GEDDEL PEDE DEMISSÃO DA SECRETARIA DE GOVERNO, DIZ PLANALTO.
Ministro da articulação política enviou carta de demissão a Michel Temer.
Ele havia sido acusado de pressionar um colega para liberar obra na BA.
Acusado de ter pressionado o ex-titular da Cultura
para liberar uma obra em Salvador, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel
Vieira Lima, entregou na manhã desta sexta-feira (25) uma carta de demissão ao
presidente Michel Temer.
Segundo a assessoria da do Palácio do Planalto, o
presidente Michel Temer aceitou o pedido de Geddel, que era responsável pela
articulação política do governo federal com o Congresso Nacional.
A turbulência política provocada pela denúncia chegou
ao gabinete presidencial nesta quinta (24) quando veio à tona o teor do
depoimento prestado nesta semana pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à
Polícia Federal (PF).
Calero disse aos policiais que, durante uma audiência no
Palácio do Planalto, Temer interveio em favor dos interesses do ministro da
Secretaria de Governo.
O ex-ministro da Cultura, que pediu demissão na última
sexta (18), gravou a conversa que teve na semana passada com Temer no Planalto,
informou o Bom Dia Brasil. Procurado pela TV Globo, Calero disse que não pode
falar desse assunto.
Depoimento à PF.
No depoimento à PF prestado na última quarta (23), o
ex-ministro disse que Temer o "enquadrou" para que ele encontrasse
uma "saída" para desembargar a construção do condomínio La Vue, na
capital baiana, no qual Geddel comprou um apartamento.
Após o depoimento de Marcelo Calero à PF vazar na
imprensa, o porta-voz da Presidência da República, Alexandre Parola, afirmou
que Temer procurou o ex-ministro da Cultura para resolver o "impasse"
entre ele, Calero, e o chefe da Secretaria de Governo.
Segundo o colunista do G1 Matheus Leitão, a
Procuradoria Geral da República (PGR) deve pedir a abertura de investigação
para apurar se o ministro Geddel Vieira Lima fez tráfico de influência ao
pressionar o ex-colega da Esplanada dos Ministérios.
A PGR recebeu nesta quinta-feira (24) o depoimento que
Calero prestou à Polícia Federal.
O documento inicialmente foi enviado ao
Supremo Tribunal Federal (STF), que o encaminhou para a análise dos
procuradores da República.
A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, remeteu o
depoimento à PGR antes de mandar sortear o caso para relatoria de algum dos
minstros do tribunal.
Caberá agora ao procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, avaliar se pede autorização ao Supremo para investigar o ministro da
Secretaria de Governo.
Calero pediu demissão do cargo de ministro na última
sexta-feira (18) e, posteriormente, acusou Geddel de tê-lo pressionado a
conceder a licença de construção do prédio de luxo localizado em um bairro
nobre de Salvador, que havia sido barrado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Na condição de ministro, Geddel tem direito ao chamado
"foro privilegiado", ou seja, ser investigado e processado pelo STF,
a mais alta Corte do país. Por isso, a investigação precisa ser autorizada por
um dos 11 ministros do tribunal.
Para a PF, Geddel deve ser investigado, mas a palavra
final sobre uma eventual abertura de inquérito cabe à PGR.
Comissão de Ética.
Na segunda-feira (21), a Comissão de Ética Pública da
Presidência da República decidiu abrir um processo para investigar a conduta de
Geddel no episódio relatado pelo ex-ministro da Cultura.
O colegiado fiscaliza eventuais conflitos de interesse
envolvendo integrantes do governo, mas não tem poder para punir nenhum servidor
público, apenas pode recomendar ao chefe do Executivo sanções a integrantes do
governo, entre as quais demissões.
Nos últimos dias, Geddel admitiu que é proprietário de
um apartamento no empreendimento, confirmou que procurou o então ministro da
Cultura para tratar do embargo à obra, mas negou que tivesse pressionado Calero
para liberar a construção do edifício.
A obra embargada.
O empreendimento imobiliário pivô da saída de Marcelo
Calero do Ministério da Cultura foi embargado pela direção nacional do Iphan em
razão de estar localizado em uma área tombada como patrimônio cultural da
União, sujeita a regramento especial. Os construtores pretendem erguer um
prédio com 31 andares, mas o Iphan autorizou a construção de, no máximo, 13
pavimentos.
Com vista privilegiada para a Baía de Todos-os-Santos,
o condomínio La Vue começou a ser construído em outubro de 2015. O metro
quadrado dos apartamentos, um por andar custa em torno de R$ 10 mil.
O
edifício tem apartamentos com quatro suítes de 259m² e uma cobertura chamada
"Top House" de 450 m². Os imóveis no La Vue variam de R$ 2,6 milhões
a R$ 4,5 milhões.
No sábado, o instituto informou que a obra foi
embargada após estudos técnicos apontarem impacto do empreendimento em cinco
imóveis tombados da vizinhança do condomínio: o forte e farol de Santo Antônio,
o forte de Santa Maria, o conjunto arquitetônico do Outeiro de Santo Antônio
(que inclui o forte de São Diogo), além da própria Igreja de Santo Antônio.
Parentes.
Familiares do ministro da Secretaria de Governo
integram a defesa do empreendimento imobiliário de Salvador barrado pelo Iphan,
no qual ele afirma ter comprado um imóvel, publicou na quarta-feira o jornal
"Folha de S. Paulo".
Segundo o jornal, um primo e um sobrinho de Geddel
atuam como representantes do empreendimento La Vue Ladeira da Barra junto ao
Iphan.
A publicação afirmou que, em um documento anexado ao
processo administrativo que tramitou junto ao Iphan, a empresa Porto Ladeira da
Barra Empreendimento – responsável pelo La Vue, interditado pelo órgão ligado
ao Ministério da Cultura nomeou como procuradores os advogados Igor Andrade
Costa, Jayme Vieira Lima Filho e o estagiário Afrísio Vieira Lima Neto.
Ainda de acordo com a "Folha", Jayme é primo
de Geddel e também seria sócio dele no restaurante Al Mare, em Salvador. Já o
estagiáriao Afrísio Vieira Lima Neto é filho do deputado federal Lúcio Vieira
Lima (PMDB-BA), irmão do ministro da Secretaria de Governo.
A procuração informou o jornal, foi assinada em 17 de
maio de 2016, cinco dias depois de Geddel assumir o comando da Secretaria de
Governo.
Fonte: G1- DF.
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