segunda-feira, 28 de setembro de 2015

OPINIÃO DO COLUNISTA

COMENTÁRIO.

Fábio Campos.

ATÉ PARA O PT, DILMA VIROU UM SUPLÍCIO.


Para onde se vira o olhar, a desolação. Não há alma por estas paragens capaz de exprimir algum otimismo, uma saída, um caminho minimamente seguro. Sempre muito pragmático, este ente com suas mãos visíveis e invisíveis que aprendemos a chamar de “mercado”, reage à sua maneira. Retrai-se, suspende investimentos, desemprega e enriquece oportunistas de plantão. As reações do mercado respondem a estímulos. Parte deles vem da política. O que se pode esperar a mais da presidente Dilma? Ninguém aposta um tostão furado no futuro de seu Governo. A última inacreditável façanha partiu do PT. O líder do partido na Câmara dos Deputados, Sibá Machado, reuniu sua turma e alguns outros líderes na Casa para articular a pressão para que os ministros da Fazenda, da Casa Civil e da Justiça caiam fora do Governo. Sibá sugere o olho da rua para os três principais ministros da República. Dois deles, petistas de ponta. Creiam. Um homem com tamanha desenvoltura só pode estar se propondo a uma valsa à beira do abismo. Mas, em política, não há ponto sem nó. Não se trata de suicídio. Políticos não se entregam a devaneios. Parece mais um movimento que compõe um método. Mas, que método? Ora, carregar o fracasso Dilma virou um suplício sem fim. Então, o melhor dos mundos para uma parte do PT é que o Governo se esfarele de vez. Derreta. Quanto mais rápido, melhor. A idéia é se desligar do fracasso, reunir o que resta da tropa e passar a fazer dura oposição a quem assumir. No fim do túnel, a recandidatura Lula em 2018. Na tarde de sexta-feira, no site oficial do PT na internet, o presidente do partido, Rui Falcão, reforçou a suspeita. O petista gravou convocação para um inusitado ato: a favor de Dilma e contra a política econômica da presidente. Esquizofrenia? Não, método. Sim, Sibá e Falcão encarnam uma articulação. Pertencem ao mesmo grupo político que detém a hegemonia no PT. Para os políticos, ser a favor ou contra o impeachment é um cálculo político. Cada ator define sua posição de acordo com seus interesses. Nem sempre os mais nobres. Para uns, a queda imediata é o melhor caminho. Para outros, a melhor opção é deixar a presidente e seu partido feridos e moribundos, mas no poder. Até ao ponto em que se tornem inviáveis para as próximas disputas políticas, claro. A presidente Dilma parece determinada a se manter no Palácio. Até aqui, não curvou o joelho, mas acusou os golpes no fígado. Tanto que se dedicou a ir ao mercado da politicagem desqualificada, ofereceu cargos aos saqueadores e até venceu uma ou outra batalha. Porém, sai sempre mais fraca das batalhas. Inglórias batalhas. Em seu esforço pessoal, Dilma tem se dedicado a fazer ligações para políticos. Coisa que nunca fez. Coisa que odeia fazer. A presidente se violenta. Até quando suportará? Hoje, o petismo tem pouco apreço pelo seu Governo. Não o defende. Os mais atentos, que eram sabedores do desastre, preferiam ter perdido a eleição para que a bomba caísse do colo de Aécio Neves. Aí sim, entoariam o coro: “Estão vendo como estávamos certos. Bem que avisamos do que são capazes de fazer com o povo”. - Pois é. Nervosismo na praça. O mundo político está mais ansioso do que nunca. É que o ex-deputado federal Pedro Corrêa avança para conseguir emplacar a sua delação premiada. O homem presidia o PP e participou de todas as negociações para partilhar o butim da Petrobras e outras estatais. Corrêa, que se não fizer a delação pode passar o resto de seus dias na clausura de uma penitenciária, é um condenado do mensalão. Tem larga experiência no ramo e transitou livre pelo poder na era Lula. O PP cresceu na sua época fruto da cooptação. Foi a sigla a receber levas de partidos de oposição, como o DEM, interessadas em continuar fazendo o que sempre fizeram: mamar nas generosas tetas do País. Já se sabe que a crise na economia suga com fervor recursos dos estados e municípios. A insatisfação é geral. A queda no FPM é gigantesca. É esse fundo que banca, por exemplo, 85% das prefeituras do Ceará. - Os recursos do FPE, que são repassados aos Estados, vêm caindo de forma célere. A presidente não tem o que oferecer aos prefeitos e governadores. Os primeiros vão disputar as eleições do ano que vem. Anotem: os prefeitos que são da base governista vão fazer tudo para se desvincular politicamente de Dilma. É da natureza do jogo. A propósito, poucos repararam na última visita presidencial a Fortaleza. Os potenciais papagaios de pirata mantiveram distância segura e protocolar da presidente. - Não tem jeito: como a realidade se impõe, as estruturas administrativas municipais e estaduais vão se ajustar aos novos tempos de dinheiro curto. Com isso, outro tipo de governabilidade terá que ser construída. A política medíocre e rastaquera de simplesmente fatiar o Governo com cada partido que formou a aliança do vencedor não terá como sobreviver. Melhor que seja cedo do que tarde demais. Quem não fizer as mudanças corre o risco de se tornar administrador de massa falida que apenas gera empregos e cargos para sustentar interesses políticos divorciados dos maiores e melhores interesses da população.
* Fábio Campos – é colunista do jornal O POVO.

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