João Batista
Pontes.
OS OBSTÁCULOS À ECONOMIA SOLIDÁRIA.
Há muitos anos, ao visitar uma comunidade de
pescadores no litoral norte do Estado do Paraná, observei logo na chegada uma
construção de alvenaria, contrastando com o casario de madeira que predominava
na comunidade, por sinal muito carente, habitada pelos chamados “caiçaras”. Ao
adentrar a edificação, fiquei ainda mais intrigado: Lá dentro havia câmaras
frigoríficas em adiantado estado de deterioração e, aparentemente, sem mais
condições de uso. Procurei me informar sobre a história daquela instalação
e fiquei sabendo que fora construída por meio de um programa governamental de
apoio à pesca artesanal.
O objetivo era possibilitar aos pescadores condições
de conservar o pescado por alguns dias para depois levá-los para venda em
Paranaguá, principal cidade daquela região. Com a venda direta eles poderiam
aumentar a renda individual, eliminando a ação dos “atravessadores”. Intrigado, procurei investigar os motivos que levaram os
pescadores a não utilizar as referidas instalações, que lhes foram cedidas
gratuitamente e que pareciam adequadas para a conservação do pescado. E a
explicação era simples: havia na colônia algumas pessoas que compravam o
pescado diariamente dos pescadores, armazenavam e depois vendiam em Paranaguá.
Esses “intermediários” tinham também mercearias e forneciam mercadorias que os
pescadores necessitavam especialmente mantimentos. Sem condições financeiras,
os pescadores entregavam diariamente o produto de seu trabalho aos referidos
comerciantes. Além do mais, a maioria destes já tinham acumulado grandes
dívidas com os “atravessadores”, passando a viver numa verdadeira situação de
escravidão. Neste contexto, os “intermediários” deixaram claro que todo
pescador que decidisse utilizar a instalação, não teria mais crédito em seus
estabelecimentos comerciais. E nenhum dos pescadores tinha condições de se
manter sem aquele crédito. E o programa do governo fracassou por falta de
identificação dos obstáculos que poderiam impedir o alcance dos seus objetivos.
Tivessem feito um diagnóstico correto, teriam visualizado a necessidade de
concessão de um pequeno empréstimo inicial aos pescadores para que estes se
libertassem dos “atravessadores”, tendo condições de se manterem por alguns
dias sem a renda do pescado, bem como desenvolvido ações voltadas à
conscientização sobre as vantagens de estruturação de uma economia solidária.
Temos aí um exemplo claro, ainda que rudimentar, de
como o capitalismo se estrutura e como se processa a concentração de capital,
que deságua no fosso separador de pobres e ricos.
Aí está o primeiro, e talvez o maior obstáculo, à
estruturação e consolidação de uma economia solidária – por meio de associações
e cooperativas-, organizações voltadas predominantemente ao desenvolvimento
integral do ser humano como sujeito, ator e fim da economia. Esses “obstáculos”
estão dentro da própria comunidade e agem contra a organização e estruturação
da economia solidária por interesse pessoal, um tipo de egoísmo exacerbado –
querem acumular mais e mais dinheiro, e posses, e poder. - E eu acredito que a economia solidária é o único
movimento capaz de responder às grandes ameaças que a concentração empresarial
e a exclusão social representam contra a democracia e a paz social.
*João
Batista Pontes, novarrussense – escritor - geólogo – sociólogo - matemático – consultor legislativo inativo do Senado Federal - área
Orçamento Público.
– bacharelando em direito.
– residente em Brasília DF.
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