terça-feira, 15 de abril de 2014

OPINIÃO - COLUNA - LEITORES - DN.

 INCOMPETÊNCIA

Na transcorrência dos cinquenta anos da Revolução de 31 de Março de 1964, ou da ditadura ou do golpe militar, como querem outros, muita raiva foi destilada pelos meios de comunicação, com vozes condenando a deposição do presidente João Goulart. Jango, como era comumente tratado, ostentava como lema de governo as chamadas “reformas de base: a reforma agrária, a previdenciária, a bancária, a educacional, a limitação de remessa de lucros para o exterior, e outras, como a defesa do “petróleo é nosso”“. Deixou-se, porém, envolver por uma multidão de pelegos incrustados nos sindicatos e nos cargos públicos de maior ou menor relevância, os quais passaram a ditar e a comandar a vida do país, programando greves em setores vitais, paralisando os setores produtivos, e pondo em cheque a própria autoridade do governo. O quadro de perturbação e de incerteza quanto ao futuro evoluiu de tal modo a ponto de a imprensa exigir imediatas providências para conter o caos político e administrativo. O mundo, àquele tempo, estava no auge da Guerra Fria - o comunismo ameaçava estender sua área de influência, sendo Cuba a ponta de lança no continente americano. Os Estados Unidos estavam vigilantes diante da nova situação. Essa conjugação de fatores funcionou como uma conjuração para implodir o governo de Jango, considerado incapaz de conter, por um lado, a ação nefasta dos pelegos e, de outro, o clamor da classe média, organizada em passeatas, com o apoio da Igreja e da grande imprensa. Caiu o governo constitucional por incompetência, como ontem caia o Império e nascia a República.

Eduardo Fontes
Jornalista e administrador.





*Publicado na edição de hoje DN.

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