quarta-feira, 13 de maio de 2015

JUSTIÇA DE INSTÂNCIA INTERMEDIÁRIA CONCLUI DEPOIMENTOS

 CPI ENCERRA DEPOIMENTOS DE PRESOS DA LAVA JATO EM CURITIBA.

  Mais sete investigados foram ouvidos nesta terça (12) pelos deputados.
André Vargas, Pedro Corrêa e Luiz Argôlo falaram aos parlamentares.

A CPI da Petrobras terminou de ouvir nesta terça-feira (12) os 14 investigados da Operação Lava Jato que estão presos no Paraná. Durante quase sete horas de sessão, foram interrogados sete pessoas, dentre eles, três ex-deputados federais. Com as oitivas, chega ao fim a passagem da CPI em Curitiba, que volta a se reunir na quarta (13) em Brasília.

De início, apenas a doleira Nelma Kodama, já condenada em um dos processos da Lava Jato, afirmou que responderia às perguntas dos parlamentares, com algumas restrições. No entanto, mesmo tendo dito que não responderiam às questões, os demais depoentes chegaram a falar diante de alguns questionamentos dos membros da CPI. A maior parte das respostas foi sobre o relacionamento dos investigados com o doleiro Alberto Youssef. Pedro Corrêa.

O ex-deputado do PP afirmou que ouviu de José Janene, ex-parlamentar morto em 2010, que a indicação de Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento da Petrobras partiu do ex-presidente Lula. A CPI da Conforme Corrêa, Janene, que era presidente do PP, lhe contou que Lula havia dito que indicaria Paulo Roberto Costa. A nomeação, contudo, sairia da cota destinada ao PP na divisão de cargos.

Corrêa ainda afirmou que conheceu o doleiro Alberto Youssef em Londrina, em uma festa de aniversário, e que manteve contato com ele. "Youssef frequentemente ia a Brasília e, como eu morava no mesmo prédio que o Janene, eu o via na casa do deputado. Era comum sairmos da Câmara e jantarmos juntos na casa do Janene", conta Corrêa, sobre o relacionamento com o doleiro.

Sobre a delação premiada de Youssef, contudo, Corrêa reportou ser falso. “Se fosse verdade, eu teria em torno de R$ 21 a 25 milhões. Eu gostaria de saber onde está esse dinheiro”, disse Corrêa. Ele afirmou que não possui dinheiro proveniente do esquema de corrupção, e que não possui dinheiro em contas no exterior.

Questionado pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP) sobre o destino do dinheiro que Youssef afirma ter repassado a ele, Corrêa responde não tinha este dinheiro na conta bancária. Valente retruca que como político ele teria influência para não deixar os recursos parados, mas Corrêa diz que perdeu toda influência desde que foi cassado, em 2006.

 Os deputados insistiram, dando como exemplo políticos como Fernando Henrique Cardoso e Lula, que seguem influentes. O interrogado responde: “Ninguém tem coragem de botar o Lula na cadeia. Se tentarem, vai acontecer como quando o Getúlio se suicidou: o povo saiu pra rua”, respondeu Corrêa.

O depoimento teve ainda um momento de descontração, quando Corrêa disse que o PP não era diferente de nenhum partido. Ele foi interrompido pelo deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS), que afirmou que o dele era diferente. "Eu fui de seu partido, Roseana Sarney foi do seu partido", respondeu Corrêa, arrancando risos dos presentes.

 André Vargas

O depoimento do ex-vice-presidente da Câmara Federal, cassado em 2014, foi marcado por uma série de provocações entre os parlamentares da CPI e o depoente. No início, o deputado Bruno Covas questionou se Vargas tinha arrependimento de ter erguido o punho ao lado do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, em uma sessão da Câmara. Ele não respondeu.

A ausência de respostas incomodou os membros da CPI. "Eu esperava que o depoente usasse esse espaço para falar, até porque durante o seu mandato, Vargas era um falastrão. Hoje é um caladão. O instrumento de ficar calado apenas reafirma sua culpa, eu não tenho nada a perguntar a esse cidadão", afirmou o deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS).

Perguntado por Ivan Valente (PSOL-SP) se sentia-se abandonado pelo Partido dos Trabalhadores, Vargas retrucou. "São questões que merecem um livro no futuro. Permanecerei em silêncio”, disse. Mais tarde, outro deputado questionou se ele havia recebido visitas de alguém do PT na prisão. “As visitas na PF são restritas a familiares. E como todos meus familiares são filiados ao partido, recebi visita de petistas", respondeu Vargas.

O ex-deputado ainda falou brevemente sobre o relacionamento dele com Alberto Youssef. Vargas respondeu que o conhecia há 30 anos, por morarem na mesma cidade.

Ao fim do depoimento ele pediu desculpas pela ausência de respostas. “Dentro da nossa estratégia de defesa estamos ainda tomando conhecimento de tudo que foi apresentado. Por essa situação, optamos pelo silêncio. Lutei para não ser cassado e continuo achando que não tive direito de defesa, já que não tive acesso aos documentos", diz André Vargas nas considerações finais.

