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CERVERÓ DIZ QUE LULA O INDICOU PARA CARGO EM 'AGRADECIMENTO' POR NEGÓCIO.
Advogado do ex-presidente afirmou que ex-diretor
falou por 'ouvir dizer'.
O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou nesta
terça-feira (8), em depoimento à Justiça Federal, que foi nomeado em 2008 para
a BR Distribuidora por indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em
“agradecimento” por um negócio que aprovou anteriormente e que teria
beneficiado diretamente o PT.
O advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins,
afirmou que Cerveró contou o caso por "ouvir dizer.
Segundo Cerveró afirmou no depoimento, quem fez esse
relato a ele sobre a suposta gratidão de Lula – foi Sandro Tordin, executivo do
grupo Schahin.
Na época, contou Cerveró, o governo havia decidido
demiti-lo da Petrobras por pressão do PMDB da Câmara, que indicou Jorge Zelada
para a Diretoria Internacional.
No mesmo dia da demissão, porém, o órgão
aprovou sua nomeação para a Diretoria Financeira da BR Distribuidora por
recomendação de Lula.
O negócio envolvendo o PT que Cerveró menciona diz
respeito à contratação pela Petrobras, em 2009, do grupo empresarial Schahin
para operar um navio sonda comprado pela Petrobras para exploração de petróleo
na bacia de Santos.
Segundo investigações da Operação Lava Jato, a
negociação do contrato, iniciada por Cerveró, foi feita mediante um acordo para
que a Schahin perdoasse uma dívida de R$ 12 milhões do PT. Cerveró já havia
dado essa informação nos depoimentos da delação premiada.
O valor havia sido formalmente emprestado em 2004 pela
Schahin ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo pessoal de Lula que teria
atuada em nome do PT na operação.
Em 2006, então como diretor Internacional da
Petrobras, Cerveró teria dado aval à contratação da Schahin, beneficiando o PT,
que ficaria livre de pagar o empréstimo.
Para o ex-diretor da Petrobras, essa negociação levou
Lula a ter "reconhecimento" por ele.
“A informação que me foi dada era que a indicação para
a BR Distribuidora seria um reconhecimento do trabalho que eu havia feito da
liquidação da dívida do PT em 2006.
Tinha conseguido através da contratação da
Schahin, mediante a condição de que a dívida do PT com o Schahin seria
liquidada. Foi o motivo de agradecimento ou reconhecimento que levou o
presidente Lula a me indicar”, afirmou Cerveró.
Ele prestou depoimento na tarde desta terça dentro de
um processo em que Lula, o ex-senador Delcídio do Amaral, o ex-chefe de
gabinete de Delcídio Diogo Ferreira, o banqueiro André Esteves, o advogado
Édson Ribeiro, o pecuarista José Carlos Bumlai e o filho dele, Maurício Bumlai,
são acusados de tentar obstruir a Justiça evitando sua delação premiada.
Defesa de Lula.
Presente na audiência, o advogado do ex-presidente
Lula, Cristiano Zanin Martins, disse que nenhum dos depoimentos prestados
confirma qualquer tentativa de Lula em evitar a delação de Cerveró.
Em relação à nomeação de Cerveró para a BR, Zanin
disse que o ex-diretor contou o caso por “ouvir dizer”.
“Ele diz que alguém teria dito isso a ele. Ele diz que
foi o Sandro Tordin, que era da Schahin e com quem tinha relacionamento.
Ele diz que não veio nenhuma confirmação oficial do
Lula sobre isso.
“Entre ser e ouvir dizer de alguém tão distante do
ex-presidente Lula, como é o Sandro Tordin, mostra como não tem qualquer
sentido essa afirmação”, disse Martins.
No depoimento à Justiça, Cerveró ressaltou ainda que
sua nomeação para a BR ocorresse de forma inesperada.
Embora soubesse que seria demitido da Petrobras, só
foi informado no dia da saída pelo então presidente da BR, José Eduardo Dutra,
que havia sido escolhido por Lula para assumir uma diretoria na empresa. Dutra
faleceu em 2015.
"O Dutra Entrou na minha sala e disse: 'Você vem comigo para a BR. Você foi indicado
ontem'. Houve reunião em Brasília em que foi definido que eu estaria fora, mas
o presidente Lula disse:
'O que vamos fazer com o Nestor?'. O Dutra disse: 'Se
o Nestor concordar, vamos indicar o nome dele para o Conselho da Petrobras’.
“No próprio domingo, à noite, já tinha sido tomada a
decisão do presidente Lula de me indicar para a diretoria financeira da BR”,
afirmou Cerveró.
Dilma.
Cerveró também disse que a ex-presidente Dilma
Rousseff teria ficado "preocupada" em libertá-lo e ao ex-colega
Renato Duque, presos em 2015 na Operação Lava Jato.
Em depoimento à Justiça Federal, Cerveró contou que
tal preocupação lhe foi relatada por seu ex-advogado Edson Ribeiro, após
conversa com o senador cassado Delcídio do Amaral, acusado pela suposta
tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor.
“Uma das informações que me foi dita pelo Edson é que
o Delcídio, nesse período, teria mandado um recado dizendo que a presidente
Dilma estava preocupada com os meninos e que precisava soltar os meninos.
Os meninos, no caso, eram meu colega na diretoria
Renato Duque e eu.
E o Edson me trouxe esse recado, que eu ficasse
sossegado, porque havia essa preocupação da presidente Dilma que os meninos não
ficassem presos”, disse Cerveró.
Empréstimo para o PT.
Mais cedo, nesta terça, o sócio do Grupo Schahin,
Salim Taufic Schahin, confirmou, em depoimento, que procurou em 2006 o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari para obter “apoio político” de modo a
viabilizar a contratação da empresa pela Petrobras.
O petista relatou Salim, voltou a seu encontro
posteriormente condicionando a contratação ao perdão da dívida contraída por
Bumlai em 2004.
“Nós comunicamos ao sr. Vaccari que existia essa
possibilidade e solicitamos apoio político.
Não sabia nada sobre o assunto, mas
conversaria com o partido.
Duas semanas Vaccari depois voltou dizendo que iria
dar apoio político, sob a condição de não cobrarmos mais o sr. Bumlai”, narrou
Salim à Justiça Federal.
Fonte: Estadão.
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