sexta-feira, 25 de abril de 2014

OPINIÃO DO PROFESSOR GONZAGA MOTA

DIÁRIO DO NORDESTE

COLUNA – IDÉIAS – OPINIÃO

Boemia

Algumas pessoas pensam que a vida de um boêmio é irresponsavelmente boa. Nem sempre. Na maioria das vezes é cheia de sofrimento refletido na mesa de um bar, sem a companhia desejada e ouvindo musicas sentimentais que batem sem dó no coração. Eis o caso do Paulo. Homem bom, não desejava e não fazia mal a ninguém, talvez somente a ele. Marcou com a linda Alice, numa noite de lua cheia, um encontro no bar do "seu" Joaquim, localizado na rua capitão Romão, próximo à praia dos prazeres. Chegou ao local combinado, como convém a qualquer cavalheiro, com meia hora de antecedência. Procurou e encontrou uma mesa com apenas duas cadeiras. Feliz da vida pediu uma cerveja bem gelada e um par de copos. Solicitou a segunda e a terceira garrafa. Alice estava demorando. Já era tarde, duas horas da madrugada. Alice não chegava. Ao seu lado, um casal bebendo e alegre, comemorava o encontro, pois com certeza, antecederia momentos de prazer. Em outra mesa, três boêmios, acompanhados por um violão de sete cordas, cantavam Lupicínio Rodrigues: "Nunca", "Vingança", "Castigo", "Volta" e outras belas composições. Paulo já estava na quarta garrafa de cerveja, envolto numa tristeza oceânica e dominado por forte desilusão. Ela não mais virá. Olhando para a "Cadeira Vazia" a sua frente, resolveu ir embora. Magoado, quase chorando e cabisbaixo, caminhando pelas ruas desertas, pensou: Alice me enganou. Tentava esquecer, cantarolando: "a vergonha é a herança maior que meu pai me deixou". Força Paulo, a vida é assim.

Gonzaga Mota.



*Gonzaga Mota - Professor – Escritor – Economista – bancário (inativo) – ex Secretário de Planejamento do Estado – ex GOVERNADOR DO CEARÁ e ex – Deputado Federal.

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