EX-MINISTRO DISSE QUE SOFREU PRESSÃO DE GEDDEL PARA LIBERAR OBRA.
Marcelo Calero fez acusação a companheiro.
Ministro da
Secretaria de Governo negou acusação do ex-colega.
O ex-ministro da Cultura Marcelo
Calero disse em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo" que o motivo
principal de sua saída da Esplanada dos Ministérios foi a pressão que sofreu do
titular da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, para liberar um
empreendimento imobiliário em Salvador no qual ele tinha comprado um
apartamento.
Calero pediu demissão do
Ministério da Cultura nesta sexta-feira (18) e será substituído pelo deputado
Roberto Freire (PPS-SP).
Geddel negou ter feito pressão sobre o ex-colega para tentar desembargar
a obra na capital baiana.
Um dos ministros mais próximos ao
presidente Michel Temer, Geddel é presidente do PMDB na Bahia e tem influência
na política local.
Ele Geddel pede minha
interferência para que isso acontecesse, não só por conta da segurança
jurídica, mas também porque ele tem um apartamento naquele empreendimento.
O empreendimento imobiliário,
segundo Calero, foi embargado pela direção nacional do órgão em razão de estar
localizado em uma área tombada como patrimônio cultural da União, sujeito a
regramento especial.
Os construtores, afirmou o
ex-ministro à publicação, pretendem erguer um prédio com 30 andares, mas o
Iphan autorizou a construção de, no máximo, 13 andares.
Embora a sede nacional do Iphan
tenha barrado a construção, relatou Calero, a superintendência regional do
órgão na Bahia elaborou um parecer técnico liberando a obra.
O ex-ministro ressaltou ao jornal
que tinha informações de que a direção da superintendência baiana do Iphan
foram indicados por Geddel.
A informação que eu tive
foi que a AGU construiria um argumento de que não poderia haver decisão
administrativa do Iphan.
Isso significa que o
empreendimento seguiria com o parecer do Iphan da Bahia, que liberava a
obra.
Calero também disse ao jornal que
o titular da Secretaria de Governo acionou "vários interlocutores"
para pressioná-lo a rever o embargo da obra.
'Processo de fritura'
Marcelo Calero disse na
entrevista que decidiu pedir demissão e contar as pressões que sofreu do
ministro da Secretaria de Governo no momento em que se deu conta de que havia
um "processo de fritura" para "macular" a imagem dele.
O ex-ministro da Cultura classificou
de "inacreditável" a pressão que sofreu de Geddel para rever o
embargo da obra.
"A gota d'água foi quando
fui procurado pela imprensa. Eu vejo isso de maneira objetiva: um agente
governamental solicitou interferência de outro numa decisão técnica que lhe
beneficiaria em caráter pessoal.
A versão de Geddel.
Geddel Vieira Lima admitiu que é proprietário de um
imóvel no empreendimento embargado pelo Iphan, negou que tenha pressionado o
ex-colega de ministério a liberar a construção e disse "lamentar" e
"repelir" as declarações de Calero.
O titular da Secretaria de
Governo admitiu que realmente conversou com Calero sobre o empreendimento, mas,
segundo ele, não houve pressão, e sim "ponderação".
Na visão do peemedebista, a
conversa foi para reforçar a importância de uma obra que garante centenas de
empregos.
"Primeiro, tenho que
lamentar. Sempre tive com o ministro Calero, uma figura muito doce, uma relação
tranquila e amena.
Segundo, repelir. Em nenhum
momento foi feita pressão para que ele tomasse posição.
Foram feitas ponderações.
Mas ao fim, ao cabo, as
ponderações não prevelaceram, prevaleceu a posição que ele defendia apesar de
eu considerar equivocada, o que torna ainda mais supreendente o pedido de
demissão e essa manifestação".
O ministro afirmou ainda que não
entendeu a atitude de Calero de acusá-lo de ter feito pressão para liberar uma
obra da iniciativa privada.
"Conversei por telefone com
Calero com a tranquilidade de quem não tem medo de grampo, de fiscalização,
porque o que eu converso por telefone, eu posso conversar publicamente",
ironizou Geddel, o
agora ex-ministro da Cultura ter dito que teve receio de que o colega da
Secretaria de Governo estivesse com o telefone grampeado.
Ele disse que tratou com Calero
sobre o empreendimento da capital baiana com "absoluta
transparência".
Geddel ressaltou que apenas mostrou ao agora ex-colega que
a judicialização da licença concedida, em 2014, pelo Iphan "gera
desemprego" e "cria instabilidade" para quem comprou
apartamentos no empreendimento imobiliário.
"Evidentemente, eu tenho a
mesma posição que outros que também adquiriram um imóvel nesse empreendimento
que, ao invés de tirar, dá legitimidade para conhecer o tema e poder levar
preocupações legítimas, transparentes, à apreciação do ministro da área."
Oposição.
As declarações de Calero já
repercutem no Congresso Nacional. Em nota divulgada à imprensa, o deputado
Jorge Solla (PT-BA) afirma que vai apresentar na próxima segunda-feira (21), na
Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, um requerimento de
convocação do ex-ministro.
Solla quer que Calero explique as
declarações sobre a pressão que diz ter sofrido de Geddel.
"É uma expressa acusação de
crime de prevaricação. Se Calero acusou outro ministro ao sair, é um caso muito
grave e precisa comprovar o que diz para que o caso tenha a conseqüência
devida", diz a nota do deputado.
Fonte: G1 – DF.
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