'Não foi a Petrobras que inventou o cartel', disse ex-diretor à CPI.
Ele relacionou nomes de políticos que teriam se beneficiado.
O ex-diretor de Refino e Abastecimento Paulo Roberto Costa afirmou
nesta terça-feira (5) em depoimento à CPI da Petrobras, na Câmara dos
Deputados, que a origem da corrupção na estatal teve origem em “Brasília”, por
ação de “maus políticos”.
Costa compareceu à CPI pela terceira vez para prestar
depoimento. Nas duas primeiras, preferiu ficar calado e não responder aos
questionamentos dos parlamentares. Desta vez, decidiu falar.
“Isso a corrupção aconteceu por atitudes de maus
políticos,. Não foi a Petrobras que
inventou o cartel de empresas, não foi o diretor que inventou. A origem, a
gênese, foi aqui em Brasília”, afirmou Costa.
Em seguida, Costa listou políticos que teriam se
beneficiado do pagamento de propina, conforme já havia relatado em seus
depoimentos à Justiça.
"Da minha parte, foram os políticos que já citei
na minha delação, que é de conhecimento público, políticos do PP, do PMDB do
PT”, disse.
Ao tentar se lembrar dos nomes provocou risos na platéia
ao relatar a dificuldade que tinha em se citar todos. “São tantos que me fogem
os nomes”, justificou.
“Do PP, começou com José Janene, já falecido,
prosseguiu com o Mário Negromonte e o senador Ciro Nogueira PP-PI. No PMDB, o
senador Renan Calheiros, PMDB, AL, presidente do Senado, deputado Aníbal Gomes,
PMDB-CE, e senador Romero Jucá, PMDB-RR. Do PT, tive contato com o senador
Lindbergh Farias, PT-RJ, senador Humberto Costa, de Pernambuco”, afirmou.
Costa disse aos integrantes da CPI que fez
"contatos" com esses parlamentares. Integrantes da comissão perguntaram
a ele qual era o tipo do contato. "Contato que eu falo é situação
irregular", disse Costa.
Indagado se havia alguém do governo com quem tenha
feito "contato", mencionou o senador Edison Lobão (PMDB-MA),
ex-ministro das Minas e Energia. "O ministro Edison Lobão foi também
mencionado no depoimento da delação premiada. Quando digo mencionado, quero
dizer que foi com problema", afirmou.
Todos os parlamentares mencionados estão entre os investigados
em inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) e negam
envolvimento, conforme Costa afirmou ao Ministério Público em
depoimento por meio de acordo de delação premiada (pelo qual obtém benefícios,
como redução da pena, se colabora com as investigações).
O deputado André Moura (PSC-SE), um dos sub-relatores,
insistiu em saber para quem o ex-diretor prestava contas, mas Costa disse apenas
que o esquema tinha tido origem em Brasília.
Ao deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Costa
admitiu, porém, que haverá mais desdobramentos da Operação Lava Jato, com
revelações de fatos novos. “Eu não tenho dúvida disso. Promotores têm dito que
novas fases virão”, afirmou.
Campanha
de 2010.
Costa reafirmou depoimento dado anteriormente à
Justiça de que houve um repasse da cota que era do PP para a campanha da
presidente Dilma Rousseff em 2010. “Houve pedido de
R$ 2 milhões para a campanha da presidente Dilma, sim”, disse
Costa
Ele reconheceu ainda que o esquema na Petrobras foi
mantido com o aval de partidos para atender a interesses das legendas.
“Obviamente que houve interesse partidário para que isso prosseguisse”, disse.
Sobre o impacto da corrupção nas contas de 2014
da Petrobras, o ex-dirigente, porém, atribuiu a maior parte do prejuízo
registrado no ano passado à má gestão.
“Não estou me eximindo de nenhuma culpa, sou culpado,
estou pagando por isso, minha família está pagando por isso. Mas se tem que
entender que a Lava Jato foi só 10%”, disse.
Costa relatou ter levado ao Conselho de Administração
em 2010, 2011 e 2012 estudos que apontavam a necessidade de reajuste nos preços
da gasolina e do diesel. No entanto, as sugestões acabaram rejeitadas pelo
então presidente do conselho, que à época era o ex-ministro Guido Mantega.
Doações de
empresas.
No depoimento, Costa afirmou aos deputados da CPI que
investiga desvios de recursos da estatal, que não há "almoço de
graça" e que empresas fazem doações oficiais a
campanhas eleitorais para “cobrá-los” depois.
Um dos argumentos utilizados pelo tesoureiro
licenciado do PT, João Vaccari Neto, para justificar as doações obtidas de
empresas investigadas na Operação Lava Jato é que foram realizadas legamente,
mediante recibo e com registro na Justiça Eleitoral. O Ministério Público
afirma que parte das doações oficiais a partidos foi feita com recursos
oriundos do superfaturamento de obras da Petrobras.
De acordo com Paulo Roberto Costa, que negou conhecer
Vaccari, várias doações oficiais dessas empresas são oriundas de propina obtida
nos contratos entre Petrobras e empreiteiras. "Isso está se comprovando
pelas delações, que várias doações oficiais vieram de propina, isso está
claro", afirmou. "Não existe almoço de graça”, disse Costa.
Fonte: Agência O Globo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário