Antes da era digital, em quase
todas as famílias existia um álbum de fotos ou uma caixa de sapatos cheia de
fotografias. Lá estavam as nossas lembranças, os nossos registros afetivos.
Muitas vezes abríamos o álbum ou a caixa e a imaginação voava. Agora, fotografamos
tudo e arquivamos compulsivamente. Nossa antiga caixa de sapatos foi
substituída pelas galerias de fotos de nossos dispositivos móveis. Temos
overdose de fotos, mas falta o mais importante: a memória afetiva, a curtição
daqueles momentos. Também consumimos informação. Navegamos no espaço virtual.
Uma enxurrada de estímulos
dispersa a inteligência. Ficamos reféns da superficialidade. Perdemos contexto
e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa
sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os
editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente.
"Hoje", dizia Nelson Rodrigues, “ninguém imagina o que eram as velhas
gerações românticas da imprensa”. Mudaram o jornal e o leitor. No ano passado,
houve uma chuva inédita, flagelando a cidade. Desde Estácio de Sá, não víamos
nada parecido.
E todo mundo morreu e desabou, e
se afogou, menos o repórter. Não houve uma baixa na reportagem. Fez-se a
cobertura do dilúvio e ninguém ficou resfriado, espirrou, ou apanhou uma reles
coriza. Por aí se vê entre a imprensa moderna e o fato uma distância fatal. O
repórter age e reage como um marginal do acontecimento. Antigamente, não. O
profissional sofria o fato na carne e na alma". O jornalismo precisa
recuperar a vibração da vida, o cara a cara, o coração e a alma.
Carlos Alberto Di Franco
Professor e doutor em Comunicação.
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