segunda-feira, 22 de junho de 2015

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 2015

COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge.

DEFORMIDADE DO CONGRESSO.

Nobres:
A referência brasileira por naturalidade incontestavelmente corriqueira encontrar representantes dos “báratros” nas legislaturas. Afinal, se o obscurantismo é fenômeno social e a representação política assegura proporcionalidade, então um grupo de parlamentares oferecerá a era pretérita à atualidade que ela possui no Brasil. (Assembléias e Câmaras é um conjunto que segue a retórica).  Pois bem!   O Congresso Nacional é um espelho distorcido do país; distorcido pelo financiamento das empresas às campanhas, o que estimula a seleção de uma pilantragem, mas, ainda assim, um espelho. A novidade que estamos presenciando é que a turma do “é dando que se recebe” não ocupa mais a sala do cafezinho. A eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara foi à emancipação do “baixo clero”. Se fosse apenas à tintura acaju, o anel de formatura e o cinto com fivela country, tudo bem. O problema é que a promoção da turma trouxe para a ribalta o fundamentalismo religioso, a misoginia, a homofobia, o populismo penal e o desprezo pela democracia, entre outras maldades. O pacote envolve, ainda, uma dimensão de irresponsabilidade política que não se conhecia. A sociedade civil e a imprensa têm acompanhado o processo com indiferença. Há reações e denúncias aqui e ali, mas a atitude geral é complacente. Tudo se passa como se a dinâmica política em curso fosse parte da paisagem. Não é. Ela expressa, primeiro, a ausência de uma identidade política de esquerda no Brasil. A desconstrução moral do PT e sua inclinação pelo cinismo “limparam o terreno” para a bolsonarização da direita brasileira. O que era vergonha, agora é distinção. Os mesmos que apoiaram a ditadura e que, depois, se fantasiaram de liberais, sentem-se, hoje, à vontade para impor uma agenda de retrocessos que, se não for barrada, nos levará à revogação da Lei Áurea. Ao mesmo tempo, a emergência da estupidez como uma alternativa política no Brasil resulta da colonização das emissoras de rádio e TV por um discurso protofascista que, há décadas, deforma o caráter do público, insuflando-lhe o ódio e a ignorância, com a cumplicidade do governo federal e em flagrante violação ao inciso I do art. 221 da CF, que determina que a programação deva dar “preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”. O mesmo poder concedente, aliás, assiste impávido, à sublocação da programação televisiva para exorcistas, criacionistas e mercadores da fé, em desrespeito ao princípio da laicidade. Princípios? Bem, este é um momento onde se vê o que ocorre quando a política se aparta totalmente deles. Corrupção, fé, religiosidade e fundamentalismo contraditoriamente prognosticado entre os “combates” desta natureza.
Antônio Scarcela Jorge.

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