quinta-feira, 24 de setembro de 2015

COMENTÁRIO - HÉLIO GUNOVITZ

COMENTÁRIO.
Hélio Gunovitz.

COMEÇOU O FATIAMENTO DO LAVA JATO.

O Supremo Tribunal Federal (STF) acaba de desferir um golpe no andamento da Operação Lava Jato. Na votação de uma questão de ordem trazida a plenário pelo ministro Dias Toffoli (foto), ficou decidido o desmembramento de um inquérito em que a senadora Gleisi Hoffman é investigada. A investigação, por não ter relação com desvios da Petrobras, será acompanhada por Toffoli e não mais por Teori Zavascki, ministro encarregado de dar andamento aos processos da Lava Jato que implicam investigados com prerrogativa de foro no STF. Os demais investigados, também ficou decidido (contra os votos apenas dos ministros Gilmar Mendes, Celso de Mello e Luiz Roberto Barroso), estarão a cargo da Justiça Federal de São Paulo, e não mais da 13.a Vara da Justiça Federal de Curitiba, comandada pelo juiz Sérgio Moro. É incontestável a competência do STF para decidir a respeito do assunto. Também são incontestáveis as conseqüências dessa decisão. A partir de agora, está aberta a porta para o fatiamento da Lava Jato. É provável que vários inquéritos e denúncias deixem de ser feitos pela força-tarefa de procuradores e policiais federais montados no Paraná, capazes até agora de desbaratar uma quadrilha de desvio de recursos públicos numa dimensão jamais vista no Brasil. Está aberta, também, a porta para novas manobras, recursos e artimanhas jurídicas de investigados e réus para protelar ou anular julgamentos e o cumprimento das sentenças. O princípio usado pelos ministros para tomar a decisão seria correto, partindo do princípio de que os casos derivados da Lava Jato não têm mesmo conexão. Ocorre, porém, como sustentou o ministro Gilmar Mendes ao defender seu voto, que a Lava Jato começou a deslindar uma teia de proporções gigantescas, assestada em várias partes do estado brasileiro. Não apenas na Petrobras, mas também na Eletro nuclear, no ministério do Planejamento – origem de empréstimos fajutos à empresa de software Consist, sediada em São Paulo, de que Gleisi foi acusada de ser beneficiária, e onde mais a quadrilha formada por empreiteiras e corruptos tenha conseguido se enquistar. A teia da Lava Jato se estende desde a época do mensalão até as ramificações do petrolão, do eletrolão e de quantos aumentativos forem necessários para qualificar o desvio de dinheiro público. É um desafio descobrir todos os ramos de uma organização criminosa extensa como essa – montada, nas palavras de Gilmar, a partir do ministério da Casa Civil no governo Lula, dando cada passo de modo cauteloso, dentro da lei e sem avançar o sinal. Foi a competência ímpar do juiz Sérgio Moro para desempenhar essa tarefa que permitiu à Lava Jato chegar até onde chegou. Se for verdade que a investigação começou em Curitiba, ela se ramifica por todo país. Para enxergar o todo, é essencial haver uma visão central. A partir de agora, nas mãos de vários juízes, ficará prejudicada essa visão do todo. Ficará prejudicada a estratégia que permitiu a Moro enxergar dois ou três lances adiante no tabuleiro ao logo dos últimos dois anos. A Lava Jato está longe de ter acabado. Mas se tornou agora uma tarefa mais difícil, pois será preciso coordenar a ação de vários juízes e procuradores espalhados pelo Brasil. Os corruptos devem estar comemorando.

*Hélio Gunovitz – é jornalista.

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