PF PRENDE NO DF DOLEIRO E POLICIAL POR FRAUDES EM FUNDOS DE PREVIDÊNCIA.
Esquema teria desviados R$ 50 milhões dos benefícios durante dez anos.
'Mulheres bonitas' e lobistas faziam contato com
agentes públicos, diz MPF.
A Polícia Federal prendeu em Brasília nesta
quinta-feira (17) o doleiro Fayed Traboulsi e o policial civil Marcelo Toledo
por fraudes em fundos de previdência de servidores de prefeituras de nove
estados e do Distrito Federal.
A medida é resultado da Operação Miqueias, que
investiga desde 2013 um esquema que teria desviado ao menos R$ 50 milhões dos
benefícios durante quase uma década. As prisões são preventivas por tempo
indeterminado.
Eles fazem parte do grupo de 43 pessoas que foi
denunciada pelo Ministério Público Federal (MPF) em julho deste ano por
corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
De acordo com as investigações, os acusados simulavam
consultoria financeira a agentes públicos e usavam empresas fantasmas para
lavar o dinheiro desviado. O primeiro contato com os gestores era geralmente
feito por "mulheres bonitas".
Uma vez feito o contato, os prefeitos/gestores eram
corrompidos pelo oferecimento de retorno financeiro pessoal (geralmente em um
percentual da quantia investida) e acabavam por concordar em investir nos fundos
apresentados pela Invista.
A Justiça também determinou a retenção do passaporte
de Traboulsi e Toledo. O doleiro foi apontado como líder da organização
criminosa. Já Toledo estaria entre os responsáveis por vazar informações sobre
as investigações policiais aos envolvidos.
Segundo os procuradores, o policial foi denunciado ao
Tribunal de Justiça do DF pelos crimes de ameaça, desacato e violação de sigilo
funcional.
O advogado de Traboulsi, Antônio Carlos de Almeida
Castro (conhecido como Kakay), disse que espera a liberdade do cliente em uma
audiência de custódia que pretende marcar para esta sexta-feira (18).
"Vamos nos concentrar nisso, em vez de entrar com
um habeas corpus. Sobre as denúncias, são fatos antigos. Nada justifica uma
prisão neste momento."
O advogado de Marcelo Toledo, Raul Livino, também
informou que vai recorrer.
A decisão é do juiz federal Ricardo Augusto Soares
Leite, da 10ª Vara Federal Criminal.
Verifico que o denunciado Fayed Antoine Traboulsi
possui personalidade voltada para a prática delitiva, afirma, ao citar a
existência de mais de 15 incidências penais contra o doleiro.
Ele menciona os crimes de corrupção, crime contra o
sistema financeiro, tributários, contrabando, lavagem de dinheiro, falsidade
ideológica e uso de documento falso.
No entendimento do magistrado, os investigados
"possuem notável círculo de interferência na esfera estatal, especialmente
em corporações responsáveis diretamente pela persecução penal (no caso, a
Polícia Civil do DF) e a Receita Federal”.
A PF não informou se o terceiro mandado de prisão,
contra Carlos Eduardo Rocha Marzola, foi cumprido.
O escândalo começou a ser investigado em 2009 pela
Polícia Civil do DF, a partir da descoberta de indícios de movimentações
financeiras em empresas fantasmas.
Quatro anos depois, o caso passou para a esfera
federal, pela suspeita de também ter havido prática de crimes financeiros.
A Operação Miqueias foi deflagrada em setembro de 2013
e prendeu 27 pessoas, além de cumprir dezenas de mandados e busca e apreensão,
em Brasília e em nove estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Maranhão, Amazonas e Rondônia).
Em outubro de 2013, o Tribunal Regional Federal da
Primeira Região (TRF-1) decidiu enviar ao Supremo Tribunal Federal (SRT) a
investigação, por causa do suposto envolvimento de três deputados federais –
Waldir Maranhão (PP-MA), Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Eduardo Gomes (PSDB-TO) no
esquema.
Telefonemas gravados pela Polícia Federal foi flagrado
conversando com os parlamentares em diversas ocasiões.
Como funcionava.
Uma auditoria do Ministério da Previdência Social
apontou que muitos municípios aplicavam recursos do Regime Próprio de
Previdência Social (RPPS) em fundos de investimentos de crédito privado pouco
atrativos o que, segundo as investigações, resultou em prejuízos financeiros. A
escolha dos investimentos era feita a partir de orientações de "empresas
de consultoria financeira".
O aprofundamento da apuração levou a polícia até a
empresa Invista Investimentos Inteligentes, de propriedade desde quatro dos
denunciados e que era utilizada para o cooptação dos agentes públicos.
"Uma vez feito o contato, os prefeitos/gestores
eram corrompidos pelo oferecimento de retorno financeiro pessoal (geralmente em
um percentual da quantia investida) e acabavam por concordar em investir nos
fundos apresentados pela Invista", diz um dos trechos da ação.
Na denúncia feita pelo MPF, o procurador da República
Wellington Divino Marques de Oliveira afirmou que o contato com o agente
público era feito normalmente por "mulheres muito bonitas" ou por
lobistas que ofereciam os fundos de investimento.
Para dar mais credibilidade ao negócio, era comum a
presença de um auditor fiscal da Receita Federal, a quem cabia fornecer
informações privilegiadas sobre a situação dos fundos.
“O que se seguia à assinatura dos contratos era uma seqüência
de irregularidades que incluíam a desvalorização dos fundos, a emissão
irregular de títulos e depósitos dos valores aplicados pelos municípios em
contas bancárias abertas em nome de fantasmas”.
“A etapa seguinte eram os saques de grandes quantias
em espécie e a distribuição dos valores entre os envolvidos no esquema
criminoso, incluindo os gestores dos regimes de previdência”, diz o MPF.
Durante as investigações feitas pela Polícia Civil do
DF, o monitoramento de integrantes da organização criminosa comprovou a
movimentação financeira do esquema.
O irmão do doleiro Fayed Louis Traboulsi foi um dos
monitorados. A suspeita é que, em um único dia, em 2009, ele tenha sacado R$
240 mil, valor distribuído entre os envolvidos.
Fonte: G1 – DF.
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