Eunício era o sonho tornado realidade para as
oposições
30.03.2014
Foi um desfecho rápido. Os dois já sabiam o que dizer e ouvir. Agora,
sem caminho de volta, Eunício é a oposição.
A conversa do governador Cid
Gomes (PROS) com o senador Eunício Oliveira, na última sexta-feira, foi fria,
rápida, porém respeitosa, mas extremamente esclarecedora quanto ao fato de que
este não terá o apoio daquele na sua pretensão de ser candidato ao Governo do
Ceará. Ambos estavam preparados para o momento. Sabiam o que diriam e
escutariam um do outro, sempre com a preocupação de evitar ser esse ou aquele
acusado de ter dado margem ao rompimento de uma aliança cuja duração já
ultrapassou quatro eleições.
Embora não tenha surpreendido a
qualquer dos observadores mais atentos aos acontecimentos políticos do Estado,
o desfecho do encontro da última sexta-feira libertou esses dois políticos
cearenses da angústia que a ambos dominava. Um, o governador, querendo adiar ao
máximo uma definição dentro do grupo por ele liderado.
O outro, utilizando-se de todos
os espaços a ele conferidos pelo mandato e a condição de principal liderança do
seu partido, o PMDB, ter de buscar consolidar uma candidatura com as restrições
naturais a quem faz parte de uma aliança.
Oposição
A Eunício, a partir da próxima
semana, passado o prazo da desincompatibilização, na sexta-feira vindoura,
quando o governador terá renunciado ou não ao mandato, já deverá começar a
montar sua coligação com partidos hoje no campo das oposições, principalmente o
PSDB e o PR, visto estar aparentemente bem consolidada a coligação da qual o
PMDB fazia parte.
O senador peemedebista, se antes
era uma esperança dos adversários do Governo para encabeçar a chapa
concorrente, hoje é realidade, posto não ter outro caminho a seguir, por razões
várias, senão a de manter a candidatura anunciada, há algum tempo, em todo o
Estado.
Cid conhece, assim, o primeiro
adversário do seu candidato ao Executivo estadual. Esse fato não o fará, por
certo, antecipar o cronograma por ele próprio traçado para apresentar o ungido,
mas, não há dúvida que a partir de agora vai disponibilizar mais tempo à sua
sucessão.
Eunício, pela determinação já
demonstrada, com os meios disponíveis para um enfrentamento, incluindo-se no
rol o tempo para a propaganda eleitoral, no rádio e televisão, será um
candidato competitivo, também por ser atraente para muitos dos descontentes com
o Governo, até então carentes de um nome com expressividade. Os encontros que
promoveu ao longo ano passado e mais recentemente, a título de reorganização do
partido no Interior, garantiu ao senador uma ampla visibilidade e alimentou esperanças
de uma candidatura própria do PMDB ao Governo.
Renúncia
Cid falta decidir, nesta semana,
a parte mais importante do debate sucessório, no caso, dizer se fica ou sai do
Governo. A renúncia ao mandato é a questão urgente e central. Não há nada além daquilo
registrado pelo Diário do Nordeste, no último domingo, que por ter sido
inusitado, acabou sendo o tema norteador de todos os comentários sobre a
sucessão no Executivo cearense até hoje, principalmente após a sua confirmação
pelo próprio governador, um dia imediatamente após a publicação.
Qualquer que seja a decisão,
porém, ele só cuidará de nomes do seu grupo para a disputa de outubro, quando
se aproximar o mês das convenções partidárias, definido pelo Calendário
Eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral, que é junho. Até lá só especulação,
como tem ocorrido até aqui, do mesmo modo como aconteceu quando da última
eleição municipal.
O governador não tem conversado
sobre o assunto renúncia fora do ambiente familiar, ao que se sabe. Realmente é
uma decisão muito pessoal, embora reflita diretamente nas definições sobre
candidaturas e alianças. O núcleo central dos aliados está dividido. Os
interesses norteiam as observações. Há quem argumente em favor da saída.
De igual modo, outros têm dados
para justificar a permanência, inclusive acrescentando ter a ideia de renúncia
surgido em razão de o governador ter tido a intenção de tornar mais uma vez
pública a sua deferência ao irmão Ciro, a quem ele sempre destaca como sua
principal liderança e exemplo de homem público.
O vice-governador Domingos Filho,
peça importante no processo, não foi chamado para conversar com Cid sobre o sai
ou fica. Como ele, todos os outros pretensos candidatos ao Governo, dentro do
PROS, guardam grande expectativa, embora os que têm mais proximidade com Ciro,
especificamente os deputados José Albuquerque e Mauro Filho, por ouvirem
declarações de que não tem interesse em disputar a vaga de senador, são
enfáticos em afirmar que Cid fica no Governo.
O momento da definição, sabem os políticos,
é o mais doloroso de todo o processo para o líder. Há um conflito entre os
interesses pessoais e dos aliados, sem se falar naquele mais significativo,
para os políticos responsáveis, que é o futuro das administrações. Hoje, embora
existam afirmações categóricas sobre o fica ou sai, não erra quem afirmar ainda
existir dúvidas na cabeça do próprio governador sobre que decisão tomar. Ele
pode até resolver a questão, sem, contudo, ficar tudo bem definido na sua
cabeça. O prazo é fatal. Não há prorrogação.
Nos próximos cinco dias, o núcleo
central do Poder, como assinalamos no domingo passado, vai persistir
argumentando que, embora seja importante o próprio Cid cuidar dos projetos do
seu sonho (as obras em andamento), mais importante ainda é cuidar do futuro
político seu e dos liderados, no Estado e no campo nacional, ainda pelo fato
de, com ou sem Dilma Rousseff, 2018 projeta uma nova ordem política para o
Brasil, com favoráveis perspectivas para os políticos jovens, experientes e
limpos em plena atuação, compartilhando com os demais agentes e a própria
sociedade, sempre mais exigentes quanto às reações dos nossos representantes
políticos.
EDISON SILVA
EDISON SILVA
Editor de Política. – DN.
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