DIREITO ELEITORAL É ÁREA
EM ALTA PARA ADVOGADOS
Há aumento substancial da demanda
por especialistas em legislação eleitoral nos últimos anos, provocada pela
crescente judicialização do processo eleitoral.
São Paulo - Na segunda quinzena
de fevereiro, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entregou ao Ministério da
Educação uma proposta de mudança no currículo dos cursos de Direito do País. Uma das novidades é a obrigatoriedade do ensino de legislação
eleitoral, historicamente relegado pelas faculdades à categoria de disciplina
opcional. O motivo, de acordo com a OAB, é o aumento substancial da demanda por
especialistas na área nos últimos anos, provocada pela crescente judicialização
do processo eleitoral.
"Até alguns anos atrás
tínhamos três ou quatro escritórios especializados em São Paulo. Hoje são
dezenas", disse Luciano Pereira dos Santos, da Comissão de Direito
Eleitoral da seção paulista da OAB.
Diante do aumento da demanda,
algumas faculdades se anteciparam e já incluíram a disciplina na grade
obrigatória dos cursos. "Com a judicialização da política, o direito
eleitoral se tornou um campo permanente de atuação jurídica, ao contrário do
que acontecia anos atrás, quando os escritórios especializados só eram
procurados na época das eleições", disse o professor Alysson Mascaro, do
Mackenzie, que tornará a disciplina obrigatória a partir do próximo semestre.
"Estamos atendendo a uma demanda do mercado."
Terceiro turno
Estatísticas do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) mostram que o número de processos em anos não eleitorais mais
que dobrou em menos de uma década. Em 2007, o TSE contabilizou 4.367 decisões.
Em 2013, esse número chegou a 10.890.
"No Brasil se instituiu o
fenômeno do terceiro turno eleitoral", disse o presidente da Comissão de
Direito Eleitoral da OAB, Norberto Campelo.
O motivo é o surgimento de novas
leis de iniciativa popular, como a Ficha Limpa, e o aumento das penas para
compra de votos. Com as novas regras, os candidatos procuram os escritórios até
um ano antes das eleições para resolver possíveis pendências e, em alguns
casos, continuam dependendo dos advogados após a posse para se defender de
pedidos de cassação.
"O Judiciário está muito
mais severo. Antes, a acusação tinha que ser muito grave para haver uma
cassação. Mas é verdade também que os políticos tem se tornado cada vez mais
corruptos", disse Alberto Rollo, um dos decanos do direito eleitoral
paulista, com 50 anos de atuação na área.
Não há estatísticas sobre o
mercado de direito eleitoral, mas é consenso entre advogados e políticos que o
nicho foi um dos que mais cresceram nos últimos anos. O escritório de Rollo,
por exemplo, que por quatro décadas contou só com ele próprio, hoje tem quatro
advogados associados e chega a contratar 25 auxiliares em ano eleitoral.
Além da atuação defensiva, os
advogados se tornaram ferramentas fundamentais nas campanhas. De acordo com
Rollo, a maior fonte de demandas judiciais no período eleitoral é a propaganda
no rádio, TV e internet, considerada a principal arma do marketing político
moderno. Partidos e candidatos contratam batalhões para esquadrinhar as peças
exibidas pelos adversários em busca de irregularidades que possam levar à perda
de minutos preciosos na TV.
Nesse cenário, os advogados foram
alçados a um status tão importante nas campanhas quanto o dos marqueteiros e
são objeto de disputa entre os partidos. É o caso de Helio Silveira, que
trabalhou para o PT em diversas eleições, assessorou a campanha de Marina Silva
à Presidência pelo PV em 2010 e hoje trabalha para o pré-candidato do PMDB ao
governo de São Paulo, Paulo Skaf. A perda do advogado para um adversário
desgastou o presidente do PT paulista, Emidio de Souza, na direção nacional da
sigla.
Ataque e defesa
A preocupação com as questões
jurídicas é tanta que partidos como PT e PSDB se preparam tanto para apontar
erros dos adversários quanto evitar problemas nos tribunais. No início de
fevereiro, a direção nacional petista reuniu todos os secretários estaduais de
comunicação para uma espécie de curso intensivo sobre o que é permitido ou
proibido nas propagandas partidárias e eleitorais.
Os advogados tucanos, por sua
vez, estão produzindo uma cartilha que será distribuída a todos os candidatos e
diretórios do partido. Fora isso, o PSDB montou uma força-tarefa que, a partir
de segunda-feira, vigiará tudo o que envolve o governo e o PT em todo o País
para fazer representações ao Ministério Público contra campanhas publicitárias
da presidente Dilma Rousseff e de ministros e de estatais que mostrem alguma
ligação com petistas.
"Vamos ter um time de
juristas que ficará vigilante a tudo o que acontece na pré-campanha e na
campanha", disse o deputado Carlos Sampaio (SP), coordenador jurídico da
pré-campanha do senador tucano Aécio Neves (MG) ao Planalto. Para Sampaio, a disputa
será difícil nas urnas e nos tribunais. "Vai ser uma batalha duríssima de
natureza jurídica."
Fonte informativa é do
jornal O Estado de S.Paulo.
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