OPERAÇÃO
LAVA JATO. PARA SUPLICY, MÉTODOS GUARDAM RELAÇÃO COM O CASO COLLOR.
O ex-senador petista está
elaborando livro onde fará um relato sobre seus 24 anos atuação no Senado.
Dentre os temas que trabalhará consta o caso Collor.
No melhor estilo show-man, o ex-senador e atual
secretário da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da prefeitura de São
Paulo, Eduardo Suplicy, esteve em Fortaleza quinta-feira (4) para participar no
anfiteatro do Dragão do Mar, do Fórum do Pensamento Crítico, promovido pela
Fundação Perseu Abramo. No debate com a secretária de Cidadania e Diversidade
Cultural do Ministério da Cultura, Ivana Bentes, que teve como questão base “O
sonho não acabou”, Suplicy arrancou risos da plateia, brincou com o público e
finalizou cantando “Blowin In The Wind”, de Bob Dylan. Foi aplaudido de pé.
Após a palestra, e de muito assédio para fotos e autógrafos, já por volta das
23 horas, conversou com O POVO nos camarins do Dragão.
O POVO - Senador,
comoo senhor vê o atual cenário político nacional?
Eduardo
Suplicy - Nós estamos passando por uma fase muito difícil
para o governo da presidenta Dilma. Mas avalio que ela vai conseguir superar
essas barreiras, tanto do ponto de vista político, quanto econômico e social.
OP - O que o
leva a considerar essa possibilidade?
ES - Primeiro, os valores pessoais da
presidenta, que a levaram a ser eleita por duas vezes, a tornam alguém
excepcional, que merece todo o nosso respeito e a confiança de que trata-se de
pessoa que não aceita, nem nunca aceitou qualquer procedimento desonesto, de
roubalheira, de quem por ventura tenha se utilizado de seus cargos em empresas
estatais ou no governo para enriquecerem de forma desonesta. Ela, inclusive,
através da Polícia Federal, que é o órgão que tem sido responsável pela
Operação Lava Jato, desvendou uma série de episódios da maior gravidade de
pessoas que se enriqueceram e desviaram recursos que em princípio estavam
preservados para a educação, saúde, melhoria das condições de vida da população
brasileira.
OP - O senhor
não vê então risco de impeachment ou renúncia?
ES - Apesar das diversas
manifestações que tentam sugerir a renúncia ou o impeachment, não há condições
objetivas e legais, que impeçam a continuação de seu mandato delegado pelo povo
brasileiro.
OP - Senador,
os fatos que têm vindo à tona envolvendo políticos e empresários importantes no
país chega a surpreender alguém como o senhor, a tanto tempo na política
brasileira?
ES - Eu fui convidado pela Editora
Saraiva para escrever um livro sobre os 24 anos que estive no Senado, desde
1991 até janeiro de 2015. E exatamente nas duas últimas semanas eu li todos os
pronunciamentos que fiz em 1991 e 1992. Assim como também li diversos artigos e
trabalhos relativos à CPI sobre as denúncias que foram formuladas pelo senhor
Pedro Collor de Melo, irmão do ex-presidente Collor, sobre como o senhor Paulo
César Cavalcante Farias se utilizava de sua condição de amigo do presidente,
para influenciar decisões para se enriquecer extraordinariamente, ao próprio
presidente da República e os seus parentes e amigos e pessoas a eles
relacionadas. Isto acabou sendo desvendado pelo trabalho da imprensa e da CPI
que trabalhou com muito esforço.
OP - O senhor
foi um dos senadores que acabou tendo atuação importante nesse episódio...
ES - Em maio de 1992, quando o senhor
Pedro Collor de Melo deu entrevista à Veja, que causou enorme impacto, eu, no
mesmo dia em que foi publicada, no sábado, telefonei para o senhor Pedro Collor
de Melo, que estava em São Paulo no hotel Maksoud, e pedi para conversar com
ele. Aceitou e fui visitá-lo. Telefonei para o então deputado federal José
Dirceu (PT/SP), que também estava estudando muito aquele assunto e fomos os
dois no quarto de Pedro Collor onde conversamos por cinco horas com ele.
