‘QUEM BATE PERDE'? CAMPANHA AGRESSIVA BENEFICIA QUEM AGRIDE, DIZ
ESTUDO.
“Integra
certa dose de “infâmia” ao eleitor”
A expressão se tornou uma espécie de mantra do
marketing político brasileiro, ao considerar que a campanha negativa prejudica
o candidato que ataca o chamado "efeito bumerangue".
Um novo livro mostra, no entanto, como a presidente
Dilma Rousseff teria jogado essa máxima por terra, ao vencer eleições sem
poupar ataques aos rivais.
O foco da pesquisa são os spots de TV, peças
publicitárias de curta duração (15, 30 ou 60 segundos) veiculadas no meio da
programação das redes, fora do horário eleitoral obrigatório.
E a conclusão é que, sim, quando testado e aplicado de
forma correta, o ataque traz dividendos ao candidato que opta pelo "jogo
sujo".
Após 2014 o staff da campanha de Dilma, sobretudo (o marqueteiro)
João Santana, perdeu o medo de usar campanha negativa dada à experiência de
2010, disse Pimentel Jr. à BBC Brasil.
Origem da campanha negativa.
O livro, baseado na tese de doutorado defendida pelo
cientista político na USP, concentra-se nos spots da campanha de 2010 e analisa
a reação de 1.780 eleitores de cinco cidades a uma amostra das peças, dez de
Dilma e dez de José Serra (PSDB).
Enquanto o tucano apostou em spots positivos, de
exaltação do candidato (63% do total no primeiro turno e 69% no segundo), a
petista reverteu a tendência na última etapa da disputa (79% de spots positivos
no primeiro turno e 44% no segundo turno).
Na fase decisiva, as peças negativas
representaram 42% dos spots de Dilma, contra 15% de Serra.
Os ataques de Dilma exploravam temas como supostas
contradições no discurso de Serra, falta de continuidade nos governos em que passou
supostas irregularidades na captação de recursos para campanha e privatizações
no governo Fernando Henrique Cardoso (e o episódio em que cogitou-se mudar o
nome da Petrobras para Petrobrax).
Ao analisar como os spots afetam os eleitores,
Pimentel Jr. usou um modelo que sugere que duas emoções ditam o comportamento
eleitoral: entusiasmo e ansiedade.
Enquanto o entusiasmo ativa sentimento de
engajamento, motivando o eleitor a votar em determinado candidato, a ansiedade
tem efeito contrário.
Os resultados comprovaram que a propaganda negativa
desperta mais ansiedade, e, portanto, menor vontade de votar no candidato
atacado.
"Mas os experimentos mostraram que esses pontos
negativos não possuem, necessariamente, efeito bumerangue. Ao contrário, eles
se mostraram mais eficientes para gerar ansiedade do que os spots positivos e
comparativos (de contraste entre candidato do spot e o rival) e, por conseqüência,
para diminuir a vontade de votar no candidato atacado", diz o cientista
político.
Mas como explicar a idéia, comum na literatura sobre
marketing político e confirmado na pesquisa, de que os eleitores não gostam de
propaganda negativa?
"A pesquisa mostra que não gostaram porque o
conteúdo da denúncia desagradou o eleitor, não o formato (negativo) do spot em
si", diz Pimentel Jr.
Mantendo a ofensiva.
Embora não tenha analisado a campanha de 2014 no
estudo, Pimentel Jr. diz acreditar que Dilma tenha utilizado mais ataques na
última eleição, algo que publicações da época tendem a comprovar.
Uma reportagem da Folha de São Paulo mostrou, por exemplo, que 86% dos spots de
Dilma até a metade do segundo turno traziam críticas a Aécio (que atacou em 44%
das peças).
Para o cientista político, os ataques da campanha do
PT também foram eficientes para conter o crescimento da candidatura de Marina
Silva (atual Rede, à época no PSB).
"O espaço necessário para revidar a campanha
negativa de Dilma eram os spots (pelo tempo reduzido no horário eleitoral), mas
ela (Marina) não conseguiu responder à altura, vitimizou-se e acabou menor do
que entrou na campanha.
Acho um erro que um candidato se vitime quando uma
campanha negativa ganha reverberação. Quando isso ocorre, a resposta precisa
ser um ataque também", afirma.
Cenário atual.
E é possível projetar os resultados do estudo ao
Brasil de 2016? O fato de Dilma ter estancado a queda na popularidade (a
reprovação ao governo caiu de 71% em agosto para 65% em dezembro, segundo o
Datafolha) mesmo sob ataques e críticas por meses a fio comprovaria, por
exemplo, uma hipótese oposta, a do "quem apanha ganha"?
Para Pimentel Jr., a lógica do marketing político não
se aplica nesse caso.
"O que causou esse estancamento foram fatores
políticos, como a queda da popularidade e legitimidade de Eduardo Cunha
(presidente da Câmara) para conduzir esse processo e a intervenção do STF
(Supremo Tribunal Federal) em ditar que o trâmite do impeachment deve passar
pelo Senado (o que favorece Dilma)", diz.
É preciso também lembrar, afirma o pesquisador, que a
propaganda seja no período eleitoral ou não possui efeito limitado para definir
a decisão de voto, mas o ataque tem seu lugar.
"Outras variáveis tanto ou mais importantes podem
jogar a favor ou contra (como popularidade e quadro econômico). Um governante
muito bem avaliado tem alta probabilidade de ser reeleito.
Se a campanha
adversária não atacar e mostrar problemas, é bem provável que perca. Campanha
negativa é a forma mais eficiente para alterar cenários desfavoráveis."
Fonte: BBC - Brasil.
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