quinta-feira, 6 de novembro de 2014

COMENTÁRIO - SCARCELA JORGE - QUINTA-FEIRA, 6 DE NOVEMBRO DE 2014

COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.

FUSTIGADA REFORMA POLÍTICA, SERIA CONTRASSENSO SEM A PARTICIPAÇÃO DO POVO.

Nobres:
Tanto o primeiro discurso de Dilma quanto sua primeira derrota no Congresso após a reeleição sinaliza algo há muito esperado, a reforma política. Por certo há unanimidade de princípio: todos concordam que deve haver mais democracia, que o ideal “todo o poder emana do povo” estampado na Constituição deve ser mais bem concretizado. Assentimento sobre o ideal, entretanto, não representa concordância na sua efetivação. De nada adianta dizer que chamará Aécio e Marina para discutir o tema se, na prática, há uma tentativa de passar dita reforma por decreto. Um dos principais argumentos do Congresso para derrubar o Decreto 8.243 foi a invasão da sua competência. Para deixar de ser um ideal, onde todos concordam, mais do que chamar Aécio e Marina, será preciso reconhecer o Legislativo enquanto poder constituído e legítimo. A má prática de atropelar o Congresso seja por decreto, seja por medida provisória demonstra o caráter antidemocrático da tentativa de reforma política. Sem um amplo debate público, não haverá concordância mínima para a reforma. Essa derrota, ao menos, ilumina a questão. A invasão da esfera legislativa certamente não foi o principal motivo da revolta afinal, tal esfera tem sido atravessada há muito tempo. Por trás da rejeição do decreto, há uma discordância de meios. Por um lado, o governo entende que a criação de um sistema centralizado, sob o comando da Secretaria-Geral da Presidência, seria o caminho. Há outro, contudo. Um país continental, com população plural e com diferentes realidades regionais, deveria, em vez de centralizar ainda mais o poder, descentralizá-lo. É artificioso pensar que participação aumenta com centralização. A ampliação da participação do povo só existirá quando o poder for mais bem partilhado. Significa dizer: fortalecer Estados e, principalmente, municípios. Quem melhor que os cidadãos, ou seja, o povo para conhecer os problemas e as prioridades da sua região? A profunda reforma política, com incremento quantitativo e qualitativo da “participação direta”, só pode acontecer nos municípios, de modo que o povo possa exercer o poder de onde efetivamente está. Afinal, o povo não está em Brasília, e sim em todas as cidades. é que todos pensamos, mesmo, de forma eclética e racional.

Antônio Scarcela Jorge.

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