COM 25 ANOS DE CONGRESSO, BOLSONARO CONSEGUE APROVAR 1ª EMENDA;
"SOU DISCRIMINADO".
PEC
do deputado prevê a emissão de "recibos" junto ao voto nas urnas
eletrônicas.
"Alguns projetos eu dou para
(outro) deputado apresentar porque, se pintar meu nome, não vai para
frente", alega o deputado
Dida Sampaio.
Jair Bolsonaro (PP-RJ) acaba de completar 25 anos
ininterruptos como deputado federal em Brasília. O experiente parlamentar, na
noite de terça-feira (16), comemorou pela primeira vez na vida a aprovação
preliminar de uma PEC (Proposta Emenda Constitucional) de sua autoria.
"Já é muita coisa. Foi um gol aos 45 do segundo
tempo", argumenta o deputado, rindo, por telefone. Ele justifica a
aparente baixa produtividade: "Mais importante que aprovar um projeto é
evitar que um péssimo seja aprovado".
"Sou completamente discriminado porque eu sou um
homem de direita", afirma. "Alguns projetos eu dou para [outro]
deputado apresentar porque, se pintar meu nome, não vai para frente", ele
não informou quais teriam sido estes projetos. Por 433 votos a favor e 7
contra, a Câmara dos Deputados aprovou ontem uma PEC que prevê emissão de "recibos" junto ao voto nas urnas
eletrônicas.
Bolsonaro, autor do texto que precisa passar novamente
pela Câmara e depois pelo Senado para ser promulgado, diz que a proposta
permite que "qualquer presidente de partido" possa "requerer a
recontagem manual" dos votos.
Forte oposicionista do governo, Bolsonaro diz que as
urnas eletrônicas não oferecem segurança ou transparência para o eleitor.
"Com a nova emenda, a chance de fraude é
zero", afirma.
'Sou
temido'.
Recordista de votos (464,5 mil) no Rio de Janeiro nas
últimas eleições, Bolsonaro fala alto, não gosta de ser interrompido e recorre
mais de uma vez a metáforas esportivas durante o bate-papo com a BBC Brasil.
"Tão importante quanto fazer uma cesta de três
pontos é dar um toco lá atrás e evitar que o adversário faça uma cesta",
diz.
"Eu sou muito mais da defesa aqui do que do
ataque. E sou temido."
Ele ilustra a importância de sua atuação com a
campanha que realizou contra a aprovação de um kit didático contra a homofobia
que seria distribuída em 6.000 escolas de Ensino Médio, há quatro anos.
Após pressão de Bolsonaro, "católico
fervoroso" e da bancada evangélica, com quem costuma votar em bloco, a
presidente Dilma Rousseff cedeu e vetou o programa que havia sido idealizado
pelo Ministério da Educação.
"Eu segurei aqui na Câmara e consegui dar uma
guinada pela não aprovação", diz. "O kit gay é um material escolar homo
afetivo, com crianças se beijando, estimulando crianças a serem
homossexuais."
'Vítima'.
Segundo o deputado, a produção anual de emendas
constitucionais no Congresso se resume a "meia dúzia".
"Algumas são inócuas. Você sabia que no Brasil
está garantida na Constituição a sua felicidade? Isso é uma piada. Também
tomamos a cultura como bem social. Cultura como bem social? Pelo amor de
Deus!"
Ele se refere à "PEC da Felicidade", criada
por Cristovam Buarque em 2010. O texto, que previa "incluir o direito à
busca da Felicidade por cada indivíduo e pela sociedade", foi arquivado em
dezembro passado. A proposta não é inédita, e aparece de forma similar na
declaração de independência dos Estados Unidos.
Já a cultura como direito social dos brasileiros está
em um projeto de emenda proposto em 2007 pelo deputado Iran Barbosa (PT-SE). A
pauta também foi arquivada, em janeiro deste ano.
Afirmando ser alvo de perseguição, Bolsonaro diz que a
maioria dos congressistas não vota de acordo com a pauta, mas "pelo autor
do projeto".
"Eu muitas vezes represento sozinho uma oposição
maior que a de todos os outros partidos que se dizem oposição aqui
dentro", diz. Ele promete se candidatar à Presidência em 2018 e dá exemplos
de sua plataforma:
"Sou a favor de um currículo escolar voltado para
Física, Química e Biologia. Não para socialismo, para direitos humanos, para
homossexualidade."
Envolvido em polêmicas recorrentes, principalmente
relacionadas à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, o deputado
diz que não é "um deputado mariposa".
Ele criticou a Comissão da Verdade que, após dois anos
e sete meses de pesquisas, fez 29 recomendações sobre a punição de autores de
crimes no regime militar, a prevenção de abusos de natureza semelhante e a
abolição de práticas e estruturas remanescentes da época.
"Criaram uma Comissão da Verdade aqui para
caluniar as Forças Armadas. Que país faz isso? As Forças Armadas são
importantíssimas para o progresso econômico e democrático de uma nação."
O deputado, que se diz alvo de boicote na imprensa
brasileira, lamenta não ter sido citado "em nenhum jornal impresso"
como autor da emenda que prevê recibos de votação nas urnas eletrônicas.
Para ele, o "boicote" não reflete o
interesse da população em suas posições. "Estou muito bem perante a
opinião pública".
Para a divulgação de suas ideias, ele afirma depender
em grande parte da internet. Nas redes sociais, ele costuma curtir os próprios
posts.
Ele afirma participar de "uns 200 grupos" no
Whatsapp, popular aplicativo de mensagens instantâneas para celulares. "A
gente divulga e alcança praticamente todo mundo no Brasil e até fora."
Fonte: BBC Brasil.
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