governo Dilma Rousseff.
Costa Marques, que trabalhou por 16 anos para a
Camargo, é um dos colaboradores do acordo de leniência firmado pela construtora
e vários de seus dirigentes com o Ministério Público Federal (MPF) no Paraná.
Em 2011, ele passou a ser o responsável pelo
escritório de representação da empresa em Brasília e a ter ligações com Lobão.
A ex-mulher de Costa Marques exerce desde o ano passado cargo comissionado no
gabinete do senador peemedebista.
Os delatores da Camargo admitiram que 1% do valor do
contrato da usina, tocado pela empresa em consórcio com a Andrade Gutierrez e a
Odebrecht, era repassado a políticos do PT e do PMDB.
Conforme depoimentos já revelados, ao menos R$ 2
milhões foram pagos a Lobão por, supostamente, ter ajudado a criar o consórcio
e para que não impusesse obstáculos à obra. O caso é investigado em inquérito
sigiloso no Supremo, sob relatoria do ministro Edson Fachin.
Para que os recursos chegassem ao então ministro, a
Camargo teria feito dois contratos falsos com a AP Energy Engenharia e
Montagem, entre 2011 e 2012. A empresa, com sede em Santana de Parnaíba, na
Grande São Paulo, não teria prestado serviços, mas apenas recebido os recursos
para repassá-los ao peemedebista.
À PF, Costa Marques disse que, a mando do ex-diretor
da Camargo Luiz Carlos Martins, também delator, ajudou a montar a operação de
pagamento das propinas ao PMDB.
Contou ter feito viagens a São Luís para
discutir os repasses com o ex-secretário da Casa Civil do Maranhão Luiz
Fernando Moura da Silva, apontado como intermediário de Lobão.
Reinquirido
Em dois depoimentos, prestados em junho, o ex-gerente
de Relações Institucionais da empreiteira afirmou que sua participação se
limitou a viagens e a apresentar Fernando Brito, um dos donos da AP Energy, aos
seus superiores na Camargo para a contratação fictícia.
Ele chegou a dizer que não sabia se Lobão era o
"destinatário final dos valores".
Em outubro, ao ser reinquirido, o delator disse, no
entanto, que não confirmava na íntegra as declarações anteriores, "pois
elas seguiram versão estabelecida pela Camargo Corrêa". E se prontificou a
"restabelecer a verdade sobre os fatos".
Costa Marques disse que foi com Rodrigo Brito, filho
de Fernando Brito, que manteve tratativas em nome da AP. Afirmou que omitiu a
participação do operador para "protegê-lo".
Além disso, admitiu ter
tratado diretamente com Lobão do pagamento de propinas em quatro reuniões na
casa do então ministro, em Brasília, entre 2011 e 2012.
'Maços de dinheiro'
Costa Marques revelou que em um desses encontros, no
fim de 2012, Lobão solicitou que entre R$ 600 mil e R$ 800 mil fossem levados à
capital federal "de forma urgente".
Os recursos, segundo ele, foram
providenciados por Rodrigo Brito, que viajou à cidade e lhe entregou uma
mochila com a quantia em espécie.
Costa Marques disse que "acondicionou os maços de
dinheiro em uma caixa e o conduziu imediatamente à residência do ministro
Lobão, tendo-o entregue a ele próprio".
Afirmou ainda que Lobão não se
preocupou em contar as notas e abriu a caixa para que o ministro "se
certificasse do conteúdo".
A mudança de versão ocorre em um momento em que a Lava
Jato faz um recall para que executivos da Camargo e de outras empreiteiras
contem detalhes que não revelaram em seus primeiros depoimentos de delação, mas
foram citados por outros colaboradores.
Os advogados do ex-secretário Luiz Fernando Moura da
Silva pediram na semana passada que o acordo de Costa Marques seja anulado por
causa das "mentiras" nos primeiros depoimentos.
Costa Marques é filho de Glaucos da Costa Marques,
primo do pecuarista José Carlos Bumlai, preso pela Lava Jato e amigo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Glaucos comprou uma cobertura vizinha à do petista em
São Bernardo do Campo e a alugou para ele. A Lava Jato investiga se o imóvel
foi pago pela Odebrecht.
Fonte: Jornal "O Estado de S.
Paulo".
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