200 DIAS PARA OS JOGOS:
A OLIMPÍADA É UM BOM OU UM MAU NEGÓCIO PARA O BRASIL?
E em meio aos prognósticos de que a situação neste ano
não melhorará a BBC ouviu economistas e analistas para saber se os Jogos
poderão agravar ainda mais o cenário ou até trazer benefícios econômicos.
"Quando falamos sobre retorno econômico
financeiro, a conta parece não fechar em lugar nenhum do mundo", diz o
economista Juan Jensen, da 4E Consultoria e professor do Insper. Para ele, o
balanço financeiro dos Jogos é "deficitário".
"Com muita habilidade, você consegue tornar os
benefícios futuros maiores do que os custos, mas no Brasil normalmente a
tendência é sempre subestimar os custos e superestimar os benefícios."
O especialista em Gestão, Marketing e Direito no
Esporte da FGV Pedro Trengrouse, que foi consultor da ONU para a Copa, afirma
que os Jogos Olímpicos "são um bom negócio para o COI (Comitê Olímpico
Internacional), mas nem tanto para o país-sede.
"É preciso desmistificar essa idéia de que Jogos
Olímpicos têm o poder de transformar a realidade de uma cidade. Sem o
sacrifício do povo, é impossível fazer isso.
Por isso, quando se faz plebiscito
sobre sediar a Olimpíada, o povo diz que não, como aconteceu em Hamburgo,
Munique, Oslo. Ninguém quer pagar essa conta."
Sem o "lucro" imediato com o evento, a
melhor estratégia, segundo Jensen, é fazer das duas semanas de Jogos uma
"bela festa" para que isso contribua para a imagem do Rio de Janeiro
como destino turístico algo que pode gerar ganhos econômicos à cidade e ao país
no futuro.
"Para um país como o Brasil, que tem carência
social em muitas áreas, não parece ser racional usar o nosso dinheiro pra
sediar uma Olimpíada.
Mas já que a gente já se comprometeu e já gastou, tem que
fazer a melhor festa possível."
"O turismo pode ter um efeito positivo líquido.
Isso foi comprovado depois da Copa. E o turista que veio e gostou pode voltar
outras vezes.
Se for um evento bem feito, poderemos colher esses frutos
depois."
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, manifesta
otimismo, apesar da crise econômica e política do país e do caos do sistema de
saúde enfrentado pelo Estado do Estado do Rio de Janeiro.
Os custos, pelo
menos, não terão impacto discernível.
"Somado tudo que a prefeitura gastou em saúde e
educação, de 2009 até agora, incluindo 2016, são R$ 65 bilhões.
Em estádios, a
prefeitura do Rio gastou R$ 650 milhões nestes oito anos. Um por cento do que a
gente gastou em saúde e educação. Não há esse dilema", afirmou Paes.
Custos x benefícios.
Um dos grandes críticos do argumento de que sediar
grandes eventos esportivos traz benefícios para um país, o jornalista britânico
Simon Kelper co-autor do livro Soccernomics,
diz que são contestáveis até mesmo os ganhos no setor de turismo que os Jogos
Olímpicos ou a Copa do Mundo podem trazer.
"Isso sempre é dito."
Na Inglaterra, antes de
sediarmos a Euro copa de 1996, diziam que lugares como Sheffield iriam se
apresentar ao mundo e se tornar um destino turístico.
Mas isso não
aconteceu", afirmou.
"O fato de que houve algumas partidas de futebol
em Manaus durante a Copa, por exemplo:
Isso não parece ter tido um impacto
duradouro na visão das pessoas sobre aquela cidade."
Kelper reconheceu que o fato de sediar próxima
Olimpíada colocou o Rio de Janeiro sob holofotes internacionais, mas que isso
também pode ter um impacto negativo.
"É verdade, o país consegue mais publicidade, mas
pode ser publicidade negativa também.
Boa parte do que se fala sobre o Rio hoje
são coisas ruins, sobre a falta de segurança, transporte ruim, trânsito
caótico.
Então assim como pode ser positivo para o turismo, pode ser negativo
também."
Concluindo, o britânico afirmou que, do ponto de vista
econômico, os Jogos Olímpicos trazem sempre mais perdas do que ganhos.
"Acho que a Olimpíada nunca é um bom negócio para
praticamente nenhum país. Custa muito dinheiro e você acaba ficando com todas
essas instalações esportivas de que você não precisa.
O Brasil já teve essa
experiência com a Copa, quando construiu um monte de estádios que não são
usados, como Manaus e Natal."
"Vocês viram isso na Copa. Muitos dos turistas
eram argentinos, chilenos ou outros sul-americanos que foram ao Brasil de
carro, só por alguns dias, e depois foram embora.
Então o aspecto econômico dos
Jogos é muito fraco.
O COI não dá dinheiro nenhum para o país, mas leva tudo
embora depois."
Perspectiva.
Apesar dos gastos enormes para criar uma
infraestrutura para os Jogos, alguns analistas acreditam que seu grande
benefício pode estar no que fica para a cidade-sede.
O exemplo positivo sempre utilizado como
"modelo" para o Rio foram os Jogos de Barcelona em 1992.
À época, o
evento teve um orçamento bastante alto para os padrões, mas o legado deixado
para a cidade que hoje é um dos principais destinos turísticos do mundo é
citado até hoje.
O diretor do Centro de Estudos Olímpicos e do Esporte
da Universidade Autônoma de Barcelona, Emilio Fernández Peña, argumenta que a
Olimpíada pode ser um excelente negócio para um país se for vista como uma
"oportunidade de investimento".
Peña calculou que o custo de organizar o evento em si
– estádios, cerimônia de abertura e encerramento, segurança, etc – fica, em
média, em 15% ou 20% do orçamento.
"Os outros 80%, pela perspectiva européia,
são investidos em criar infraestrutura para a cidade, metrô, mobilidade urbana.
E isso vai ficar depois dos Jogos", reforçou.
O orçamento olímpico atual está em R$ 38,6 bilhões –
mais de R$ 10 bilhões acima do que foi planejado na candidatura que levou o Rio
de Janeiro a sediar os Jogos (à época, falava-se em um orçamento de R$ 25,9
bilhões).
Cerca de 60% desse valor, segundo a organização, é
destinado às obras de legado são mais de R$ 24 bilhões gastos em obras como a
de metrô que ligará a zona Sul à zona Oeste (onde fica o Parque Olímpico), a do
BRT, entre outras.
O estudioso de Barcelona, porém, ressalta que é
preciso não criar expectativas superestimadas para o legado olímpico no Rio.
"Os Jogos Olímpicos não produzem milagres. Isso é uma coisa que precisa
ficar clara.
Eles contribuem para melhorar o país, melhorar a imagem do país,
podem ser usados para melhorar infraestrutura esportiva. Mas não podem mudar
tudo."
Fonte: BBC Brasil.
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