EDITORIAL
COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
O MAGNÂNIMO ESTADISTA.
Depois de 27 anos como preso
político, Nelson Mandela assumiu a presidência do seu país, evitou uma guerra
racial e um colapso econômico. Entrou na prisão como guerrilheiro e saiu como
pacifista. Mais do que um herói nacional, transformou-se num legítimo santo de
casa capaz de verdadeiros milagres. Mereceu a devoção e a idolatria de seus
conterrâneos. E mereceu, também, o prêmio Nobel da Paz, que lhe foi concedido
em 1993 como reconhecimento ao homem que sacrificou a própria liberdade para
promover a igualdade racial. Sua mensagem de fraternidade é digna dos maiores
filósofos da humanidade: “Um homem que tira a liberdade do outro é um
prisioneiro do ódio, ele está trancado atrás da barreira do preconceito e da
intolerância. O oprimido e o opressor, igualmente, têm sua humanidade roubada”. Antes de se transformar em referência e inspiração para o mundo, Mandela fez o
mais difícil: transformou-se a si próprio. De advogado e militante de um
movimento pacífico de defesa dos negros, ele virou ativista e líder de uma
organização armada quando o governo branco promoveu o Massacre de Sharperville,
em 1960. Perseguido e preso por sua militância passou por nova transformação
durante o seu prolongado encarceramento, saindo sem ódio nem desejo de
vingança. Tornou-se, então, uma liderança prudente e serena, mas também
determinada o suficiente para conduzir seu país a um estágio de prosperidade
que parecia impossível numa sociedade tão dividida. A África do Sul se uniu em
torno de Mandela. O próprio continente africano passou a reverenciar o homem
que ficou atrás das grades dos 44 aos 72 anos, transformando-se no preso
político mais importante do mundo, mobilizando a comunidade internacional por
sua soltura e, por fim, reconquistando a liberdade para promover eleições multirraciais
e livrar definitivamente a maioria negra da opressão. Mandela foi um estadista
inigualável. Mas, acima de tudo, foi um homem superior ao ódio, superior às
mesquinharias da política, superior às injustiças, superior à atrocidade da
desigualdade racial.
Antônio Scarcela Jorge.
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