SCARCELA JORGE |
COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.CONTRA-SENSO DOS PETISTAS.
Nobres:
A retórica é a de sempre, na insistência por radicais,
o PT está se acabando, uma agremiação partidária, por justa razão e, por isso
está incapaz de atrair as massas via retóricas morais. E quem o diz é a própria
esquerda, ao enxergar na rede uma oportunidade de recomeçar, agora que
finalmente conseguiram arrombar o cofre e deixar a terra arrasada. Ainda que
leve um tempo para a consumação deste fato, sua fragmentação moral, as
retumbantes prisões que ainda estão por vir, além da crise econômica sem prazo
para acabar, desde agora nos permitem cogitar sobre o amanhã. E então,
pergunto, é razoável supor um Brasil diferente apenas pela derrocada de Lula e
seus comparsas? Melhor com certeza, mas diferente não me parece provável. Se o
petismo deixa alguma lição válida, é justamente sobre como o Estado pode se
tornar facilmente manipulável nas mãos de um grupo organizado e desconhecedor
de escrúpulos. Basta acompanhar os jornais. Deixando de lado alguns atores
constitucionalmente autônomos, como por exemplo, a Polícia Federal e o
Ministério Público tornaram-se inacreditável o nível de contaminação política
em mecanismos designados a fiscalizar, mesmo na Justiça, haja vista o Supremo,
as indicações promovem uma promiscuidade difícil de ser contornada e decisiva
para o acobertamento de crimes de má gestão. Isto sem falar em CGU, AGU,
Tribunais de Contas municipais ou estaduais. A fórmula é simples, se corruptos
ou ainda pessoas suscetíveis a condutas criminosas e politicagem estiverem
aparelhando um sistema, não fará sentido esperar que dificultem seus próprios
interesses. Em síntese, do jeito que está o país precisa torcer para que
pessoas comprometidas com a lisura e o interesse público estejam na hora certa
e no lugar certo, sob pena de tornar-se refém de si mesmo. Certamente é grande
a nossa responsabilidade pelo que tem acontecido, e a morte prematura de um
futuro alvissareiro não só pode como deve recair sobre quem ignora a política e
suas artimanhas, reluta em fiscalizar seus governantes, ou tem receio de
debater para não ferir suscetibilidades, aperfeiçoar com boa vontade.
Convenhamos, seria difícil para qualquer comunidade manter distância da cena
pública, e, portanto negligenciar seus próprios interesses, sem sofrer graves
conseqüências. Entendemos, que o debate sobre o voto, inclusive o sistema de governo,
deveria ser retomada de maneira mais ampla e demorada. E o mesmo vale para a
reforma partidária. Mas, além destes aspectos, seja fundamental repensarmos uma
engrenagem que possibilite ao organismo estatal produzir anticorpos mais
eficientes.
Antônio Scarcela Jorge.
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