COMENTÁRIO.
Fábio Campos.
ATÉ PARA O PT, DILMA VIROU UM SUPLÍCIO.
Para onde se vira o olhar, a desolação. Não há alma
por estas paragens capaz de exprimir algum otimismo, uma saída, um caminho
minimamente seguro. Sempre muito pragmático, este ente com suas mãos visíveis e
invisíveis que aprendemos a chamar de “mercado”, reage à sua maneira.
Retrai-se, suspende investimentos, desemprega e enriquece oportunistas de
plantão. As reações do mercado respondem a estímulos. Parte deles vem da
política. O que se pode esperar a mais da presidente Dilma? Ninguém aposta um
tostão furado no futuro de seu Governo. A última inacreditável façanha partiu
do PT. O líder do partido na Câmara dos Deputados, Sibá Machado, reuniu sua
turma e alguns outros líderes na Casa para articular a pressão para que os
ministros da Fazenda, da Casa Civil e da Justiça caiam fora do Governo. Sibá
sugere o olho da rua para os três principais ministros da República. Dois
deles, petistas de ponta. Creiam. Um homem com tamanha desenvoltura só pode
estar se propondo a uma valsa à beira do abismo. Mas, em política, não há ponto
sem nó. Não se trata de suicídio. Políticos não se entregam a devaneios. Parece
mais um movimento que compõe um método. Mas, que método? Ora, carregar o
fracasso Dilma virou um suplício sem fim. Então, o melhor dos mundos para uma
parte do PT é que o Governo se esfarele de vez. Derreta. Quanto mais rápido,
melhor. A idéia é se desligar do fracasso, reunir o que resta da tropa e passar
a fazer dura oposição a quem assumir. No fim do túnel, a recandidatura Lula em
2018. Na tarde de sexta-feira, no site oficial do PT na internet, o presidente
do partido, Rui Falcão, reforçou a suspeita. O petista gravou convocação para
um inusitado ato: a favor de Dilma e contra a política econômica da presidente.
Esquizofrenia? Não, método. Sim, Sibá e Falcão encarnam uma articulação.
Pertencem ao mesmo grupo político que detém a hegemonia no PT. Para os
políticos, ser a favor ou contra o impeachment é um cálculo político. Cada ator
define sua posição de acordo com seus interesses. Nem sempre os mais nobres.
Para uns, a queda imediata é o melhor caminho. Para outros, a melhor opção é
deixar a presidente e seu partido feridos e moribundos, mas no poder. Até ao
ponto em que se tornem inviáveis para as próximas disputas políticas, claro. A
presidente Dilma parece determinada a se manter no Palácio. Até aqui, não
curvou o joelho, mas acusou os golpes no fígado. Tanto que se dedicou a ir ao
mercado da politicagem desqualificada, ofereceu cargos aos saqueadores e até
venceu uma ou outra batalha. Porém, sai sempre mais fraca das batalhas.
Inglórias batalhas. Em seu esforço pessoal, Dilma tem se dedicado a fazer
ligações para políticos. Coisa que nunca fez. Coisa que odeia fazer. A
presidente se violenta. Até quando suportará? Hoje, o petismo tem pouco apreço
pelo seu Governo. Não o defende. Os mais atentos, que eram sabedores do
desastre, preferiam ter perdido a eleição para que a bomba caísse do colo de
Aécio Neves. Aí sim, entoariam o coro: “Estão vendo como estávamos certos. Bem
que avisamos do que são capazes de fazer com o povo”. - Pois é. Nervosismo na
praça. O mundo político está mais ansioso do que nunca. É que o ex-deputado
federal Pedro Corrêa avança para conseguir emplacar a sua delação premiada. O
homem presidia o PP e participou de todas as negociações para partilhar o butim
da Petrobras e outras estatais. Corrêa, que se não fizer a delação pode passar
o resto de seus dias na clausura de uma penitenciária, é um condenado do
mensalão. Tem larga experiência no ramo e transitou livre pelo poder na era
Lula. O PP cresceu na sua época fruto da cooptação. Foi a sigla a receber levas
de partidos de oposição, como o DEM, interessadas em continuar fazendo o que
sempre fizeram: mamar nas generosas tetas do País. Já se sabe que a crise na
economia suga com fervor recursos dos estados e municípios. A insatisfação é
geral. A queda no FPM é gigantesca. É esse fundo que banca, por exemplo, 85%
das prefeituras do Ceará. - Os recursos do FPE, que são repassados aos Estados,
vêm caindo de forma célere. A presidente não tem o que oferecer aos prefeitos e
governadores. Os primeiros vão disputar as eleições do ano que vem. Anotem: os
prefeitos que são da base governista vão fazer tudo para se desvincular
politicamente de Dilma. É da natureza do jogo. A propósito, poucos repararam na
última visita presidencial a Fortaleza. Os potenciais papagaios de pirata
mantiveram distância segura e protocolar da presidente. - Não tem jeito: como a
realidade se impõe, as estruturas administrativas municipais e estaduais vão se
ajustar aos novos tempos de dinheiro curto. Com isso, outro tipo de
governabilidade terá que ser construída. A política medíocre e rastaquera de
simplesmente fatiar o Governo com cada partido que formou a aliança do vencedor
não terá como sobreviver. Melhor que seja cedo do que tarde demais. Quem não
fizer as mudanças corre o risco de se tornar administrador de massa falida que
apenas gera empregos e cargos para sustentar interesses políticos divorciados
dos maiores e melhores interesses da população.
*
Fábio Campos – é colunista do jornal O POVO.
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