quinta-feira, 21 de maio de 2015

COMENTÁRIO - SCARCELA JORGE - 'QUINTA-FEIRA', 21 DE MAIO DE 2015

­­­COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge.

SEGMENTO DO POVO APLAUDE A IRRESPONSABILIDADE DO GOVERNO QUE AÍ ESTAR.

Nobres:
Os relógios dos governantes brasileiros que detêm a responsabilidade institucional de zelar pelo bem público perderam o ponteiro que deveria marcar a hora da verdade. Infindáveis são as confissões, as evidências e as provas cabais que a Operação Lava Jato já levantou a respeito da roubalheira de que foi vítima a Petrobras, mas parece que os gestores responsáveis ainda não se deram conta da necessidade de fazer o mínimo daquilo que deles se esperava: reconhecer publicamente e plenamente o desleixo a que relegaram a administração da maior e mais importante estatal brasileira ao longo de tanto tempo. O Palácio do Planalto tinha pleno conhecimento das estripulias que ocorriam no submundo da Petrobras. A teia de relações incestuosas entre agentes públicos e figurões da iniciativa privada é extensa e profunda o suficiente para que até mesmo o mais simplório dos observadores logo possa perceber que seria impossível que os mais altos escalões da República não soubessem dos malfeitos. Entretanto, “os mais altos escalões da República” continuam a afirmar que de nada sabiam. Ao contrário, insistem na tese de que a corrupção deslavada se dava muito longe de seus interesses políticos e era obra tão-somente de servidores da Petrobras que corriam atrás de proveito pessoal. Ao mesmo tempo em que a Lava Jato segue seu caminho no campo judicial, a CPI instaurada no Congresso ouve também os envolvidos já indiciados no processo alguns dos quais signatários de acordos de delação premiada. Um dos depoentes convocados pela CPI que provisoriamente se instalou em Curitiba no Paraná foi o doleiro Alberto Youssef que, ao responder a uma pergunta específica, disse ter certeza (embora não pudesse provar) de que o Palácio do Planalto tinha pleno conhecimento das estripulias que ocorriam no submundo da Petrobras. Ainda que a credibilidade de Youssef seja questionável, a lógica dos fatos já comprovados leva, no mínimo, a duas conclusões, ambas desabonadoras: (1) se os presidentes da República sob cujos mandatos transcorria a grossa corrupção e se ministros sob cuja guarda estava a administração da Petrobras nada sabiam sobre o que ocorria debaixo de seus narizes comprova-se a irresponsabilidade gerencial e política de todos eles; e (2) se sabiam e não tomaram medidas de rigorosa contenção, cometeram crimes de improbidade administrativa e de responsabilidade. Impossível para eles continuar mantendo indefinidamente a postura de avestruzes, ainda que, timidamente, venham admitindo o que antes negavam isto é, que a Petrobras estava infestada pela corrupção. Um exemplo são os áudios das reuniões do Conselho de Administração da Petrobras, recentemente divulgados pela imprensa, em que Graça Foster, então presidente do Conselho, admite que a companhia esteja “míope” diante de tanta corrupção, percepção corroborada por outros integrantes da administração da empresa, que chegaram a questionar a existência de um sistema de controle interno para tentar averiguar os casos de corrupção, uma vez que apenas “peões” eram investigados e não os verdadeiros responsáveis. Para Graça, a Java Jato seria um “fato tenebroso” para a companhia e o verdadeiro saldo do rombo causado pela corrupção seria impossível de ser determinado neste momento. “Só daqui a três, cinco ou dez anos. Quando tudo isso for julgado e sair o valor dessa operação toda”, disse Graça aos conselheiros presentes na reunião. Triste saber que muita sujeira ainda está para emergir das investigações, depoimentos e provas documentais que não param de vir à tona. Mas mais triste ainda será caso prevaleça à impunidade ou se apenas os mais baixos escalões forem os meros “peões”, ao final, responsabilizados. Neste contexto a sociedade racional expressa desta forma e com transtorno o destino dominado por redes criminosas.
Antônio Scarcela Jorge.


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