PF APURA RELAÇÃO ENTRE CAÇAS E FILHO DE LULA.
O ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva: ex-presidente assegurou que nunca recebeu
"qualquer tipo de proposta indevida ou vantagem financeira".
Brasília - A Polícia Federal suspeita que os pagamentos a Luís Cláudio
Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, estejam relacionados à suposta compra de
medidas provisórias investigada pela Operação Zelotes, e também ao negócio “dos
caças suecos”. Gripen, da Saab, conduzido pela Força Aérea Brasileira e fechado
pelo governo federal na primeira gestão Dilma Rousseff.
Em depoimento à Polícia Federal no inquérito que apura
a suposta compra de MPs no governo federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva negou que tivesse ocorrido eventual "combinação" com
empresários para viabilizar normas de interesse de montadoras de veículos em
sua gestão. Disse ainda que, se tivesse ocorrido, isso seria "coisa de
bandido".
Em dez páginas de declarações aos investigadores da
Operação Zelotes, antecipadas ontem pelo estadão.com, o petista afirmou que não
foi avisado pelo filho, o empresário Luís Cláudio Lula da Silva, de que ele
havia sido contratado por R$ 2,5 milhões por um dos lobistas acusados de operar
esquema de lobby e corrupção para favorecer o setor automobilístico. No mesmo
termo, a PF indicou que há suspeitas de que os repasses a Luís Cláudio podem
também estar relacionados à compra de caças pela Aeronáutica.
Lula depôs à PF no dia 6 de janeiro, em Brasília, como
informante, em inquérito que apura suspeita de que os pagamentos a Luís Cláudio
têm relação com a edição das MPs. Os valores foram repassados entre 2014 e 2015
à LFT Marketing Esportivo, que pertence ao empresário, pela Marcondes e Mautoni
Empreendimentos, que tem como sócios os lobistas de montadoras Mauro Marcondes
Machado e sua mulher, Cristina Mautoni. Os dois estão presos.
Embora tenha afirmado que conhece o lobista desde a
década de 1970, Lula contou que não houve "qualquer contato" do filho
"quando da contratação" feita pela consultoria dele. O ex-presidente
sustentou que não tem qualquer tipo de relacionamento financeiro com a LFT e
que nunca indicou ou foi demandado a indicar "potenciais clientes ao seu
filho".
Acrescentou ainda não saber dizer quando Mauro Marcondes e sua
mulher conheceram Luís Cláudio.
Bandido.
O ex-presidente foi questionado pela PF sobre arquivo
encontrado no computador da empresa de Marcondes, no qual estavam registradas
as seguintes informações sobre a MP 512/2010, sob suspeita de ter sido
comprada.
"O declarante diz que "combinação",
nesse sentido pejorativo, é coisa de bandido e que não ocorreu", conforme
trecho do depoimento à PF.
O ex-presidente disse ter se reunido algumas vezes com
o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que levou o dirigente da Fiat na
América Latina Cledorvino Belini.
Disse que foram esclarecidos os benefícios da
instalação da fábrica da montadora em Pernambuco e, a partir daí, as discussões
transcorreram em setores técnicos dos ministérios.
O ex-presidente assegurou
que "nunca" recebeu "qualquer tipo de proposta indevida ou
vantagem financeira para que propusesse alguma medida provisória e que ninguém
teria coragem de lhe fazer uma proposta dessas".
Ele "fez questão de
registrar", conforme transcrição da PF, que não recebia lobistas e que
"tanto ele quanto seus parentes jamais exerceram lobby ou consultoria
empresarial".
Sobre as conferências que faz no Brasil e no exterior,
muitas pagas por empresas, alegou que são sempre em defesa do interesse
nacional, e que tomou como "decisão de honra" não interferir na
gestão do novo governo.
Caças.
A PF suspeita de que os pagamentos ao filho do
ex-presidente tenham relação não só com a edição das normas, mas também com a
compra dos caças suecos Gripen, da Saab, pela Força Aérea Brasileira (FAB).
Perguntado se os repasses a Luís Cláudio Lula da Silva foram "alguma
contraprestação por serviços prestados" pelo ex-presidente "à Saab
para que essa viesse a vencer a concorrência para a compra dos caças", Lula
respondeu que "nega veementemente e considera essa hipótese um absurdo, já
que nunca teve atuação relacionada a esse assunto".
O delegado Marlon Cajado também quis saber se os
valores pagos a Luís Cláudio seriam "em decorrência da elaboração de
medidas provisórias por ele, enquanto presidente, ou para influenciar em
vetos ou não vetos a emendas em medidas provisórias".
Lula afirmou que
considera essa hipótese "outro absurdo, uma vez que as medidas provisórias
seguiram todo o trâmite regular dentro do poder Executivo e foram aprovadas
pelas duas casas do Congresso Nacional".
O lobista Mauro Marcondes também foi representante do
grupo que controla a Saab. Documentos apreendidos pela PF, revelados pelo
Estado, indicam que ele fez gestões junto ao governo federal pela compra dos
caças.
Lula foi questionado sobre documentos apreendidos na
Marcondes e Mautoni que faziam menção a tratativas com o ex-presidente e o
Instituto Lula para favorecer a Saab.
Um deles citava uma "solicitação da
empresa sueca para que o ex-presidente levasse seu apoio à contratação da Saab
para a presidente Dilma".
O ex-presidente disse que "nunca recebeu ou
levou esse assunto ao conhecimento da presidente". E ressaltou que
"nunca discutiu com Dilma" sobre a contratação dos jatos para a
Aeronáutica.
Depoimento.
O ex-presidente prestaria novo depoimento à Zelotes na
segunda-feira, desta vez como testemunha arrolada por um dos réus do caso das
MPs, o lobista Alexandre Paes dos Santos, o APS. Mas conseguiu ser dispensado
ontem, após sua defesa apresentar uma petição ao juiz da 10ª Vara Federal em
Brasília, Vallisney de Souza Oliveira.
Na peça, seus advogados seus advogados argumentaram
que o ex-presidente já havia prestado depoimento sobre o caso à PF, não tendo
nada mais a acrescentar sobre o assunto. O advogado de APS foi consultado e
aceitou cancelar a audiência com Lula, o que foi deferido pelo magistrado.
"Referido depoimento responde de maneira clara a questionamentos feitos
pela autoridade policial", justificou a defesa de APS.
Nessa sexta, 22, a Justiça Federal começaria a ouvir
98 testemunhas de defesa do caso, mas a sessão foi adiada porque um dos 15 réus
não havia sido intimado. Por lei, é necessário convocar todos a participar.
Ninguém foi ouvido, mas houve bate-boca entre integrantes da defesa e da
acusação.
Fonte: Agência O Estadão.
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