BARROSO: 'É QUESTIONÁVEL DIZER QUE MENSALÃO FOI
MAIOR ESCÂNDALO DO PAÍS'
BRASÍLIA
- Em sua estreia no julgamento do mensalão, o ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Luís Roberto Barroso afirmou que a corrupção não pode ser
politizada, descolando, desta forma, o esquema ocorrido em 2005 do PT.
"Não existe corrupção do PT, do PSDB ou do PMDB. Existe corrupção. Não há
corrupção melhor ou pior, dos 'nossos' ou dos 'deles'. Não há corrupção do bem.
A corrupção é um mal em si e não deve ser politizada", disse o ministro
Barroso em seu voto, tornando-se o destaque da sessão que retomou o julgamento
ao analisar recursos dos condenados. Ao embasar seu voto, Barroso comparou o
mensalão - inclusive os valores envolvidos - a outros escândalos de desvios de
recursos públicos. E afirmou que a lista de casos recentes de envolvimento de
políticos em esquemas de corrupção é uma consequência do modelo político
eleitoral brasileiro. O ministro será o relator do chamado "mensalão
mineiro", que atinge políticos do PSDB, no STF. Barroso destacou o rigor
do STF no caso. Ao ser sabatinado pelo Senado após sua indicação para uma vaga
no STF no fim de maio, o ministro já havia afirmado que o mensalão foi um
"ponto fora da curva", pois o Supremo "endureceu" a
jurisprudência ao analisar a ação penal. Ontem, Barroso retomou a polêmica:
"É no mínimo questionável a afirmação de se tratar do maior escândalo
político da história do País. Talvez o que se possa afirmar, sem margem de
erro, é que foi o mais investigado de todos, seja pelo Ministério Público, pelo
Polícia Federal ou pela imprensa. Assim como foi, também, o que teve a resposta
mais contundente do Poder Judiciário". - O ministro novato lembrou que a
estimativa de desvios no esquema do mensalão chegou a R$ 150 milhões. E nominou
outros casos recentes. Citou a CPI dos Anões do Orçamento, em 1993, com
"desvio bilionário" de recursos de emendas parlamentares, o caso dos
precatórios, de 1997, com "perda de alguns bilhões para a Fazenda
Pública", a construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, de
1999, com "desvios de muitas dezenas de milhões" e o escândalo do
Banestado, em 2003, com a "remessa fraudulenta para o exterior de mais de
R$ 2 bilhões".
Reforma
política.
A solução
para coibir a repetição de casos como esse seria, na visão de Barroso, a
aprovação de uma reforma política, proposta defendida pela presidente Dilma
Rousseff após as manifestações de rua em junho. "A imensa energia
jurisdicional despendida no julgamento da AP 470 (mensalão) terá sido em vão se
não forem tomadas providências urgentes de reforma do modelo político, tanto do
sistema eleitoral quanto do sistema partidário. Sem reforma política, tudo
continuará como sempre foi. A distinção será apenas entre os que foram pegos e
outros tantos que não foram", afirmou. - O plenário do STF permitiu aos
ministros que votaram pela absolvição de réus na primeira fase do julgamento do
mensalão analisar, nesta segunda fase, os recursos movidos por advogados contra
o cálculo das penas (o que pode ocorrer na análise dos embargos de declaração
ou nos infringentes). A decisão abre brecha para que a Corte reduza as punições
impostas aos 25 condenados por envolvimento no esquema, inclusive o ex-ministro
José Dirceu, condenado a 10 anos e 10 meses de prisão por corrupção ativa e
formação de quadrilha. - Nesta segunda fase, os ministros que absolveram réus
não poderão aplicar a pena livremente, mas interferir nos critérios que levaram
à punição. Ou seja, não poderão alterar a pena em seus votos, mas opinar sobre
agravantes ou atenuantes usados para o cálculo da mesma. A decisão teve como
pano de fundo discussão entre o presidente Joaquim Barbosa e o ministro Dias
Toffoli. No debate sobre a multa aplicada a Emerson Palmieri (tesoureiro do
PTB), o presidente disse que o voto do colega não poderia avançar ao mérito.
"Meu voto está numa camisa de força", ironizou Toffoli. "Vote de
maneira séria", disse Barbosa. "Presida de maneira séria"
revidou Toffoli.
Fonte: Agência Brasil.
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