Preços
dos itens mais comuns estão 8,1% mais caros e superam IPCA-15 de 5,85%
A inflação dos alimentos, que
atormentou o consumidor em boa parte de 2013, continua incomodando neste Natal
e deve ser um dos principais fatores para segurar as vendas de fim de ano.
Também a desaceleração do crédito, a alta dos juros e a maior cautela do
brasileiro para assumir novas dívidas podem atrapalhar os negócios.
Entidades ligadas ao comércio
projetam crescimento moderado do volume de vendas neste Natal, entre 3% e 5%.
Se essas estimativas se confirmarem, será o menor avanço de vendas em quase dez
anos, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Três pesquisas feitas por
instituições diferentes - Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fecomércio-SP e CNC -
apontam para a mesma direção: os preços dos alimentos para a ceia de Natal
superam de longe a inflação de 5,85% acumulada neste ano até dezembro, segundo
o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) - 15, que é uma prévia da inflação
oficial, o IPCA.
De acordo com a FGV, os preços
dos itens mais frequentes na ceia de Natal estão em média 8,1% mais altos este
ano do que no Natal de 2012 e acima da inflação acumulada em 2013, medida pelo
Índice de Preços ao Consumidor (IPC-10), que foi de 5,48% neste ano até os dez
primeiros dias de dezembro. Em contrapartida, o valor dos presentes, que
incluem bens duráveis, como eletroeletrônicos, e os semiduráveis, que englobam
os artigos de vestuário, subiram menos: em média 3,78% de janeiro a dezembro,
perdendo para a inflação do período.
Os destaques de alta dos
alimentos foram a farinha de trigo e os panificados, entre os quais os
panetones. Esses dois itens ficaram 30,56% e 15,31% mais caros,
respectivamente. As frutas encareceram 15,41%; o frango, 10,28% e o lombo
suíno, 10,07%.
"O recorte da inflação dos
alimentos no Natal reproduz o que aconteceu com a inflação ao longo do ano e a
pressão dos preços dos alimentos é a que mais afeta o orçamento das
famílias", afirma o economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre)
da FGV, André Braz.
Ele destaca a valorização do
dólar em relação ao real como um dos fatores que pressionaram a alimentação no
domicílio. Em 12 meses até sexta-feira, o dólar subiu 15,5% em relação ao real.
Como exemplo de impacto do câmbio nos custos e nos preços dos alimentos, o
economista cita o caso das aves e dos suínos, alimentados com derivados de soja
e milho, commodities cotadas em dólar. No caso dos panificados, a influência do
câmbio ocorre porque o País não é autossuficiente em trigo. Por isso, ao
importar parte do grão, absorve a pressão do câmbio na farinha e derivados.
Além do câmbio, Braz destaca a
pressão nos preços dos alimentos advinda de problemas climáticos que afetam
oferta de produtos in natura, como fruta.
"O que está mais caro no
Natal deste ano é a ceia", afirma o economista-chefe, da CNC, Fábio
Bentes. Ele listou 90 produtos mais consumidos no Natal, cujos preços são
monitorados pelo IPCA-15 e constatou que seis de dez produtos que registraram
maiores altas neste mês em relação a dezembro de 2012 são alimentos. Só neste
mês, o grupo farinhas está com preços 19,8% maiores do que os registrados em
dezembro de 2012, seguido por leite e derivados (17,5%) e frutas (16,6%).
"A inflação dos alimentos é
o principal fator na queda do poder de consumo da população, especialmente
entre as classes emergentes C e D", diz o assessor econômico da FECOMÉRCIO-SP,
Fábio Pina. Ele pondera que o momento mais agudo de queda dos preços ficou para
trás. De toda forma, ele observa que a inflação, e principalmente a inflação
dos alimentos, freia a economia e o consumo. Para este Natal, a entidade
projeta alta de 3% e 4% sobre uma base fraca.
Concorrência. Enquanto o câmbio
atinge em cheio os preços dos alimentos, a sua influência na formação dos
preços perde força entre os artigos de vestuário e os eletroeletrônicos por
causa da forte concorrência de fabricantes e lojas e o próprio enfraquecimento
do crédito, que inibe as vendas de itens de maior valor.
A TV, por exemplo, que é uma
espécie de produto símbolo dos eletroeletrônicos, registra deflação nos preços
de 4,5% este ano, segundo a FGV. Nas contas da CNC, a queda em dezembro do
preço da TV é de 0,8% ante o mesmo mês de 2012.
Além da concorrência, Bentes
explica que, neste caso e de outros itens eletrônicos, o impacto de alta do
câmbio pode ter sido mais que compensado pela evolução tecnológica dos
produtos, que barateou o custo e o preço ao consumidor.
Fonte: O Estadão.
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