... O BBC,
O SONHO AZUL E O FUMAÇA ...
Professor
Antônio Roberto
Os anos sessenta são por demais lembrados por minha geração. Foram anos
excepcionais que marcaram também as outras que se seguiram. Os Kennedy, a crise
dos mísseis de Cuba (quase que a humanidade foi deletada), Beatles, Martin
Luter King, João XXIII, De Gaulle, Juscelino, A “Gloriosa”, Vietnam, Meu
Vestibular, Caetano, Um Pé na Lua, Roberto Carlos, Gil, Mao Tse Tung, Chico
Buarque, Pelé, Kruschev, A Pílula. Enfim, uma enorme gama de pessoas, inventos
e episódios que aconteceram e ficaram de maneira arraigada na nossa mente.
Mas, esquecidos de tudo que acontecia,
nós curtíamos o Grêmio Recreativo de Nova-Russas. Bem concebido e planejado
apresenta boa altura e amplos ambientes. Bem posicionado na direção norte X sul
é arejado e é de bom estar, bem avançado para este interior de meu Deus. Na sua
origem existia uma pista de dança em baixo relevo e de forma oval. A “pista
oval” era o local das tertúlias. Duas por semana, nas festas, usava-se o salão
com piso de madeira, mui chique! A vitrola carregada com seis LPs primava num
Nat King Cole, Nelson Gonçalves, sambas e muitos boleros. Só muito tempo depois
aprendi a dançar o “miudinho”. Naquela pista namoraram muitos casais que hoje
têm muitos netos. A lâmpada por sobre ela estava sempre queimada. Era a
história da raposa e das uvas de Reginaldo Rossi. Só pegávamos umas poucas e
nada mais...
Vivíamos numa sociedade com suas regras hoje ditas “preconceituosas”. Mas era a
época e era a época. Beijos eram escondidos, quando em público era um
escândalo. Assuntos íntimos, só com três meses de namoro, uma confusão no
recinto do Clube era motivo de punição!
Por quase toda a década, a
energia elétrica era cortada às onze horas da noite, então tudo parava às dez e
trinta. A mulherada ia para casa e os homens em geral ficavam pela avenida ou
calçada da Igreja Matriz, no escuro. Usávamos lanternas. Os mais afoitos
combinavam e iam para os cabarés. Havia três lupanares em NVA, todos na parte
alta da cidade, que se dizia, “lá no alto” e que eram: O BBC, o SONHO AZUL e o
FUMAÇA, cujo dono era Antonio Tomás. Durante a Segunda Guerra Mundial inventava-se
de ir ouvir a famosa BBC de Londres, pois no ambiente funcionava um rádio, com
bateria de caminhão, coisa rara naqueles tempos. O costume pegou e ficou o nome
BBC, onde a freguesia era para quem tinha dinheiro. O Fumaça era o mais viável,
íamos então, para o Antonio Tomás. Homem valente que botava moral no comércio
dele.
Certa vez, quando brochote (mistura de broto com pixote), fui com uma turma
para o Antonio Tomás Erámos muitos jovens juntos, todos filhinhos de
papai, como se dizia, de modo que foram levados a fazer baderna. Qual o que?
Sem essa de polícia, Antonio Tomás arrancou com um cacete na mão e correu com
todo mundo dizendo: Aqui não! Vão fazer esculhambação lá no Grêmio de vocês,
bando de fidumas éguas! No outro dia vem o Dr. Osvaldo: Rapaz o que era que tu
andavas fazendo lá pelo “alto”?
*Antônio
Roberto Mendes Martins.
- Mestre em Física –
Professor Universitário (UFC) novarrussense –
residente em Nova-Russas.
Em tempo: "imagens fotográficas - do
Blogueiro."
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