OP - Qual a
lição que se tirou daquele episódio?
ES - Por que eu relembro aqueles
fatos? Porque ao observar, ler aquilo que tem sido objeto de denúncia na Lava
Jato, em todos os seus detalhes, em verdade, são métodos que guardam relação
com o que se passa hoje. Infelizmente, voltaram a acontecer no Brasil episódios
como aqueles. Portanto, não é que estejam ocorrendo pela primeira vez, mas é
importantíssimo que aprendamos com esses episódios para corrigir e evitar que
ocorram novamente.
OP - Senador,
o PT está no fundo do poço?
ES - O PT é uma grande organização.
São 1,7 milhão de filiados. O grande número dos petistas são pessoas
extremamente sérias e que acreditam nos objetivos de construir, por meio do
sistema democrático, uma nação justa e que possa crescer com participação
popular assegurando voz e vez à cidadania a todos os brasileiros. Eu e centenas
de petistas acreditamos nisso.
OP - Mas a
imagem do PT é muito ruim atualmente...
ES - Quando um companheiro dentro de
uma organização tão grande, ou mais do que um, comete erros, gravíssimos, é nossa
responsabilidade tomar as medidas para prevenir e corrigir os problemas.
Inclusive, lutando para que haja medidas como as de cercear contribuições de
pessoas jurídicas, combinadas com outros pontos, como a transparência em tempo
real das contribuições de qualquer natureza para as campanhas de qualquer
candidato.
OP - Mas só
isso não basta, senador?
ES - Além disso, é nosso dever dar o
exemplo de procedimentos sérios e corretos. Aqui no Ceará., nós hoje temos um
governador, o Camilo, que pelas informações que tenho tido é uma pessoa séria e
correta. O prefeito Fernando Haddad (São Paulo) é uma pessoa extremamente
séria. Acho que nós, em cada função que estivermos, temos que dar o exemplo de
transparência, correção, de seriedade de propósitos e ação.
OP - O senhor
falou do prefeito Haddad. Mas ele tem enfrentado muitos desgastes em seu
governo.
ES - Vamos dar exemplos: com respeito
aos corredores de ônibus, faixas exclusivas. Ele aumentou significativamente.
Muitas pessoas que primeiro ficaram preocupadas, agora reconhecem que muitos
que moram longe e andavam de ônibus de casa ao trabalho, levando uma hora e
meia, duas vezes por dia, estão fazendo o trajeto em metade do tempo. Isso está
sendo reconhecido. Muitas pessoas reclamaram das ciclovias. Mas quando
recentemente o prefeito abriu a avenida paulista com ciclovias no domingo, teve
multidão que foi aproveitar e reconheceu. O prefeito foi criticado quando
resolveu diminuir a velocidade máxima das marginais Pinheiro e Tietê. Passados
dois meses dessa medida, os jornais informam que caiu em pelo menos 25% os
acidentes e as mortes na marginal. Está se reconhecendo que muitas vidas que
teriam sido perdidas não o foram. Gradualmente começa a haver reconhecimento e
eu acredito que o Fernando Haddad vai concluir o mandato com avaliação positiva
e será um dos candidatos fortes a nova eleição. Claro que haverá adversários
fortes na disputa e a eleição à prefeitura de São Paulo está em aberto.
OP - A
senadora Marta Suplicy conversou com o senhor sobre a saída do PT?
ES - Preferiu
não me consultar. Mas sabe que se tivesse perguntado a mim, teria dito: “Olhe,
sabemos que no PT há problemas sérios, mas é importante que cada um de nós
procure corrigir esses erros, e onde estivermos devemos dar o exemplo”. Ela
poderia perfeitamente, já que expressou sua vontade de ser candidata a
prefeita, dentro do próprio PT, se inscrever como pré-candidata e disputar com
Fernando Haddad.
Fonte:
JORNAL O POVO. (E.T. - permitida a reprodução)
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