COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.
O ACORDAR DA DEMOCRACIA.
Nobres:
Há
alguns momentos sentíamos uma inquietação, percebia jovens inertes, distantes
da realidade e passivos aos acontecimentos. Absortos em um mundo virtual e
gozando os prazeres do consumo desmedido. Voltamos para rememorar o final da
década de sessenta, eufórica de transformações socioculturais contestando um
mundo mergulhado na euforia do pós-guerra, quando a mecanização e a tecnologia
começavam a conquistar o cotidiano. Era o “AMERICAN
WAY OF LIFE” invadindo as casas nas diversas partes do globo. Naquela época,
que lembro em preto e branco, as ditaduras floresceram e o comunismo ganhou
força, com recrudescimento da guerra fria se transformando no drama da época.
Uma sociedade quadrada, careta e cheia de preconceitos, que contrastava com o
espírito que surgia, com anseios de mudança de uma nova geração de jovens
querendo transformar o mundo. As principais manifestações se deram nos aspectos
políticos e culturais, como os movimentos estudantis, os hippies, o rock and
roll, o teatro, o cinema novo, os grandes festivais da MPB. A arte
denunciando e formando opinião. Nos anos 1980 tivemos o “privilégio” de
vivenciar, mesmo distante do palco dos acontecimentos, onde esta pequena cidade
de Nova- Russas, encravada nos sertões do Ceará, “assistia” com certa indiferença o acordar da democracia no Brasil. Em um
período de grandes debates políticos e de mudanças, “dançávamos” ao som
contestador que cantava “que país é esse” e “Brasil mostra sua cara”. Todo País
assistindo e participando da campanha pelas Diretas já. Depois vieram a
Constituição de 1988, as eleições e a vitória da democracia. E, quando o País,
novamente, sentiu-se enganado, foi à rua com a cara pintada clamar pelo
impeachment. E quando acreditava em uma sociedade anestesiada, sentimos feliz
por ter nos enganados e estar, novamente, vivendo um momento histórico. Uma
multidão de jovens tomou conta das ruas para protestar e ocupar seu papel
contestador. E não são rebeldes sem causa, São cidadãos engajados por um futuro
diferente, reclamando justiça social, muito além dos centavos. Afinal, as
deficiências na saúde, na educação e na segurança contrastam com os gastos e
desmandos de um poder político que se apropria do Estado para defender
interesses de seus aliados em sua maioria corrupta. O alardeado legado da Copa,
de fato, vai ficar, mas não serão construções ou avenidas asfaltadas, mas, sim,
um espírito democrático fortalecido e revigorado.
Antônio Scarcela Jorge.
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