A presidente Dilma Rousseff convocou na noite da
última sexta-feira (26) uma reunião de emergência com ministros, no Palácio da
Alvorada, e preparou a estratégia de defesa política para o agravamento da
crise após a delação premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa. O governo avalia
que perdeu totalmente o controle da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e
teme que a delação de Pessoa acirre o clima de confronto, mas guarda como
munição os nomes de adversários citados pelo empresário.
Dilma cobrou respostas rápidas dos ministros José
Eduardo Cardozo (Justiça) - que estava em agenda no Rio quando o escândalo veio
à tona -, Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social).
À noite, os três e o assessor especial Giles Azevedo foram chamados por ela
para a reunião no Alvorada, que durou duas horas.
No diagnóstico do governo, o depoimento de Pessoa é
mais uma pedra no caminho de Dilma, joga luz sobre o financiamento das
campanhas do PT e pode ressuscitar a bandeira do impeachment.
Se isso ocorrer, porém, o Palácio do Planalto já tem o
roteiro traçado para o contra-ataque. Ministros vão lembrar que o empresário
apresentou uma lista "suprapartidária" de doações. De acordo com
reportagem da revista Veja, Pessoa disse que também repassou recursos para
campanhas dos senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), Fernando Collor (PTB),
Gim Argello (PTB), Edison Lobão (PMDB), Ciro Nogueira (PP) e Benedito de Lira
(PP), além de dinheiro para deputados de outros partidos.
Aloizio Mercadante é, hoje, o ministro mais forte de
Dilma e Edinho foi o tesoureiro do comitê da reeleição da presidente, no ano
passado. Os dois garantem que as doações recebidas foram legais e registradas
no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas o governo admite não saber o que vem
pela frente nas investigações.
A nova turbulência ocorre num momento delicado, no
auge do distanciamento entre Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
o PT. Além disso, o executivo Marcelo Odebrecht, dono da construtora Odebrecht
e também preso, tem ligações com Lula, o que provoca ainda mais apreensão no
Planalto.
"Não há saída individual. O problema não é o PT,
não é a Dilma. O problema é que querem criminalizar o Lula e nos
destruir", disse o ex-presidente, falando na terceira pessoa. Lula estará
na segunda-feira em Brasília, para se reunir com deputados e senadores do PT.
O depoimento de Pessoa causou tanta tensão no Planalto
que, ao longo do dia, Dilma acionou várias vezes ministros e advogados. Pediu
também para emissários conversarem com a equipe do ministro do Supremo Tribunal
Federal Teori Zavascki, que homologou a delação premiada de Pessoa.
Nos bastidores, interlocutores da presidente
compararam a nova crise a uma batalha sem fim. "É como se estivéssemos
numa guerra e não conseguíssemos nem contabilizar os mortos para
enterrar", disse um ministro ao Estado, sob a condição de anonimato.
Fonte: Agência Brasil.
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