COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
Nobres:
Os relógios dos governantes brasileiros que detêm a
responsabilidade institucional de zelar pelo bem público perderam o ponteiro
que deveria marcar a hora da verdade. Infindáveis são as confissões, as
evidências e as provas cabais que a Operação Lava Jato já levantou a respeito
da roubalheira de que foi vítima a Petrobras, mas parece que os gestores
responsáveis ainda não se deram conta da necessidade de fazer o mínimo daquilo
que deles se esperava: reconhecer publicamente e plenamente o desleixo a que
relegaram a administração da maior e mais importante estatal brasileira ao
longo de tanto tempo. O Palácio do Planalto tinha pleno conhecimento das
estripulias que ocorriam no submundo da Petrobras. A teia de relações
incestuosas entre agentes públicos e figurões da iniciativa privada é extensa e
profunda o suficiente para que até mesmo o mais simplório dos observadores logo
possa perceber que seria impossível que os mais altos escalões da República não
soubessem dos malfeitos. Entretanto, “os mais altos escalões da República”
continuam a afirmar que de nada sabiam. Ao contrário, insistem na tese de que a
corrupção deslavada se dava muito longe de seus interesses políticos e era obra
tão-somente de servidores da Petrobras que corriam atrás de proveito pessoal. Ao
mesmo tempo em que a Lava Jato segue seu caminho no campo judicial, a CPI
instaurada no Congresso ouve também os envolvidos já indiciados no processo alguns
dos quais signatários de acordos de delação premiada. Um dos depoentes
convocados pela CPI que provisoriamente se instalou em Curitiba no Paraná foi o
doleiro Alberto Youssef que, ao responder a uma pergunta específica, disse ter
certeza (embora não pudesse provar) de que o Palácio do Planalto tinha pleno
conhecimento das estripulias que ocorriam no submundo da Petrobras. Ainda que a
credibilidade de Youssef seja questionável, a lógica dos fatos já comprovados
leva, no mínimo, a duas conclusões, ambas desabonadoras: (1) se os presidentes
da República sob cujos mandatos transcorria a grossa corrupção e se ministros
sob cuja guarda estava a administração da Petrobras nada sabiam sobre o que
ocorria debaixo de seus narizes comprova-se a irresponsabilidade gerencial e
política de todos eles; e (2) se sabiam e não tomaram medidas de rigorosa
contenção, cometeram crimes de improbidade administrativa e de
responsabilidade. Impossível para eles continuar mantendo indefinidamente a
postura de avestruzes, ainda que, timidamente, venham admitindo o que antes
negavam isto é, que a Petrobras estava infestada pela corrupção. Um exemplo são
os áudios das reuniões do Conselho de Administração da Petrobras, recentemente
divulgados pela imprensa, em que Graça Foster, então presidente do Conselho,
admite que a companhia esteja “míope” diante de tanta corrupção, percepção
corroborada por outros integrantes da administração da empresa, que chegaram a
questionar a existência de um sistema de controle interno para tentar averiguar
os casos de corrupção, uma vez que apenas “peões” eram investigados e não os
verdadeiros responsáveis. Para Graça, a Java Jato seria um “fato tenebroso”
para a companhia e o verdadeiro saldo do rombo causado pela corrupção seria
impossível de ser determinado neste momento. “Só daqui a três, cinco ou dez
anos. Quando tudo isso for julgado e sair o valor dessa operação toda”, disse
Graça aos conselheiros presentes na reunião. Triste saber que muita sujeira
ainda está para emergir das investigações, depoimentos e provas documentais que
não param de vir à tona. Mas mais triste ainda será caso prevaleça à impunidade
ou se apenas os mais baixos escalões forem os meros “peões”, ao final, responsabilizados.
Neste contexto a sociedade racional expressa desta forma e com transtorno o
destino dominado por redes criminosas.
Antônio
Scarcela Jorge.
Nenhum comentário:
Postar um comentário