Mais sete investigados foram ouvidos nesta terça (12) pelos deputados.
André Vargas, Pedro Corrêa e Luiz Argôlo falaram aos parlamentares.
A CPI da Petrobras terminou de ouvir nesta terça-feira
(12) os 14 investigados da Operação Lava Jato que estão presos no Paraná.
Durante quase sete horas de sessão, foram interrogados sete pessoas, dentre
eles, três ex-deputados federais. Com as oitivas, chega ao fim a passagem da
CPI em Curitiba, que volta a se reunir na quarta (13) em Brasília.
De início, apenas a doleira Nelma Kodama, já condenada
em um dos processos da Lava Jato, afirmou que responderia às perguntas dos
parlamentares, com algumas restrições. No entanto, mesmo tendo dito que não
responderiam às questões, os demais depoentes chegaram a falar diante de alguns
questionamentos dos membros da CPI. A maior parte das respostas foi sobre o
relacionamento dos investigados com o doleiro Alberto Youssef. Pedro
Corrêa.
O ex-deputado do PP afirmou que ouviu de José Janene,
ex-parlamentar morto em 2010, que a indicação de Paulo Roberto Costa para a
Diretoria de Abastecimento da Petrobras partiu do ex-presidente Lula. A CPI da Conforme
Corrêa, Janene, que era presidente do PP, lhe contou que Lula havia dito que
indicaria Paulo Roberto Costa. A nomeação, contudo, sairia da cota destinada ao
PP na divisão de cargos.
Corrêa ainda afirmou que conheceu o doleiro Alberto
Youssef em Londrina, em uma festa de aniversário, e que manteve contato com
ele. "Youssef frequentemente ia a Brasília e, como eu morava no mesmo
prédio que o Janene, eu o via na casa do deputado. Era comum sairmos da Câmara
e jantarmos juntos na casa do Janene", conta Corrêa, sobre o relacionamento
com o doleiro.
Sobre a delação premiada de Youssef, contudo, Corrêa
reportou ser falso. “Se fosse verdade, eu teria em torno de R$ 21 a 25 milhões.
Eu gostaria de saber onde está esse dinheiro”, disse Corrêa. Ele afirmou que
não possui dinheiro proveniente do esquema de corrupção, e que não possui
dinheiro em contas no exterior.
Questionado pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP) sobre
o destino do dinheiro que Youssef afirma ter repassado a ele, Corrêa responde
não tinha este dinheiro na conta bancária. Valente retruca que como político
ele teria influência para não deixar os recursos parados, mas Corrêa diz que
perdeu toda influência desde que foi cassado, em 2006.
Os deputados insistiram, dando como exemplo
políticos como Fernando Henrique Cardoso e Lula, que seguem influentes. O
interrogado responde: “Ninguém tem coragem de botar o Lula na cadeia. Se
tentarem, vai acontecer como quando o Getúlio se suicidou: o povo saiu pra
rua”, respondeu Corrêa.
O depoimento teve ainda um momento de descontração,
quando Corrêa disse que o PP não era diferente de nenhum partido. Ele foi
interrompido pelo deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS), que afirmou que o dele era
diferente. "Eu fui de seu partido, Roseana Sarney foi do seu
partido", respondeu Corrêa, arrancando risos dos presentes.
André Vargas
O depoimento do ex-vice-presidente da Câmara Federal,
cassado em 2014, foi marcado por uma série de provocações entre os
parlamentares da CPI e o depoente. No início, o deputado Bruno Covas questionou
se Vargas tinha arrependimento de ter erguido o punho ao lado do ex-ministro do
STF Joaquim Barbosa, em uma sessão da Câmara. Ele não respondeu.
A ausência de respostas incomodou os membros da CPI.
"Eu esperava que o depoente usasse esse espaço para falar, até porque durante
o seu mandato, Vargas era um falastrão. Hoje é um caladão. O instrumento de
ficar calado apenas reafirma sua culpa, eu não tenho nada a perguntar a esse
cidadão", afirmou o deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS).
Perguntado por Ivan Valente (PSOL-SP) se sentia-se
abandonado pelo Partido dos Trabalhadores, Vargas retrucou. "São questões
que merecem um livro no futuro. Permanecerei em silêncio”, disse. Mais tarde,
outro deputado questionou se ele havia recebido visitas de alguém do PT na
prisão. “As visitas na PF são restritas a familiares. E como todos meus
familiares são filiados ao partido, recebi visita de petistas", respondeu
Vargas.
O ex-deputado ainda falou brevemente sobre o
relacionamento dele com Alberto Youssef. Vargas respondeu que o conhecia há 30
anos, por morarem na mesma cidade.
Ao fim do depoimento ele pediu desculpas pela ausência
de respostas. “Dentro da nossa estratégia de defesa estamos ainda tomando
conhecimento de tudo que foi apresentado. Por essa situação, optamos pelo
silêncio. Lutei para não ser cassado e continuo achando que não tive direito de
defesa, já que não tive acesso aos documentos", diz André Vargas nas
considerações finais.
Luiz
Argôlo.
Dos três ex-parlamentares, Luiz Argôlo (SD-BA) foi
quem menos falou durante o depoimento. "Tudo que disse até agora, não me
favoreceu, nem no Conselho de Ética. Uma coisa posso dizer: trabalhei muito por
aqueles que votaram em mim. Não vai ser essa CPI que vai me inocentar. Então eu
prefiro seguir a orientação dos meus advogados e permanecer em silêncio",
justificou.
Em um dos poucos momentos em que falou, Argôlo disse
ser inocente. "A única coisa que faltou foi me culparem pela falta de água
em São Paulo, já que fiquei um ano e meio tomando porrada", diz Argolo.
"Não tenho absolutamente nada a ver com a questão da Petrobras”, disse.
Sobre Youssef, o ex-parlamentar disse que conheceu
Youssef como sendo um empresários com investimento na Bahia. “Ele me foi
apresentado como empresário e eu o conheci depois de ser eleito deputado, na
casa de Mario Negromonte", explicou.
A doleira Nelma Mitsue Penasso Kodama, acusada de
atuar em parceria com Alberto Youssef no esquema, disse que 200 mil euros
apreendidos com ela no Aeroporto de Guarulhos não estavam na calcinha, conforme
a acusação do Ministério Público Federal.
De acordo ela, dois pacotes com notas altas de euros
estavam escondidos em dois bolsos na parte de trás da calça jeans que ela
usava. "Eu me sinto injustiçada porque fui presa no dia 14 de março, que
eu estava indo a Milão, não estava fugindo do país", disse. Durante seu
depoimento, Nelma ainda se levantou e mostrou como teria guardado o dinheiro no
bolso.
Ainda durante o seu depoimento, o deputado Altineu
Côrtes (PR-RJ) perguntou se Nelma tinha sido amante do doleiro Alberto Youssef.
"Eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma
palavra que engloba tudo. Amante é esposa, amante é amiga", respondeu a
doleira. No final da resposta, Nelma ainda brincou e cantou um trecho da música
"Amada Amante", de autoria de Roberto Carlos.
Nelma Kodama também declarou que nunca teve nenhum contato
com o PT ou outro partido político. "Meu desejo é que a CPI possa chegar a
uma conclusão, que os culpados sejam culpados e que tudo isso [o sistema] seja
mudado", disse a doleira investigada. Ela revelou que tenta obter um
acordo de delação premiada, e que não poderia responder a algumas perguntas.
Renê Luiz
Pereira
Já condenado a 14 anos de prisão, após ser apontado
como o responsável por 698 kg de cocaína apreendidos em novembro de 2013, em
Araraquara (SP), Pereira também optou pelo silêncio. Ele falou algumas
ocasiões, apenas para negar ter relacionamentos com políticos.
Questionado se conhecia alguns envolvidos presos pela
operação, como Nelma e Youssef. Rene disse que conheceu todos na carceragem da
Polícia Federal, em Curitiba.
Dono do Posto da Torre, um posto de combustíveis em
Brasília, que foi usado para lavagem de dinheiro e que inspirou o nome e deu
origem à Operação Lava Jato, o doleiro também ficou em silêncio. Ele já foi
condenado em dois processos da operação, somando dez anos e três meses de pena.
Ele se recusou a responder todas as perguntas dos
parlamentares, mas discutiu com o deputado Delegado Waldir (PSDB-GO), que o
acusou de ser traficante. Chater disse que Waldir deveria "fazer o dever
de casa", para saber que ele não teve qualquer condenação por tráfico.
"Tu é bandido. Abaixa o dedo", retrucou Waldir.
Ricardo
Hoffmann.
O último depoimento do dia foi do empresário Ricardo
Hoffmann, que também decidiu não falar. Ele é suspeito de intermediar contratos
fraudulentos de publicidade com o Ministério da Saúde, com a ajuda do
ex-deputado federal André Vargas.
Durante o depoimento, a deputada Eliziane Gama
(PPS-MA) defendeu que a CPI quebre os sigilos fiscais, telefônicos e bancários
dos investigados que têm prestado depoimento à comissão.
Já Ônix Lorenzoni (DEM-RS) lembrou de quando
participou da CPI dos Correios, que culminou no processo do Mensalão. Ele disse
que deseja a Ricardo Hofmann o mesmo destino de outro publicitário, Marcos
Valério, que cumpre mais de 40 anos de prisão.
Fonte: Agência O Globo.
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