DILMA
REBATE DIPLOMATA QUE LEVOU BOLIVIANO AO BRASIL
Presidente afirma que fuga representou risco de vida
para o senador Roger Pinto Molina e, irritada, responde ao diplomata brasileiro
por comparar situação na embaixada em La Paz a centro de repressão da ditadura.
Na primeira
declaração sobre o caso, a presidente Dilma Rousseff disse lamentar que o
senador boliviano Roger Pinto Molina tenha sido “submetido à insegurança”
durante sua fuga para o Brasil. E aproveitou para rebater o diplomata Eduardo
Saboia, responsável pela operação, por ter comparado a situação de Molina na
embaixada em La Paz com a de um preso político do DOI-Codi, antigo órgão de
repressão da ditadura militar. - Molina foi trazido ao país no último sábado
(24/08), de carro e de avião, em uma operação colocada em curso por Saboia,
então encarregada de negócios do Brasil na Bolívia. - Fez parte do comboio o
diplomata brasileiro – que disse ter agido sem o aval dos seus superiores –
Molina, além de fuzileiros navais e agentes federais. - “Não tem nenhum
fundamento acreditar que é possível que um governo, em qualquer país do mundo,
aceite submeter a pessoa que está sob asilo a risco de vida. Se nada aconteceu
não é a questão. Poderia ter acontecido”, afirmou Dilma após solenidade no
Congresso Nacional. - Para fazer a transferência do senador boliviano na
condição de asilado, o governo brasileiro precisaria receber de La Paz um
salvo-conduto. Sobre a questão, Dilma Rousseff afirmou que “o Brasil jamais
poderia aceitar, em momento algum, [uma transferência] sem salvo-conduto do
governo boliviano, não poderia colocar em risco a vida de uma pessoa que estava
sob sua guarda”.
ANTONIO
PATRIOTA: POLÊMICA LHE CUSTOU O CARGO
Na declaração,
Dilma também rebateu o comentário feito por Saboia, em que ele comparou o local
onde Molina estava sendo mantido às dependências de um dos centros de repressão
usados pelo Exército durante a ditadura no Brasil. - “O senador estava havia
452 dias sem tomar sol, sem receber visitas. Eu me sentia como se fosse o
carcereiro dele, como se eu estivesse no DOI-CODI”, disse Saboia. - Em
resposta, Dilma afirmou que são situações distintas: “Nós não estamos em
situação de exceção, não há nenhuma similaridade. Eu estive no DOI-CODI, eu sei
o que é o DOI-CODI, e asseguro a vocês: é tão distante o DOI-CODI da Embaixada
brasileira lá em La Paz como é distante o céu do inferno, literalmente isso”. -
Ela assegurou, ainda, que a Embaixada do Brasil em La Paz é “extremamente
confortável” e que o país se empenhava em conseguir o salvo-conduto, mas não
vinha obtendo êxito. - Na avaliação do cientista político e professor de
relações internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro Antonio Celso
Alves Pereira, o diplomata brasileiro precisaria ter esperado o salvo-conduto
para agir de acordo com o direito internacional. Apesar disso, ele reconhece
que mais de um ano sem resposta é um tempo longo para os padrões diplomáticos.
- “O normal seria conceder imediatamente, mas quando um país resolve perseguir
o indivíduo, criando dificuldade para ele poder sair do país, o Estado não
concede o asilo”, disse à DW. Segundo ele, o Brasil poderia ter levado o caso a
cortes internacionais para buscar uma solução.
DEFESA NEGA ENVOLVIMENTO
Como
justificativa para promover a transferência do senador boliviano ao Brasil, o
diplomata Eduardo Saboia alegou questões humanitárias, uma vez que Molina
estaria apresentando sinais de depressão, com tendências suicidas, uma saúde
frágil, além de estar confinado em um pequeno quarto, sem poder sair. - Em
comunicado oficial enviado à imprensa nesta terça, o Ministério da Defesa
confirmou a participação de dois militares na operação. O documento alega,
entretanto, que os fuzileiros foram convocados por Eduardo Saboia e atuaram com
o “objetivo exclusivo de garantir a segurança do diplomata brasileiro”. - A
nota reforça que “nenhuma autoridade brasileira, no âmbito do Ministério da
Defesa, foi consultada ou tomou conhecimento da viagem antes de o senhor Roger
Pinto ter ingressado em território brasileiro”. -
O Ministério das Relações
Exteriores também já havia negado saber da operação. No único posicionamento
oficial até agora, o Itamaraty disse ter sabido da entrada do senador boliviano
apenas quando ele já estava em solo brasileiro. O caso culminou na saída do
cargo do chanceler Antonio Patriota.
Fonte: Agência Brasil.
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