COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
AÇÕES MERITÓRIAS DAS INSTITUIÇÕES DE
ESTADO.
Nobres:
Não conseguimos crer porque o governo,
como gestor da Petrobras não conseguiu explicar e por que demorou a reagir e a
participar dos esforços pelos aclaramentos. A reação do Executivo não pode
ficar aquém da dimensão desses que é enfrentado, pelas somas envolvidas, como o
maior episódio de corrupção do país. Há elementos de uma ação histórica na
operação desencadeada anteontem pela Polícia Federal, que resultou na prisão de
empresários e executivos acusados de envolvimento no escândalo da Petrobras.
Foi cumprida uma das etapas decisivas para a total compreensão dos desmandos,
para a identificação dos criminosos e a definição de punições pela Justiça. A
PF oferece, assim, uma resposta a quem se interrogava a cada novo caso, por que
os que corrompem poucas vezes aparecem e muito raramente deixam de desfrutar da
impunidade. Os detidos desta vez são suspeitos de atuar como corruptores nos
altos escalões de empreiteiras, conforme indícios levantados na delação
premiada que vem orientando a polícia e o Ministério Público. O impacto
produzido pela operação fortalece as melhores expectativas em torno do desfecho
do caso que, por conivência do governo, transformou a maior estatal brasileira
no reduto do superfaturamento. As propinas e a distribuição de dinheiro a
servidores e políticos denunciaram um Executivo no mínimo omisso diante de
delitos graves. As nove empresas sob investigação prestam serviços em contratos
calculados em R$ 59 bilhões. São muitas as evidências de que as empreiteiras
desembolsavam altas somas a diretores da Petrobras, para que o dinheiro fosse
depois compartilhado. Depoimentos de um doleiro e de um ex-dirigente da estatal
desvendaram o esquema em que o sobrepreço de cada contrato somente se viabilizava
com o pagamento de comissões. Com a prisão dos corruptores, as investigações
chegam a uma das pontas geralmente imunes a sindicâncias e tentativas de enquadramento
na legislação penal. É ingênua a interpretação, presente em casos semelhantes,
de que grandes grupos empresariais se submetiam às ordens de quadrilhas para
assim poder dispor de benefícios. Corruptores não são vítimas, são
viabilizadores de crimes contra o patrimônio público, mesmo em empresas com
capital aberto, como é o caso da Petrobras, cujo controle acionário pertence ao
Estado. O que as prisões e as investigações precisam elucidar é a forma de
atuação dos grupos que saqueavam a estatal e, a partir disso, chegar também aos
beneficiários da partilha. A identificação dos políticos que teriam desfrutado
do esquema é a próxima etapa das investigações. PF e MP estão, como demonstram,
cumprindo com suas atribuições como organismo de Estado brasileiro.
Antônio Scarcela Jorge.
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