segunda-feira, 24 de outubro de 2016

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - SEGUNDA-FEIRA, 24 DE OUTUBRO DE 2016

SCARCELA JORGE







COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge

EM DEFESA DA VAQUEJADA CARECE ANALISAR.

Nobres:
A decisão do STF sobre a vaquejada evento tradicional da cultura e o turismo popular especialmente do nosso Estado do Ceará parece não perceber este avanço e se apresenta desatenta à realidade. O placar apertado (seis votos a favor da inconstitucionalidade e cinco contra) demonstrou que o tema precisa ser discutido de forma ampla, ouvindo os setores da sociedade em que vive a rotina dos eventos.  A vaquejada está enraizada na cultura brasileira e, especialmente, nordestina. Desde a sua origem, entre os séculos 17 e 18, até os dias de hoje, vem se aprimorando para tornar a prática segura, competitiva e responsável. Os avanços na última década foram visíveis e fundamentais para garantir a sobrevivência dos eventos, ampliando sua penetração e ganhando mais adeptos. Os animais, tanto o cavalo como o boi, não sofrem as atrocidades alegadas por aqueles que são contrários à tradição. Os bois só correm com um protetor de cauda, evitando a quebra ou amputação do membro. Nos currais, recebem água, ração e feno de qualidade. Não são açoitados. Não apanham. Não sofrem lesões. E toda vaquejada conta com pelo menos três veterinários para garantir a plena saúde dos animais. Quando é derrubado, o boi cai em um terreno de areia fofa que amortece a queda. Nossos vaqueiros não utilizam esporas, chicotes ou qualquer outro artefato que possa causar ferimentos ou estresse nos animais. E se um boi ou cavalo apresentar qualquer tipo de sangramento é imediatamente retirado da competição para ser tratado com atenção e zelo. Ao lado dos vaqueiros, eles são as estrelas das corridas e merecem todo respeito. Seria incoerente por parte dos praticantes promoverem qualquer dano à integridade física que prejudique a saúde destes animais. Para garantir a segurança dos competidores, o uso de capacete é obrigatório durante as corridas. Não nos restam dúvidas de que a evolução alcançada nas últimas décadas pode avançar, mas para tanto é fundamental a existência de um debate que leve em conta os aspectos sociais, financeiros e econômicos que envolvem as vaquejadas. Ir de encontro à vaquejada é ser contrário aos mais de 700 mil empregos, diretos e indiretos, que são gerados pela atividade em todo o país. Hoje, são aproximadamente quatro mil eventos espalhados pelo Brasil que construíram uma cadeia produtiva que movimenta milhões. Interromper este fluxo econômico no momento em que o desemprego e a seca afetam o Nordeste é condenar à miséria milhares de famílias brasileiras que tiram das corridas o seu sustento. O que antes era uma competição amadora entre os vaqueiros mais valentes, tornou-se um acontecimento com alto nível de profissionalização que não pode ser ignorado e com reflexo em diversos setores econômicos, gerador de uma rede de empregos que vai desde o pequeno comerciante que atua durante as festas até músicos contratados para animar os eventos, hoteleiros que vêem turistas ocupando seus estabelecimentos, veterinários, tratadores e criadores que investem no aperfeiçoamento genético de rebanhos e tropas. Adequando-se às pautas sociais recentes que condenam os maus tratos, as vaquejadas ampliam sua penetração e ganham mais adeptos. Defendemos o debate permanente com o objetivo de fortalecer ainda mais nossa cultura porque a possibilidade de qualificar uma tradição brasileira e secular como ilegal compromete a economia e ameaça a personalidade do vaqueiro, seus costumes e sua história. É apagar um pedaço da identidade nordestina, calar versos “gonzagueanos” que cantaram a vida do “bom vaqueiro nordestino” e rasgar chapéu de couro, perneira e gibão. É tornar clandestino um patrimônio nacional que por ação, reiteramos, é questão de revisão em amparar.
Antônio Scarcela Jorge.

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