domingo, 2 de novembro de 2014

APÓS AS ELEIÇÕES - LEME A DERIVA

 GOVERNO JÁ ELEGEU SEU INIMIGO: EDUARDO CUNHA

Primeiros passos do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) após o segundo turno da eleição mostraram que, embora oficialmente aliado ao governo da presidente Dilma Rousseff, ele caminha para liderar as maiores rebeliões contra o Planalto; por isso, o governo não tem dúvidas: precisa tratar Cunha como inimigo e trabalhar para derrotá-lo; a medida mais importante é impedir que ele chegue à Presidência da Câmara, sua maior aspiração; o vice-presidente Michel Temer (PMDB) já foi convocado para tentar esvaziar o apoio interno a Cunha; enquanto isso, o PT tenta se aproximar dos partidos independentes para fortalecer uma candidatura do partido; no governo, Dilma deve montar uma equipe mais política e dar mais espaço aos partidos aliados.

Os passos dados pelo deputado federal reeleito Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na primeira semana após o segundo turno da eleição mostraram que, embora oficialmente aliado ao governo da presidente Dilma Rousseff, ele caminha para liderar as maiores rebeliões contra o Planalto. Diante de tal cenário, o governo não tem dúvidas: precisa tratar Cunha como inimigo e trabalhar para derrotá-lo. Sendo assim, a medida mais importante é impedir que ele chegue à Presidência da Câmara, sua maior aspiração. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) já foi convocado para tentar esvaziar o apoio interno a Cunha, que, na última semana, foi reconduzido à liderança do PMDB na Câmara. Enquanto isso, o PT tenta se aproximar dos partidos independentes para fortalecer uma candidatura do partido.

Pelo acordo existente entre as duas maiores bancadas (PT com 70 deputados e PMDB com 66 parlamentares), o próximo biênio na Câmara deve ficar sob o comando dos petistas. Mas Cunha ignora isso. Embora a palavra de ordem seja manter o diálogo com o aliado PMDB, os petistas já decidiram que não abrirão mão de brigar pelo comando da Casa. Só fariam isso se um acordo garantisse ao partido a presidência do Senado, o que dificilmente ocorrerá uma vez que lá o PMDB tem 18 cadeiras e o PT, 12.

Apesar da possibilidade atual de bater chapa, os deputados petistas avaliam que o clima belicoso no Congresso se dá por amarguras eleitorais. Na avaliação de muitos deles, embora o PMDB tenha dado aval para que seu líder, Eduardo Cunha, dispute a presidência da Câmara na próxima legislatura, há uma divisão interna na sigla que pode minar a iniciativa. Alguns são aliados do vice-presidente Michel Temer e pró-governo, outros são próximos de Cunha e defendem a queda de braço com o Planalto.

Por isso, Temer foi chamado a operar contra o seu adversário interno de forma mais intensa. O vice-presidente convocou então uma reunião com o conselho político do seu partido para a próxima quarta-feira (5), no Palácio do Jaburu, para dialogar a respeito com os senadores, governadores e deputados federais eleitos. A partir desta conversa deve-se iniciar a tentativa de neutralizar Cunha.

Com discurso que muitas vezes mais lembra um opositor, Eduardo Cunha, na condição de presidente da Câmara, poderia representar muita dor de cabeça para a presidente. Além da pressão, tão comum aos peemedebistas, ele pode colocar em votação projetos indesejados pelo governo. Além disso, se ganhar o comando da Câmara com o apoio da oposição, ele naturalmente ficará mais inclinado às demandas dos adversário do PT do que aos interesses de Dilma.

Para evitar isto, o governo tentará criar um ambiente político mais favorável para si no Congresso. Neste cenário, o Planalto ainda analisa formas de atrair ou neutralizar os independentes. Para inviabilizar a candidatura de Eduardo Cunha à presidência da Câmara, o governo pode indicar um líder de governo do PMDB ou nomear um ministro peemedebista influente entre os parlamentares.

ESTRATÉGIAS

Como estratégia, o Planalto opera para fortalecer o triunvirato de ministros que mais dialogam com o Congresso. Dilma apostará em figuras com maior peso político, capazes de blindá-la às críticas, firmar acordos e ajudar a fazer o governo andar. Três são cotados para integrar o triunvirato: Aloizio Mercadante, que deve ficar na Casa Civil, o governador da Bahia em fim de mandato, Jaques Wagner, e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto.

A Esplanada voltará também a ter ministros de maior envergadura política, auxiliados por secretários-executivos técnicos. A estratégia auxiliará a conter disputas internas do PT e os humores dos principais partidos da base. Cotados para o primeiro escalão, Cid Gomes, Gilberto Kassab e Ciro Nogueira ajudariam a enquadrar PROS, PSD e PP. A fidelidade também será assegurada com cargos na Esplanada. Principal parceiro de campanha e maior ameaça na Câmara, o PMDB pretende levar pelo menos seis ministérios.

O governo também quer se aproximar mais das bancadas específicas, como a ruralista, a sindical e a empresarial. O Planalto quer na base entidades que comandam esses grupos. Ao acenar a Agricultura para Kátia Abreu (TO), presidente da confederação nacional do setor (CNA), agrada ao PMDB e ao agronegócio. Cotado para Ciência e Tecnologia, Armando Monteiro (PTB), ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), representaria o empresariado. Nomear um ministro da Fazenda do mercado também acalmaria os investidores.

Diante de um PMDB mais arredio, o governo pretende errar menos na relação com o parlamento para assim evitar derrotas e surpresas em votações fundamentais. Se Dilma cumprir aquilo que prometeu em seu primeiro discurso como presidente reeleita, de ampliar o diálogo, já terá meio caminho andado.
Fonte: Agência Brasil.


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