Luiz Argôlo.

Dos três ex-parlamentares, Luiz Argôlo (SD-BA) foi quem menos falou durante o depoimento. "Tudo que disse até agora, não me favoreceu, nem no Conselho de Ética. Uma coisa posso dizer: trabalhei muito por aqueles que votaram em mim. Não vai ser essa CPI que vai me inocentar. Então eu prefiro seguir a orientação dos meus advogados e permanecer em silêncio", justificou.

Em um dos poucos momentos em que falou, Argôlo disse ser inocente. "A única coisa que faltou foi me culparem pela falta de água em São Paulo, já que fiquei um ano e meio tomando porrada", diz Argolo. "Não tenho absolutamente nada a ver com a questão da Petrobras”, disse.

Sobre Youssef, o ex-parlamentar disse que conheceu Youssef como sendo um empresários com investimento na Bahia. “Ele me foi apresentado como empresário e eu o conheci depois de ser eleito deputado, na casa de Mario Negromonte", explicou.

Ainda no início do depoimento, Argôlo se recusou a responder a pergunta de se ele estava estudando um acordo de delação premiada. Adiante, porém, ele chegou a falar em colaboração. "De forma alguma é prazeroso estar aqui. Quero informar que estou colaborando com a Justiça. Dos três ex-parlamentares detidos, fui o único a prestar depoimento. Se isso for considerado, vou esperar o segundo passo", diz Argôlo nas considerações finais.

Nelma Kodama

A doleira Nelma Mitsue Penasso Kodama, acusada de atuar em parceria com Alberto Youssef no esquema, disse que 200 mil euros apreendidos com ela no Aeroporto de Guarulhos não estavam na calcinha, conforme a acusação do Ministério Público Federal.

De acordo ela, dois pacotes com notas altas de euros estavam escondidos em dois bolsos na parte de trás da calça jeans que ela usava. "Eu me sinto injustiçada porque fui presa no dia 14 de março, que eu estava indo a Milão, não estava fugindo do país", disse. Durante seu depoimento, Nelma ainda se levantou e mostrou como teria guardado o dinheiro no bolso.

Ainda durante o seu depoimento, o deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) perguntou se Nelma tinha sido amante do doleiro Alberto Youssef. "Eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma palavra que engloba tudo. Amante é esposa, amante é amiga", respondeu a doleira. No final da resposta, Nelma ainda brincou e cantou um trecho da música "Amada Amante", de autoria de Roberto Carlos.

Nelma Kodama também declarou que nunca teve nenhum contato com o PT ou outro partido político. "Meu desejo é que a CPI possa chegar a uma conclusão, que os culpados sejam culpados e que tudo isso [o sistema] seja mudado", disse a doleira investigada. Ela revelou que tenta obter um acordo de delação premiada, e que não poderia responder a algumas perguntas.

Renê Luiz Pereira

Já condenado a 14 anos de prisão, após ser apontado como o responsável por 698 kg de cocaína apreendidos em novembro de 2013, em Araraquara (SP), Pereira também optou pelo silêncio. Ele falou algumas ocasiões, apenas para negar ter relacionamentos com políticos.

Questionado se conhecia alguns envolvidos presos pela operação, como Nelma e Youssef. Rene disse que conheceu todos na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.

Carlos Habib Chater.

Dono do Posto da Torre, um posto de combustíveis em Brasília, que foi usado para lavagem de dinheiro e que inspirou o nome e deu origem à Operação Lava Jato, o doleiro também ficou em silêncio. Ele já foi condenado em dois processos da operação, somando dez anos e três meses de pena.

Ele se recusou a responder todas as perguntas dos parlamentares, mas discutiu com o deputado Delegado Waldir (PSDB-GO), que o acusou de ser traficante. Chater disse que Waldir deveria "fazer o dever de casa", para saber que ele não teve qualquer condenação por tráfico. "Tu é bandido. Abaixa o dedo", retrucou Waldir.

Ricardo Hoffmann.

O último depoimento do dia foi do empresário Ricardo Hoffmann, que também decidiu não falar. Ele é suspeito de intermediar contratos fraudulentos de publicidade com o Ministério da Saúde, com a ajuda do ex-deputado federal André Vargas.

Durante o depoimento, a deputada Eliziane Gama (PPS-MA) defendeu que a CPI quebre os sigilos fiscais, telefônicos e bancários dos investigados que têm prestado depoimento à comissão.

Já Ônix Lorenzoni (DEM-RS) lembrou de quando participou da CPI dos Correios, que culminou no processo do Mensalão. Ele disse que deseja a Ricardo Hofmann o mesmo destino de outro publicitário, Marcos Valério, que cumpre mais de 40 anos de prisão.
Fonte: Agência O Globo.

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