Na transcorrência dos cinquenta
anos da Revolução de 31 de Março de 1964, ou da ditadura ou do golpe militar,
como querem outros, muita raiva foi destilada pelos meios de comunicação, com
vozes condenando a deposição do presidente João Goulart. Jango, como era
comumente tratado, ostentava como lema de governo as chamadas “reformas de
base: a reforma agrária, a previdenciária, a bancária, a educacional, a
limitação de remessa de lucros para o exterior, e outras, como a defesa do
“petróleo é nosso”“. Deixou-se, porém, envolver por uma multidão de pelegos
incrustados nos sindicatos e nos cargos públicos de maior ou menor relevância,
os quais passaram a ditar e a comandar a vida do país, programando greves em
setores vitais, paralisando os setores produtivos, e pondo em cheque a própria
autoridade do governo. O quadro de perturbação e de incerteza quanto ao futuro
evoluiu de tal modo a ponto de a imprensa exigir imediatas providências para
conter o caos político e administrativo. O mundo, àquele tempo, estava no auge
da Guerra Fria - o comunismo ameaçava estender sua área de influência, sendo
Cuba a ponta de lança no continente americano. Os Estados Unidos estavam
vigilantes diante da nova situação. Essa conjugação de fatores funcionou como
uma conjuração para implodir o governo de Jango, considerado incapaz de conter,
por um lado, a ação nefasta dos pelegos e, de outro, o clamor da classe média,
organizada em passeatas, com o apoio da Igreja e da grande imprensa. Caiu o
governo constitucional por incompetência, como ontem caia o Império e nascia a
República.
Eduardo Fontes
Jornalista e administrador.
*Publicado na edição de hoje DN.
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