João Batista
Pontes.
Todos sabemos que viver ou
sobreviver nas regiões semiáridas se torna, a cada ano, mais difícil. A
escassez de água e a degradação ambiental, com a crescente intensificação do
processo de desertificação - fenômenos originados pelas mudanças climáticas e
pela intervenção humana desordenada no meio ambiente – estão a agravar a
dramática situação das populações que habitam o semiárido brasileiro.
E o cenário que os pesquisadores
desenham para o futuro não é nada animador: na região da Caatinga, deverá
haver, nas próximas três décadas (portanto, até 2040), aumento de até 1ºC na
temperatura e decréscimo das chuvas, entre 10 e 20% (INPE, Painel Brasileiro de
Mudanças Climáticas e outros).
São previsões preocupantes e que
não parecem distantes da realidade, pelo que estamos vivenciando atualmente. O
que fazer para assegurar condições de permanência e de desenvolvimento das
populações humanas nessas regiões? Como assegurar a sustentabilidade da vida e
dos processos ecológicos?
Em primeiro lugar, transparece a
necessidade de se desenvolver uma readaptação do ser humano ao meio em que ele
vive uma verdadeira mudança cultural.
Recentemente conversei com alguns
educadores em Nova Russas – minha cidade natal, que se localiza em pleno
semiárido nordestino – e fiquei surpreso em saber que o currículo escolar ainda
não contemplava uma preocupação central na conscientização dos jovens em
relação à problemática do meio em que vivem. Isto depois de décadas que o
educador Paulo Freire tanto ter alertado sobre a necessidade cogente de a
educação conduzir o ser humano à compreensão do contexto em que ele vive –
cultural, político, ambiental etc.
E, penso que hoje essa orientação
educativa é essencial e deve ser adotada com urgência, notadamente para quem
habita regiões formadas por biomas tão frágeis, a exemplo da Caatinga. O ser
humano que aí vive precisa ser conscientizado de que a permanência de sua
cidade, que a sua vida e a de todos os seres vivos que com ele integram o bioma
dependem dos cuidados e das técnicas apropriadas que ele adotar no seu
relacionamento com o meio ambiente circundante – fauna, flora, água, solo etc.
E não se trata só do
desenvolvimento de uma cultura da economia de água, sem desconsiderar que esta
é a mais relevante. De fato, o crescente agravamento da falta de água deve
levar as pessoas a adotar uma nova forma de pensar, agir e usar esse recurso
natural essencial à vida, inclusive mudando seus hábitos e costumes. É
imprescindível que essa mudança ocorra em todos os aspectos envolvidos com os
recursos hídricos: gestão adequada das reservas disponíveis; uso racional, que
evite todas as formas de desperdício; desenvolvimento de práticas que
possibilitem o reaproveitamento; proteção dos mananciais; despoluição dos rios;
captação e armazenamento da água das chuvas etc.
A iniciativa de promover essa
mudança cultural é do poder público, a quem cabe à missão de cuidar dos
interesses coletivos. No entanto, todos os segmentos da sociedade devem dela
participar de forma ativa, notadamente as associações da sociedade civil e as
instituições de ensino de todos os níveis.
Aos educadores, de uma maneira
muito especial, cabe uma participação importante na formação dessa nova
cultura. Numa região com tanta escassez, a escola tem o dever de formar cidadãos
que saibam maximizar a utilidade dos recursos disponíveis, sejam os naturais
(água, solo, fauna, flora), sejam os patrimoniais, especialmente os públicos.
Saber usar adequadamente cada gota de água, cada palmo de terra agricultável;
cada árvore; cada centavo do dinheiro público; e preservar, proteger e
respeitar a vida, em todas as suas manifestações.
E atenção senhores
administradores públicos, parlamentares, educadores e líderes comunitários: não
esperem que pessoas de fora venham resolver esse grave problema. São vocês
mesmos que terão que enfrentá-lo, por meio de ações educativas voltadas à
conscientização de toda a coletividade quanto à necessidade inafastável de uma
nova forma de integração com o meio e de uso racional dos recursos disponíveis.
E isto exige mudanças na educação; formação de recursos humanos; e
desenvolvimento de técnicas apropriadas a essa nova mentalidade.
E não deixem para começar amanhã.
A mudança é urgente. A sua postergação poderá colocar em risco a sobrevivência
de todos os seres vivos e a permanência das próprias cidades na região.
*João Batista Pontes – novarrussense
Escritor – Geólogo – sociólogo - matemático –
bacharelando em direito.
– residente em Brasília DF.
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