COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
DEFORMIDADE
DO CONGRESSO.
Nobres:
A referência brasileira por naturalidade incontestavelmente
corriqueira encontrar representantes dos “báratros” nas legislaturas. Afinal,
se o obscurantismo é fenômeno social e a representação política assegura
proporcionalidade, então um grupo de parlamentares oferecerá a era pretérita à
atualidade que ela possui no Brasil. (Assembléias e Câmaras é um conjunto que
segue a retórica). Pois bem! O Congresso Nacional é um espelho distorcido
do país; distorcido pelo financiamento das empresas às campanhas, o que
estimula a seleção de uma pilantragem, mas, ainda assim, um espelho. A novidade
que estamos presenciando é que a turma do “é dando que se recebe” não ocupa
mais a sala do cafezinho. A eleição de Eduardo Cunha para a presidência da
Câmara foi à emancipação do “baixo clero”. Se fosse apenas à tintura acaju, o
anel de formatura e o cinto com fivela country, tudo bem. O problema é que a
promoção da turma trouxe para a ribalta o fundamentalismo religioso, a
misoginia, a homofobia, o populismo penal e o desprezo pela democracia, entre
outras maldades. O pacote envolve, ainda, uma dimensão de irresponsabilidade
política que não se conhecia. A sociedade civil e a imprensa têm acompanhado o
processo com indiferença. Há reações e denúncias aqui e ali, mas a atitude
geral é complacente. Tudo se passa como se a dinâmica política em curso fosse
parte da paisagem. Não é. Ela expressa, primeiro, a ausência de uma identidade
política de esquerda no Brasil. A desconstrução moral do PT e sua inclinação
pelo cinismo “limparam o terreno” para a bolsonarização da direita brasileira.
O que era vergonha, agora é distinção. Os mesmos que apoiaram a ditadura e que,
depois, se fantasiaram de liberais, sentem-se, hoje, à vontade para impor uma
agenda de retrocessos que, se não for barrada, nos levará à revogação da Lei
Áurea. Ao mesmo tempo, a emergência da estupidez como uma alternativa política
no Brasil resulta da colonização das emissoras de rádio e TV por um discurso
protofascista que, há décadas, deforma o caráter do público, insuflando-lhe o
ódio e a ignorância, com a cumplicidade do governo federal e em flagrante
violação ao inciso I do art. 221 da CF, que determina que a programação deva
dar “preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e
informativas”. O mesmo poder concedente, aliás, assiste impávido, à sublocação
da programação televisiva para exorcistas, criacionistas e mercadores da fé, em
desrespeito ao princípio da laicidade. Princípios? Bem, este é um momento onde
se vê o que ocorre quando a política se aparta totalmente deles. Corrupção, fé,
religiosidade e fundamentalismo contraditoriamente prognosticado entre os “combates”
desta natureza.
Antônio
Scarcela Jorge.
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