COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
Nobres:
Horas depois das prisões, na Suíça, de dignitários do
futebol do continente americano, a Confederação Brasileira de Futebol retirou
da fachada da sede o nome de José Maria Marin, que em imensas letras de aço
brilhavam dia e noite, como sol e luas. A “sede José Maria Marin” da CBF já não
tem nome!O próprio Marin é veterano bajulador do poder. Deputado estadual em
São Paulo durante a ditadura foi instigador da “punição exemplar” ao diretor de
notícias da TV Cultura, Vladimir Herzog, preso e morto sob tortura em 1975. Em
furiosos discursos na Assembléia, alegava que a emissora estatal não cobria
inaugurações de obras… Depois, quando o delegado Sérgio Fleury (que passou à
História como torturador-mor) foi condenado pela Justiça por executar presos
comuns, Marin foi seu grande defensor. O futebol nos apaixona, mas, também, nos
confunde e acovarda. Se a maré global não nos arrastar, ficamos inertes na
areia. Agora, nossos brios só vieram à luz após o FBI e a Procuradoria de
Justiça dos EUA desvendarem que a corrupção na FIFA envolvia, pelo menos, dois
brasileiros. O Senado, de um lado, a Polícia Federal e procurador-geral Rodrigo
Janot, de outro, entrarão no assunto, anunciou o próprio ministro da Justiça. Ironicamente,
outra vez os EUA ditam as regras. Se não fosse por eles, continuaríamos
desatentos e servis à CBF, tal qual seguimos sem saber o que houve por trás das
bilionárias obras da Copa do Mundo, realizadas sem licitação pelo tal RDC,
“regime diferenciado de contratação”, onde $ó há bon$ amigo$. O assalto à
Petrobras foi (ou é) tão profundo que viramos zumbis tontos, sem entender como
o trio PT-PMDB-PP organizou-se em quadrilha. A desfaçatez dos grandes
empresários envolvidos, confessando como corrompiam, supera a literatura
universal do absurdo do teatro de Ionesco e Becket ao romance de Kafka. Agora,
a República depende dos presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara
Federal, Eduardo Cunha, ambos do PMDB e sob suspeita nas fraudes da Petrobras.
A presidente Dilma entregou a articulação do governo ao vice Michel Temer (também
do PMDB) e saiu de cena. Em plena crise mundial, a ânsia da oposição se alia ao
sensacionalismo da imprensa e (querendo ou não) passa a idéia de caos. Assim,
perdemos a bússola. E, em vez de contar com os quatro pontos cardeais,
decidimos como se houvesse apenas abismos.
Antônio Scarcela Jorge.
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