GOVERNO DEVE ANUNCIAR NESTA SEMANA MEDIDAS PARA AJUDA A ESTADOS.
Com recessão, estados enfrentam crise e dificuldade de honrar obrigações.
G1 conversa com especialistas e relembra discussões para ajudar estados.
O governo federal deve anunciar nesta semana medidas
para ajudar a conter a crise financeira nos estados.
Sem recursos para fazer investimentos e, em alguns
casos, até mesmo para pagar salário de servidores, governadores vêm
pressionando o presidente Michel Temer por alternativas que ajudem a elevar a
arrecadação e a reequilibrar suas contas.
Na próxima terça (22) governadores se reúnem com o
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em Brasília, para discutir o assunto.
A expectativa é que, após o encontro, sejam anunciadas
medidas que vão permitir aos estados conseguir recursos extras.
Nos últimos meses, representantes do governo já
falaram sobre algumas das possibilidades em estudo.
Durante viagem a Nova York na semana passada,
Meirelles disse que a crise econômica, que provocou "queda forte da
arrecadação" com impostos, "agudizou" a situação financeira dos
estados.
Entretanto, ele apontou que, além da redução nas
receitas, "evidentemente que houve aumento de despesas dos estados",
o que também contribuiu para a deterioração das contas públicas.
O ministro disse que a prioridade é fazer a economia
brasileira voltar a crescer e que, na tentativa de ajuda aos estados, não podem
ser adotadas soluções que comprometam o ajuste fiscal que o governo Temer pretende
programar.
Entretanto, ele também avaliou que os estados devem
continuar ajustando suas contas, fazendo o que ele classificou como o
"dever de casa".
Securitização da dívida.
O Congresso Nacional avalia um projeto do senador José
Serra (PSDB-SP), atualmente ministro das Relações Exteriores, que autoriza a
chamada "securitização" de dívidas que contribuintes têm com os
estados.
A medida precisa ser aprovada também pelo Tribunal de Contas da União
(TCU).
O formato da operação é o seguinte: o estado vai
transfere direitos creditórios a uma companhia secutirizadora estadual. Essa
companhia vai ter cotas subordinadas que poderão ser vendidas para bancos,
empresas ou pessoas físicas, por exemplo.
Os compradores dessas cotas antecipam
ao estado os recursos devidos pelos contribuintes, mas com um desconto.
Porém, quando as dívidas forem efetivamente pagas, são
os cotistas que recebem.
Tomando como exemplo uma dívida de R$ 100, que o
estado receberia num prazo de 10 anos, um banco paga R$ 50 ou R$ 60 ao estado,
antecipadamente, e fica com o direito de receber os R$ 100 do contribuinte
devedor.
Levantamento feito pelo economista Felipe Salto e pelo
especialista em contas públicas Leonardo Cezar Ribeiro, aponta que a
securitização pode render, pelo menos, R$ 30 bilhões para estados e municípios.
Há estados que já têm companhias securitizadoras, como
Rio de Janeiro e São Paulo, mas, de acordo com Salto, há outros que estão
esperando a lei federal para ter mais segurança.
Para o economista José Roberto Afonso, a chamada
"securitização" pode ser uma saída não só para tempos de crise.
Deve ser permanente.
Se o governo deve pagar o
que deve, também precisa cobrar melhor o que tem a receber, sobretudo em
impostos. É uma excelente ideia, para todos os governos, não só estaduais, e em
todos os tempos.
Acho importante ter uma lei nacional com regras específicas
sobre o tema", declarou ele.
Emissão de títulos com garantia de ativos.
Na semana passada, o ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, afirmou, em Nova York, que a equipe econômica analisa a
possibilidade de os estados buscarem recursos no mercado, por meio da emissão
de títulos públicos, dando ativos, ou recebíveis, como garantia.
No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, ele citou a
possibilidade de o estado dar a receita futura com "royalties" do
petróleo como garantia nestas operações.
Ele também falou na possibilidade de
antecipação de recursos do pré-sal que os estados teriam a receber no futuro.
Empresas estatais também podem entrar no rol das
garantias. A emissão desses títulos teria de ser feita no exterior por empresas
ligadas aos estados, as empresas "não dependentes do estado" mas não
pelos estados propriamente ditos, operação vedada pela Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF).
Ajuda direta e repatriação.
No decorrer dos últimos meses, vários estados bateram
na porta do Tesouro Nacional para pedir uma ajuda direta, nos mesmos moldes do
que foi feito com o Rio de Janeiro - em julho, o estado recebeu R$ 2,9 bilhões
para ajudar na segurança dos jogos olímpicos.
