COMENTÁRIO
Scarcela
Jorge
“MALUCO
BELEZA.”
Nobres:
Neste
emaranhado de contradições na área da política brasileira, tudo é esperado,
principalmente pelo mentor da ordinária corrupção do país, que se transformou
em agente da chacota. Por este aspecto é que firmamos a falta de conceito
(aliais – “falta tudo generadamente) sob a humildade, modéstia e autocontrole
não parecem ser palavras presentes no dicionário do ex-presidente Lula.
Quarta-feira passada em entrevista a blogueiros chapa-branca no instituto que
leva seu nome, Lula praticamente canonizou a si próprio: “Se tem uma coisa que
eu me orgulho, neste país, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu.
Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da
Igreja Católica, nem dentro da Igreja Evangélica. Pode ter igual, mas mais do
que eu, duvido”. Será que, passados alguns dias da espantosa afirmação,
compreendemos o alcance e as intenções de quem solta um desvario desses? Como
estamos tratando de Lula, todo cuidado é pouco e precisamos exclamar como a
principal personagem deste cenário. “Loucura, sim, mas tem seu método”. Dirá
alguém que circunstâncias extraordinárias exigem ações extraordinárias, e essa
afirmação exagerada de uma honestidade a toda prova só foi necessária porque o
cerco está se fechando sobre o até então intocável ex-presidente. Embora não
esteja sendo investigado na Lava Jato, Lula foi chamado a depor na Operação
Zelote (s), por causa das suspeitas que envolvem um de seus filhos, Luís
Cláudio, e das relações com o lobista Marcos Marcondes Machado, que foi preso,
acusado de operar em suposto esquema de compra de medidas provisórias. O
incômodo sentido por Lula com essas investigações aparentemente é maior que
qualquer outra inquietação do ex-presidente, que mesmo no auge do mensalão
parecia tranqüilo em sua estratégia, navegando do “não sei de nada” para o “fui
traído” e, finalmente, para o “isso nunca existiu”. Mas os tempos são outros e
o ex-presidente parece estar se preparando para uma batalha de comunicação mais
intensa. Além de proclamar a sua indubitável honestidade, Lula ainda quis posar
de defensor dos direitos humanos ao defender o manifesto dos penalistas que
advogam na Lava Jato: “Achei o manifesto pertinente, atualizado e acho que está
na hora de a sociedade brasileira acordar e exigir mais democracia, mais
direitos humanos.” Antes de Lula, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, já
havia defendido o manifesto. Parece claro que as defesas dos acusados no
petrolão, já sem esperança de conseguir anular os processos da Lava Jato nos
tribunais e se livrar das acusações de corrupção, resolveram investir em uma
campanha midiática “vitimista” para convencer a opinião pública de que as
garantias constitucionais estariam sendo violadas. É nessa canoa que Lula e Rui
Falcão embarcaram, embora ainda não seja possível saber para onde estão
remando. Se o plano é dar à militância argumentos para defender o partido e
seus principais nomes, é provável que essa meta seja alcançada. Basta ver quantos
petistas ainda aclamam os mensaleiros condenados como “guerreiros do povo
brasileiro” e acusam o STF de ter promovido, na época, “julgamento político” expressão
que já surgiu no caso do ex-tesoureiro João Vaccari Neto, preso pela Lava Jato.
Mas, se a intenção for a de sensibilizar a população a favor de si próprio, do
PT, ou mesmo a de evitar o impeachment da presidente Dilma, dificilmente a
estratégia surtirá efeito como, aliás, ocorreu no mesmíssimo mensalão. Quem viu
as grandes manifestações contra o PT em 2015 sabe que o discurso da vitimização
e da ofensa à ampla defesa já não cola mais. Ainda há uma terceira
possibilidade: com esse discurso de defesa dos direitos humanos e de que neste
momento “está muito mais difícil que na ditadura”, Lula pode estar acreditando
que pode influenciar no discernimento de algum dos ministros do STF, que
julgará eventuais réus da Lava Jato com foro privilegiado ou acabará analisando
recursos de condenados em instâncias inferiores – esta, sim, uma estratégia de
resultado imprevisível, ao contrário das outras duas. Certo é que, diante de
manifestações tão estapafúrdias de alguém que não dá ponto sem nó, poderia ser
a desesperança e a declínio de alguém que se diz líder das massas populares, o
que isso não é verdade.
Antônio Scarcela Jorge.
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