Logo após as eleições, o governo
Dilma subiu as taxas de juros e a presidente falou em “fazer a lição de casa”,
sinalizando que haverá corte de gastos públicos para controlar a inflação. Na
bolsa de apostas para o futuro ministro da Fazenda, fala-se da necessidade de
contemplar o “mercado”.
Teria Dilma, como acusam seus opositores, traído seus
eleitores, ao tomar medidas que vão ao sentido contrário ao discurso de
campanha? Ainda é cedo para responder, afinal o segundo mandato de Dilma sequer
começou. É prudente lhe conceder o benefício da dúvida. Seja como for, não é
nenhuma novidade um governo do PT promover o chamado “ajuste”. Lula fez isto em
2003 quando elevou o superávit primário (a sobra de dinheiro para pagar os
juros da dívida pública); Dilma fez um forte ajuste fiscal em 2011 quando
comandou cortes de gastos na ordem de 1,2% do PIB. O problema não é o “ajuste”
em si, ou seja, o corte de gastos e o “fazer a lição de casa”, que apontam para
um compromisso – já assumido pelo PT desde 2002 com a Carta ao Povo Brasileiro
– de honrar os compromissos da dívida pública (a questão gira em torno a isso,
sempre lembrando que o que o país paga de juros aos bancos e instituições
financeiras por ano equivale a 10 vezes o orçamento do Bolsa Família). A
questão é o que se faz para além do ajuste. Lula emplacou uma agenda de cunho
distributivista, ancorada por uma conjuntura externa favorável, a alta dos
preços das chamadas commodities (ferro + soja). Agora a China está comprando
menos estas commodities e há anos o Brasil entrou num ritmo baixo de
crescimento, o que muitos economistas apontam como o cerne de nossos problemas.
Como Dilma vai lidar com isso ainda não se sabe. No imediato, sinaliza para um
“ajuste” – mas e depois, como continua o filme? Para completar a ressaca
pós-eleitoral, o governo reajustou o preço da gasolina (que vinha represado há
algum tempo) e na semana passada ficou-se sabendo que o número de miseráveis no
Brasil subiu de 10,08 milhões para 10,45 milhões entre 2012 e 2013. Um “desvio
estatístico” para o governo, mas que sinaliza, na melhor das hipóteses, que a
pobreza extrema deixou de cair, o que evidentemente é uma notícia ruim. Ainda
mais que “acabar com a miséria” foi a principal promessa de Dilma em 2010 –
promessa, como se viu, não cumprida (como a oposição não explorou isso na
campanha, já que os números eram segredo de polichinelo??). Em 2010,
economistas calculavam que para eliminar a miséria o Brasil precisaria crescer
a taxas anuais de 5% — o que ficou longe da realidade. A falta de crescimento
vai cobrando seu preço e mostrando suas consequências – este é o principal
desafio de Dilma para os próximos 4 anos. Sem crescimento, sua agenda social
poderá virar palavras ao vento – aí sim despontando os dentes da traição.
Rogério Jordão
*Rogério Pacheco
Jordão, 46, é jornalista e sócio-diretor da Fato Pesquisa e Jornalismo (FPJ),
empresa de consultoria nas áreas de pesquisa e editorial. Mestre em política - Paulistano, mora
no Rio de Janeiro.
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