Em seguida, diversos estados pediram uma ajuda
emergencial, mas o Tesouro Nacional negou. Eles ameaçaram ingressar no Supremo
Tribunal Federal (STF) pedindo isonomia em relação ao que foi concedido ao Rio
de Janeiro, mas não levaram a iniciativa adiante.
A equipe econômica tem sinalizado que não vai conceder
recurso a fundo perdido, porque isso poderia prejudicar o ajuste das contas do
governo e piorar a percepção dos investidores sobre a economia brasileira.
Os recursos da regularização de ativos no exterior são
uma fonte certa de ajuda para os estados.
Neste ano, eles receberam R$ 4,02
bilhões do total de R$ 46,8 bilhões que ingressaram nos cofres públicos por
conta da medida.
Os municípios abocanharam parcela semelhante de recursos.
A medida, porém, beneficia principalmente os estados
mais pobres do país, visto que a regra de partilha atende aos critérios de
distribuição do Fundo de Participação dos Estados (FPE).
O Rio de Janeiro, por
exemplo, recebeu R$ 88,8 milhões. Já a Bahia, na outra ponta, R$ 359 milhões.
Os recursos compartilhados com os estados são uma
parte da arrecadação com o Imposto de Renda cobrado dos contribuintes que
aderiram à repatriação.
Os governadores, porém, exigem na Justiça também uma
parte do valor obtido com cobrança de multa.
Os estados também negociam para ter uma maior
participação na divisão dos recursos arrecadados com uma nova rodada da
repatriação, que já está em análise no Congresso, com previsão de vigorar no
ano de 2017.
Empréstimos e exportações.
Os estados também têm defendido que a União conceda
aval para novos empréstimos junto a instituições financeiras nacionais, como o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e internacionais,
como o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Neste caso, a União garante o pagamento do empréstimo,
no caso de atraso por parte dos estados, mas depois bloqueia repasses a esse
estado inadimplente.
Com o aval do Tesouro, os estados podem contar com juros
mais baixos nessas operações.
Para ter acesso ao aval, os estados devem apresentar
boa situação fiscal, ou seja, devem ter boa capacidade de honrar seus
compromissos.
Segundo levantamento do Tesouro Nacional, porém,
somente 13 estados e o Distrito Federal (DF) têm hoje essa condição.
Outra forma de os estados receberem recursos extras
seria por meio do ressarcimento de perdas com a desoneração de exportações.
Recentemente, o governo editou uma medida provisória
autorizando o repasse, até o fim deste ano, de R$ 1,95 bilhão aos estados por
conta de perdas com as exportações.
A MP foi publicada em meados de outubro.
Para 2017, está prevista uma nova parcela de cerca de R$ 2 bilhões.
A compensação financeira do Executivo federal aos
estados exportadores é prevista pela Lei Kandir, que isentou o pagamento de
ICMS na exportação de produtos não industrializados.
Os recursos que foram repassados aos governos
estaduais já estavam previstos no Orçamento deste ano, e também constam na
proposta de orçamento de 2017.
Recursos do BNDES.
Nesta sexta-feira (18), em entrevista à Rádio Gaúcha,
o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que o governo federal quer
que os estados se comprometam com ações para reequilibrar suas contas.
Em troca, o governo pode liberar recursos extras, por
meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O banco público, ao invés de devolver R$ 100 bilhões
para o Tesouro Nacional, conforme o previsto no pacote de ajuste fiscal do
governo federal, poderia direcionar esses recursos para os estados.
Entretanto, mais tarde na sexta, o ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, negou que o governo possa direcionar os R$ 100
bilhões do BNDES aos estados.
Privatização de estatais.
Em junho, o governo informou que aceitará que os
estados levem adiante processos de privatização de empresas estatais para o
abatimento dos seus débitos com a União o que reduziria as parcelas mensais de
suas dívidas e resultaria em maior disponibilidade de recursos.
Na ocasião, o Ministério da Fazenda informou que não
está prevista a federalização das empresas, a exemplo do que foi feito no
passado, por exemplo, com o Banespa.
Na época, o governo assumiu o controle do banco que
pertencia a São Paulo e, posteriormente, realizou sua venda.
O Ministério do Planejamento esclareceu em junho que
os estados não precisam de autorização da União para venda de estatais e que o
governo "pretende apoiar os governos estaduais na privatização de empresas
que eles vierem a escolher."
Fonte: G1 – DF.
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