COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
O CHEFÃO OPORTUNISTA.
O Brasil sempre
foi assim com o ímpeto da bajulação é o esteio do imperativo medíocre de um
povo que estima este “malefício” tão presente em nossos dias. Há pouco tempo
quem ouvia uma frase tão a gosto do “adula”. - “Dilma é Lula. Lula é Dilma.”- A
frase esteve na boca da militância por muito tempo, deixando clara a identificação
profunda entre criador e criatura. Mas ultimamente o ex-presidente não gosta
muito de relembrar o bordão, a julgar por declarações recentes de Lula, tanto
em um encontro com líderes religiosos chapa-branca, quanto em um evento no
Instituto Lula. Movimento, claro, guiado pela esperteza política e pelo
oportunismo. Diante de padres e outros líderes religiosos, na quinta-feira
passada, dia 18, Lula fez o papel de penitente arrependido. Como num
confessionário não fica bem elencar apenas os pecados alheios, o ex-presidente
até deixou escapar um “eu estou no volume morto”; mas, fiel à convicção de que
é um homem imaculado (como havia dito em Roma, nos funerais de João Paulo II,
em 2005), passou logo a desfiar um rosário de críticas à sua sucessora. Dilma é
teimosa. Dilma não ouve Lula. Dilma não viaja. Dilma não fala. Dilma não dá
boas notícias. Dilma perdeu a conexão com os movimentos sociais. Dilma não abraça
não pega na mão das pessoas. Dilma só recebe gente grã-fina. A ladainha lulista
não tinha fim, e o ex-presidente era muito bem acolitado pelo ex-ministro
Gilberto Carvalho, a quem cabia dizer o amém a todas as reclamações de Lula. Poucos
dias depois, no Instituto Lula, o ex-presidente falou de improviso em um dos
eventos que participou e voltou a disparar críticas, desta vez contra o próprio
partido, o PT. Os petistas “perderam a utopia”, só se preocupam com os cargos e
com a próxima eleição. “Não sei se o defeito é nosso ou se é do governo”,
afirmou, usando aquele “nós” não como plural majestático, mas como tentativa
retórica de criar empatia ao se incluir entre os que teriam “perdido a utopia” uma
culpa que certamente Lula não crê carregar. Diante do caos, Lula finge que não
é com ele. O ex-presidente aposta na memória fraca do petista e do brasileiro. Claro,
trata-se de um navio fácil de abandonar. A popularidade de Dilma está em níveis
alarmantemente baixos, independentemente de classe social, escolaridade e
região. Até em redutos históricos do petismo o apoio a Dilma está minguando. O
país está estagnado, e o próprio Banco Central já fala em queda de 1% no PIB em
2015, conjugada com inflação de 9%. O desemprego, que é praticamente o último
indicador a se mover em cenários de crise, está subindo. A indignação popular,
no entanto, não se concentra apenas em Dilma, mas no PT como um todo. Vários
membros da cúpula do partido ou já foram condenados judicialmente, ou estão no
centro de diversas acusações de corrupção. As duas manifestações antipetistas
convocadas para março e abril levaram às ruas muito mais gente do que o petismo
já conseguiu reunir. Diante disso tudo, Lula finge que não é com ele. O
ex-presidente aposta na memória fraca do petista e do brasileiro. Mas como
ignorar que foi logo no início de seu governo que se tramou o mensalão? O
esquema foi um verdadeiro golpe na democracia, como definiram ministros do
Supremo Tribunal Federal, ao violar a independência entre poderes com a compra
de apoio legislativo. E, fechada aquela torneira, abriu-se outra, a do Petrolão,
ainda durante o seu mandato. Como esquecer que Dilma Rousseff foi à escolha
pessoal de Lula para sua sucessão (até porque as alternativas anteriores
estavam todas enroladas com denúncias mil)? E seria injusto culpar apenas Dilma
Rousseff pela crise econômica atual. Se em seu primeiro mandato Lula manteve a
política econômica de Fernando Henrique Cardoso, o que permitiu ao país
aproveitar um bom momento da economia global, no segundo mandato do
ex-presidente o tripé macroeconômico foi abandonado e substituído pela gastança
sem freios, pela escolha de campeões nacionais, pela contabilidade criativa,
estratégias executadas por Guido Mantega, uma das “heranças malditas” que Dilma
recebeu de seu mentor. Em outras palavras, foi Lula quem criou todas as
condições que levaram à situação atual, em que Dilma e seu partido caíram no
completo descrédito. Mas o ex-presidente, agora, pensa em sua sobrevivência
política buscando distância daquilo que criou. Banca o santo e arroga-se o
papel de “consciência” de Dilma e do PT, que só estão no buraco em que estão
porque não ouviram seus sapientíssimos conselhos. Resta saber quem está
disposto a comprar esse discurso oportunista. “A maioria daqueles que se dizem
“lulistas” e “excelentemente” governistas já começam a sair para aportar em
outras “plagas” visando manter as suas sobrevivências no esteio profissional da
política.
Antônio Scarcela Jorge.
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