RODRIGO JANOT REVELA 'BANDO DE ASSECLAS DE COLLOR'.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
afirmou que o senador Fernando Collor (PTB/AL) tinha um "bando de
asseclas" agindo na BR Distribuidora. Na denúncia que entregou ao Supremo
Tribunal Federal (STF) em 17 de dezembro contra o deputado Vander Loubet
(PT/MS), a quem acusa por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o procurador
descreve em 199 páginas o esquema de corrupção instalado na subsidiária da
Petrobrás.
Janot destaca que a BR foi controlada por dois grupos
políticos, um do PT, outro do PTB - este sob o comando de Collor, o outro de
Loubet.
"O grupo do deputado Vander Loubet era distinto
do bando de asseclas do senador Fernando Affonso Collor de Mello, mas os dois
grupos agiam de modo conexo", assinala Rodrigo Janot.
O procurador registra que os grupos de Collor e Loubet
tinham como elos o empresário Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos, ex-ministro
na gestão do então presidente Collor (1990/1992) e o doleiro Alberto Youssef,
réu confesso e delator da Operação Lava Jato.
Na avaliação de Janot, o petista
e o petebista formaram "uma grande, complexa e estruturada
quadrilha".
Segundo o procurador-geral, as "investigações
realizadas no Inquérito 3883/DF conduziram à identificação de uma complexa
organização criminosa em atuação no âmbito da BR Distribuidora".
Rodrigo Janot é enfático: "O esquema de desvio de
recursos públicos, corrupção e lavagem de dinheiro referente à Petrobras
Distribuidora tinha como operador exatamente Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni
Ramos, que atuava principalmente em favor de seu amigo, Fernando Collor de
Mello, senador pelo PTB de Alagoas.
Isso ocorreu essencialmente em razão da
influência, sobre a sociedade de economia mista em questão, do Partido
Trabalhista Brasileiro, notadamente de seu senador pelo Estado de Alagoas,
Fernando Collor, bem como de seu amigo pessoal e "operador
particular", Pedro Paulo Leoni."
O procurador aponta categoricamente para o
envolvimento de Loubet. "As investigações do Inquérito 3990/DF
evidenciaram que, para que o grupo criminoso em questão atuasse, era necessário
o repasse de valores ilícitos para o deputado federal Vander Luís dos Santos
Loubet, em função da ascendência que o Partido dos Trabalhadores exercia sobre
parte da Petrobrás Distribuidora S/A.
O parlamentar, em conjunto com seus auxiliares,
acabou aderindo à organização criminosa preordenada à prática de crimes de
peculato, de corrupção ativa e passiva e de lavagem de dinheiro no âmbito da BR
Distribuidora."
Na denúncia contra Loubet, o procurador revela como
Collor e Loubet repartiram as quatro diretorias estratégicas da subsidiária da
Petrobrás.
A Diretoria de Redes de Postos de Serviço, ocupada por
Luiz Claudio Caseira Sanches entre 2009 e 2013 e por Luís Alves de Lima Filho
entre 2013 e 2015, era de indicação do PTB, "em especial do senador
Fernando Collor".
A Diretoria de Operações e Logística, ocupada por José
Zonis entre 2009 e 2013 e por Vilson Reichemback Silva entre 2013 e 2015,
também era de indicação do PTB, "em especial do senador Fernando
Collor".
A Diretoria de Mercado Consumidor, ocupada por Andurte
de Barros Duarte Filho entre 2009 e 2015, era de indicação do PT.
A Diretoria Financeira e de Serviços, ocupada por
Nestor Cerveró entre 2008 e 2014, também era de indicação do PT.
"Assim, as forças políticas que dominavam a
Petrobrás Distribuidora S/A eram o senador Fernando Collor, do PTB, e o Partido
dos Trabalhadores.
É nessa denúncia que o procurador-geral afirma que
Collor obteve do então presidente Lula "ascendência" sobre a BR
"em troca de apoio político à base governista no Congresso Nacional".
"O grande agente do senador Fernando Collor na BR
Distribuidora era Pedro Paulo Leoni Ramos", afirma Janot.
"Em nome de
Fernando Collor, Pedro Paulo Leoni realizou os principais contatos na sociedade
de economia mista, operacionalizou negócios em favor de empresas privadas,
cobrou vantagens indevidas e a dotou de estratégias de intermediação e
ocultação da origem e do destino da propina relacionada a tais contratos."
Núcleos.
O procurador-geral da República destaca que o esquema
de corrupção instalado na BR é similar ao relacionado à Petrobras, com atuação
simultânea de quatro núcleos: administrativo, econômico, financeiro e político
- este "formado tanto pelos parlamentares responsáveis pela indicação e
manutenção em seus cargos dos diretores e funcionários de alto escalão da BR
Distribuidora que, sob orientação sua, principalmente por meio de seus
operadores, cometeram ilegalidades que beneficiaram empresas contratadas pela
sociedade de economia mista, como pelos auxiliares que colaboraram diretamente
para o recebimento de vantagens indevidas pelos políticos em questão, como
contrapartida pela viabilização do funcionamento do esquema".
Janot relata que o núcleo administrativo era composto
por diretores e funcionários de alto escalão da BR "que ocuparam seus
cargos por indicação político-partidária e que, nessa condição, praticaram
ilegalidades em contratos celebrados em beneficio de determinadas empresas,
conforme orientação direta ou indireta do parlamentar que os apadrinhara".
O núcleo econômico descreve o procurador, era formado
por empresas e empresários que celebraram contratos com a BR e foram
beneficiados pelas ilegalidades cometidas pelos diretores e funcionários de
alto escalão da sociedade de economia mista apadrinhada e que, em
contrapartida, pagaram vantagens indevidas aos parlamentares responsáveis pela
indicação e manutenção em seus cargos de apadrinhamento dos integrantes do
núcleo administrativo.
O financeiro era "formado por operadores e
intermediários que se encarregaram de articular os vários núcleos do grupo
criminoso e, particularmente, de receber as vantagens indevidas das empresas
beneficiadas e repassá-las aos parlamentares que viabilizavam o funcionamento
do esquema, fazendo tudo isso mediante estratégias de ocultação de sua origem
ilícita, através do uso de diversas empresas e pessoas, manipulando, sobretudo
dinheiro em espécie".
Segundo Rogério Marcolini, advogado do senador,
"Fernando Collor não é acusado na referida denúncia, não é parte no
mencionado processo, e, portanto, não comentará as conjecturas e especulações
do Dr. Rodrigo Janot".
A assessoria de Vander Loubet informou que o deputado
não iria comentar a acusação porque ainda não teve acesso à denúncia do
procurador-geral da República nem à delação do ex-diretor da Petrobrás Nestor
Cerveró.
Já a assessoria de imprensa de Pedro Paulo Leoni Ramos
disse que ele não vai se manifestar por não ter tido acesso ao teor da
denúncia.
Fonte: Portal O Estadão.
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