COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
O IMPÉRIO DA CORRUPÇÃO.
Nobres:
É
sistematicamente tido como imprevisível à conduta do político no grau em que prosseguem
as investigações sobre o escândalo da Petrobras, o país mergulha numa crise de
indignação, incerteza e desconfiança que ameaça sua normalidade social e
econômica, mas não pode prejudicar a sua normalidade institucional. A situação
é grave. Nunca se viu um episódio de corrupção com valores tão elevados e
tamanho potencial de danos à economia, à sociedade e à própria administração
pública. Porém, as instituições democráticas estão sólidas. Se o Congresso, o
Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal cumprirem suas atribuições
constitucionais, o Brasil certamente atravessará essa turbulência e sairá dela
mais íntegro e mais respeitado. Por isso, cada brasileiro tem que acompanhar de
perto o episódio para poder fiscalizar seus representantes e cobrar soluções. Em
primeiro lugar, não dá mais para esconder o lixo sob o tapete. O que já veio a
público até agora, tanto pelas investigações da Polícia Federal quanto pelos
primeiros depoimentos dos investigados, indica a existência de um esquema
promíscuo entre agentes públicos, empresários e políticos, com revelações de
pagamento de propina, extorsão, fraudes em licitações e lavagem de dinheiro.
Mostra, ainda, que os valores subtraídos da sociedade brasileira são muito
elevados, deixando claro que nem o recrudescimento do rigor das instituições
contra a corrupção nos últimos anos foi suficiente para intimidar corruptos e
corruptores. As informações conhecidas até agora sobre os montantes desviados
dão uma ideia clara da desfaçatez. Basta lembrar que o mensalão o caso mais
rumoroso de corrupção julgado até hoje pelo Supremo Tribunal Federal (STF) teria
movimentado cerca de R$ 141 milhões no primeiro mandato do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Agora, só o valor que apenas um ex-gerente da estatal se
dispõe a devolver para alcançar os benefícios da delação premiada é de US$ 100
milhões. São mais de R$ 250 milhões, quantia muito superior à do mensalão. E
não é improvável que os recursos gerados no esquema de superfaturamento na
estatal tenham alcançado R$ 10 bilhões, total sem precedentes na história. Nessas
proporções, é certo que as consequências atingem os brasileiros de
maneira geral, e não se limitam aos bilhões de reais desviados. O desmonte do
esquema já afeta em cheio grandes empreiteiras, ameaça descontinuar obras
importantes por todo o país, o que pode gerar desemprego, afetar o sistema
financeiro, além de desgastar a imagem da economia brasileira perante investidores
e parceiros externos. Os prejuízos causados pelo esquema criminoso montado na
Petrobras prejudicam a todos, mas têm responsáveis que as instituições estão
desafiadas a identificar e punir. Nesse cenário desalentador, em que o
Executivo tem grande responsabilidade pela omissão diante de fatos há muito
conhecidos, a presidente Dilma Rousseff também está desafiada a dar respostas
convincentes e objetivas, a começar pela escolha imediata de um ministério
confiável, com atenção especial aos que precisarão enfrentar diretamente os
danos provocados por esse esquema aterrador, requer ação verdadeira imbuída as
atribuições pertinentes ao chefe de governo e do Estado brasileiro.
Antônio Scarcela Jorge.
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