sábado, 13 de junho de 2015

BLINDAGEM A BRASILEIRA


CPI DA PETROBRAS CONVOCA PRESIDENTE DO INSTITUTO LULA PARA EXPLICAR DOAÇÃO.


Paulo Okamotto terá de falar sobre doações da Camargo Corrêa à entidade.


Em uma sessão tensa, os integrantes da CPI da Petrobras aprovaram a convocação do presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para prestar esclarecimentos sobre doações de R$ 3 milhões feitas, entre 2011 e 2013, pela construtora Camargo Corrêa à entidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A empreiteira é uma das empresas suspeitas de integrar o esquema de corrupção que atuava na Petrobras.

Além dos R$ 3 milhões, os parlamentares querem que Okamotto explique o repasse de R$ 1,5 milhão da Camargo Corrêa para a empresa de palestras criada por Lula, a L.I.L.S. Palestras Eventos e Publicidade.

Segundo laudo da Polícia Federal, o Instituto Lula recebeu três doações da empreiteira de R$ 1 milhão cada uma, em 2011, 2012 e 2013. 


Os pagamentos à empresa de palestras de Lula foram no mesmo período: R$ 337,6 mil em 2011, R$ 815 mil em 2012, R$ 375,4 mil em 2013.


O Instituto Lula confirmou que a Lils recebeu pagamentos da Camargo Corrêa para palestras do ex-presidente. Também disse que as doações ao instituto servem para manutenção de atividades e que todas as doações foram declaradas e os impostos pagos.

A fim de barrar a análise do requerimento, deputados petistas lançaram mão de uma série de recursos previstos no regimento para tentar arrastar a sessão até o início das votações no plenário principal da Casa. Pelas regras, as comissões não podem deliberar enquanto houver votação no plenário.

A estratégia do PT, porém, foi bem-sucedida até certo momento. A votação de matérias no plenário chegou a ter início, impedindo a aprovação de qualquer requerimento na comissão, mas a sessão foi suspensa por vários minutos – justamente quando a CPI aproveitou para votar os requerimentos.

O deputado petista Afonso Florence (BA) reclamou de uma tentativa de partidarizar os trabalhos do colegiado.

No total, foram aprovados, de uma só vez, 140 requerimentos, incluindo a convocação de parentes do doleiro Alberto Youssef– incluindo filhas, irmã e esposa, a viúva do ex-deputado José Janene, Stael Fernanda Janene, além da mulher do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costae de José de Filippi Júnior, que foi tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010. Deverá ser chamado ainda para depor como testemunha Jorge Hage, ex-ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU).

A comissão aprovou ainda a realização de acareações entre o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, o ex-gerente Pedro Barusco e Youssef, que ainda serão marcadas.

Os deputados aprovaram a quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal de diversos suspeitos de envolvimento, incluindo o ex-ministro José Dirceu e a sua empresa de consultoria JD, Vaccari, Youssef e o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Os sigilos de Dirceu já haviam sido quebrados pela Justiça Federal no Paraná, mas a CPI conseguiu agora a quebra por um período maior, de 2005 até a data da aprovação do requerimento.

Após o fim da sessão, o relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), classificou a aprovação da convocação de Okamotto no mesmo dia em que tem início o 5º Congresso do PT, em Salvador, como uma tentativa de criar um fato político para constranger o partido.

Ele argumentou que o Instituto Lula não tem relação com a Petrobras e que, se fosse para investigar as doações de empreiteiras a entidades, que se apurasse também recursos pagos ao Instituto Millenium, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Para Luiz Sérgio, isso indica que a CPI se transformou em um “espetáculo de disputa política”.

O vice-presidente da comissão, Antonio Imbassahy (PSDB-BA), rebateu as críticas e disse que é importante que Okamotto esclareça à sociedade o repasse desses recursos por uma empreiteira investigada. “Vivemos uma democracia e queremos transparência”, disse.

Imbassahy, que assumiu a condução da votação com a saída no meio da sessão do presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), reconheceu que pode ter havido "sincronia" com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para que a votação ocorresse na CPI. "O presidente Eduardo Cunha tem dado uma dinâmica em votação no plenário e também na CPI temos uma dinâmica muito intensa, então, às vezes, tem que fazer algum tipo de sincronia para que uma não atrapalhe a outra, talvez tenha acontecido isso", disse.

Blindagem.

O deputado Ivan Valente queixou-se mais uma vez da ausência na pauta de requerimentos para convocar Júlio Camargo, executivo da Toyo Setal e um dos delatores da Lava Jato. Segundo depoimento do doleiro Alberto Youssef.

Camargo poderia confirmar o envolvimento de Cunha e do ex-ministro José Dirceu no esquema de corrupção da estatal.

Valente também queria que fosse examinado requerimento para ouvir o ex-policial Jayme de Oliveira, vulgo Jayme Careca, que, em depoimento disse ter entregado valores para Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como lobista do PMDB na Petrobras. “Vou entender como uma blindagem eterna feita pela CPI. Não podemos aceitar que pessoas que estão no foco da investigação não virem depor”, protestou Valente.

Parlamentares do PT, PPS e PSB também defenderam a votação desses requerimentos. Aliado próximo de Cunha, o presidente da comissão negou que haja qualquer tipo de blindagem. “Não vou admitir que eu seja mal julgado por defender uma pauta que a CPI tem que cumprir”, disse.
Fonte: Agência Brasil.

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