COMENTÁRIO
Scarcela
Jorge
Nobres;
Quando percebemos que alguém agiu em desconformidade
com a lei ou em sentido contrário ao dever, também somos tentados à síntese.
“Bandido” é a palavra mais forte para definir os que desrespeitam a lei.
“Egoísta”, “mau caráter” são expressões equivalentes para os que se apartam de
valores que temos como relevantes. As pessoas, assim são costumeiramente
retratadas como unidades homogêneas, boas ou más, honestas ou desonestas,
amigas ou inimigas. Esta mirada sobre os humanos, entretanto, cabe apenas nos
olhos das crianças. Adultos deveriam saber que “mocinhos” e “bandidos” são padrões.
Há figuras desprezíveis nela, claro, assim como pessoas admiráveis. Talvez as
primeiras sejam ordinárias e as segundas extraordinárias, o que diz mais a
respeito de todos nós do que gostaríamos de admitir. Entre elas, todavia, há
tanto pessoas comuns como incomuns que, em determinados momentos, erram. Em
alguns momentos, gravemente. Não são inocentes, tampouco bandidos. O fato de
alguém ser capaz de agir de forma virtuosa e, ao mesmo tempo, praticar atos
ilegais, dificulta a síntese. Assim como não se compreende que um criminoso
comum possa ter um gesto de grandeza moral. Neste aspecto estimamos a cobertura noticiosa sobre a política no Brasil lida
com exemplos todo o tempo. Os textos não tratam da ambiguidade e das
contradições que tecem o espaço público. O sentido da maioria dos comentários
na crônica política brota como algo resolvido, no espaço assim alargado onde
alimentamos nossas certezas. Por outro lado, o ajuste de contas que precisava
ser feito pelo PT como aprendizado e exemplo, sequer foi cogitado e o processo
de degradação moral na política brasileira só aumentou.
Antônio Scarcela Jorge.
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